Maira Vasconcelos
Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).
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Pelas flores de outubro, por Maíra Vasconcelos

Pelas flores de outubro, por Maíra Vasconcelos

Hoje sei que todas as flores podem ser renovadas. Sempre depois de morrer. É como ter outra vida, olhar flores muito de perto. Os olhos se cansam tanto: é assim a observação de tudo aquilo que não somos e almejamos. Poderíamos aprender como flores a viver e morrer. Hoje sei que todas as flores podem ser renovadas. Elas. Nós ainda não amamos a vida, isso que é também saber estar na terra como fazem as pétalas. Mas não aprendemos com todas as flores. Ficamos menores e nos destruímos. Sempre com as mãos, sempre serão as mãos humanas o que mais longe estará da textura de toda flor. À destruição, sempre um pouco, sempre algo mais.

Seria melhor esperar morrer do que matar. Morrer é condição de. Matar é uma imposição que nenhuma flor coloca a outra. Mas nós pisamos, tantas vezes, além dos próprios pés. Pisamos nos pés, no caminho do outro e pelo outro: para destruir um pouco, sempre um pouco mais.

Hoje sei que todas as flores podem ser renovadas. E se quiséssemos o espelhar de flores. Mas não sabemos o significado de mudar os ares que se respira. Abafamos respiros, sempre mais, sempre um pouco mais. Estamos muito longe das flores, sempre mais. Hoje sei que todas as flores podem ser renovadas. Mas quão distante está tudo isso da vida do corpo humano na terra que se afunda de medo e covardia pela luta. Seria melhor esperar morrer do que matar.

Hoje sei que todas as flores podem ser renovadas. E pétalas e flores estarão sempre presentes como se o fracasso do corpo humano não pudesse ser esquecido. Olhamos a natureza das plantas e afirmamos o fracasso contido em um-passo-atrás-do-outro. Flores expõem as ruínas persistentes em todo ser. Flores se renovam demais. Enquanto quase não saímos do lugar. A falta de movimento ao viver o corpo que não quer flores, o corpo que não sabe flores, o corpo que se esmirra.

Hoje sei que todas as flores podem ser renovadas. Sempre depois de morrer. Sempre que se vive abertamente e que se espera, e que esperam todos, o fim, sem interrupções. Flores cuidam de cada passo de cada flor que esteja ao seu lado. Ainda não sabemos como flores. Seria melhor morrer do que matar.

 

Maira Vasconcelos

Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).

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