Urariano Mota
Escritor, jornalista. Autor de "A mais longa duração da juventude", "O filho renegado de Deus" e "Soledad no Recife". Também publicou o "Dicionário Amoroso do Recife".
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Soledad Barrett é anistiada

Soledad Barrett, cujo assassinato bárbaro foi um dos traumas da geração de socialistas em todo o Brasil, começa a receber justiça. Paulo Abrão, presidente da Comissão de Anistia fez o comunicado em 11 de dezembro:

“Neste momento, no ano em que faria 70 anos, Soledad Barret Viedma é declarada anistiada política brasileira post-mortem pela Comissão de Anistia. Militante da VPR, de nacionalidade paraguaia, estava grávida de Cabo Anselmo quando foi assassinada no Massacre de São Bento em 1973, por responsabilidade do próprio Anselmo. Seu corpo ainda está desaparecido e até hoje não foi expedida a sua certidão de óbito. Declarada oficialmente morta e desaparecida por responsabilidade do Estado brasileiro, Soledad agora é também anistiada brasileira por todas as perseguições que sofreu ainda em vida. Sua filha, Ñasaindy Barret de Araújo, recebe formalmente o Pedido de Desculpas do Estado brasileiro….”

Para recriá-la publiquei em 2009 o livro “Soledad no Recife”. Um trecho do livro me vem agora:

Eu a lembro em pé, de mãos contra a parede à espera do beijo. Digo em pé, de mãos contra a parede, e essa recordação me dói, por saber dela, meses depois na mesma posição. Por isso minha lembrança evita a dor, e voa para aquele instante da bela paraguaia à distância de meio braço de mim.

Os índios sabem por quê. Há um cântico de criança guarani que diz: “Têtã ovy rauy’i / Eikere xevy, eikere devy”, ou “Filha do paraíso azul / Diz, entra para mim”. Assim a senti e a vi, embora nada soubesse, naquela noite, que ela fosse paraguaia. Nem muito menos que ela cantasse, como soube depois, muito depois, cantos de acalanto guarani”

O cântico acima foi retirado deste magnífico CD de crianças guaranis, que me pareceram cantar em louvor e memória de Soledad Barrett:

https://www.youtube.com/watch?v=l469uaunv6A

Urariano Mota

Escritor, jornalista. Autor de "A mais longa duração da juventude", "O filho renegado de Deus" e "Soledad no Recife". Também publicou o "Dicionário Amoroso do Recife".

3 Comentários

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  1. episódio vergonhoso da nossa

    episódio vergonhoso da nossa história.  Moça linda nem gosto de pensar nos absurdos que deve ter passado. Cabo Anselmo está por aí… a pior espécie de criatura que pode existir….aquele  que traí seu semelhante sem sequer olhar para trás. Que usa da boa fé do próximo para entregá-los a morte.  Esse cara deveria estar preso.  Infelizmente ainda há muito por fazer.  Lembrando que até Africa do sul já puniu seus bárbaros.  Aqui…bem….aqui….

  2. Urariano,
    Bela homenagem. Como deve ser teu livro, pelo que nos permite antever o trecho que te veio à memória. É bom termos do que lembrar; recordar Soledad é manter vivo o valor que tem a liberdade.
    Feliz Natal e um próspero Ano Novo.
    Um Abraço.
    Anna.

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