A atualidade de “O Enigma de Andrômeda” em tempos de pandemia, por Wilson Ferreira

Um filme oportuno para ser revisto em meio a atual crise do COVID-19: “O Enigma de Andrômeda” (The Andromeda Strain, 1971), do mestre Robert Wise

A atualidade de “O Enigma de Andrômeda” em tempos de pandemia

Por Wilson Ferreira

Um filme oportuno para ser revisto em meio a atual crise do COVID-19: “O Enigma de Andrômeda” (The Andromeda Strain, 1971), do mestre Robert Wise (“O Dia Em Que a Terra Parou, 1951). Primeiro, por propor a hipótese da “panspermia”, cuja relação com a atual pandemia COVID-19 é sustentada por alguns cientistas – vida está presente em todo o universo e espalhada através de meteoros, cometas e poeira espacial. Segundo, pela suspeita de que armas biológicas seriam a alternativa para desequilibrar o empate nuclear durante a Guerra Fria. Um thriller científico assustador e esteticamente tão realista e preciso que esquecemos que estamos assistindo a uma obra de ficção. Um satélite espacial cai num pequeno vilarejo em uma região desértica do Arizona. Todos morrem de formas bizarras. O mistério é que sobrevivem apenas um bebê e um idoso. Quatro cientistas em um complexo subterrâneo correrão contra o tempo para descobrir a natureza desse vírus extraterrestre. E, principalmente, a cura.

Sexta-feira, 11 de outubro de 2019. Câmeras de vigilância capturam o momento em que um meteoro enorme iluminou o céu da cidade chinesa de Songyuan, transformando a noite em dia. Pouco menos de dois meses depois, eclode a epidemia do novo coronavírus em Wuhan, China.

Para o professor Chandra Wickramasinghe, do Centro de Astrobiologia de Buckingham no Reino Unido, isso foi muito mais do que uma coincidência: ele acredita que o COVID-2019 não se originou em animais mortos em contato com humanos em uma feira de rua. Chandra defende que um vírus pegou carona em um meteoro, queimou no atrito com a atmosfera espalhando o organismo alienígena pela atmosfera.

Chandra é defensor da teoria da Panspermia que defende que a vida está presente em todo o universo e espalhada através de meteoros, cometas e poeira espacial. Essa teoria levanta uma questão pertinente: e se os nossos contatos com vida extraterrestre não forem com uma forma de vida inteligente e muito menos humanoide? E se for com variedades de microrganismos, ou, até mesmo, com um vírus?

Michael Crichton , um dos mais populares escritores de ficção científica (“Jurassic Park” e “O Mundo Perdido” foram livros adaptados ao cinema, além de trabalhar como roteirista no clássico Westworld, 1973) escreveu seu primeiro livro em 1969: “O Enigma de Andrômeda” – inspirado nessa hipótese da panspermia: sim, há vida em todo o Universo, mas não da forma que imaginávamos. E em contato conosco, poderá se tornar involuntariamente mortal.

Em 1971, o mestre Robert Wise (que vinte anos antes dirigiu o grande clássico O Dia Em Que a Terra Parou, 1951) voltou ao gênero sci-fi na primeira adaptação do livro de Crichton: O Enigma de Andrômeda.

Wise dirigiu um verdadeiro thriller científico com extremo realismo e detalhismo tecnocientífico – com exceção das telas de computadores, todo o restante ainda impressiona: um superlaboratório cujo set de filmagem usou equipamentos reais fornecidos por várias instituições de pesquisas.

Nesse clássico da ficção científica acompanhamos a corrida contra o tempo na solução de um mistério que começa com a queda de um satélite espacial em uma pequena cidade no Arizona com menos de 70 habitantes, trazendo consigo um vírus desconhecido e letal que ameaça eclodir uma catástrofe biológica em proporções jamais vista.

O curioso é que 21 anos antes, no filme O Dia Em Que a Terra Parou, acompanhávamos a chegada de um alien com uma mensagem pacifista para a humanidade, proveniente de uma cultura técnico e moralmente superior.

Mas em O Enigma de Andrômeda, Robert Wise constrói a narrativa de como o Universo é ameaçadoramente indiferente com a humanidade: aquilo que entendemos como “vida inteligente” talvez esteja ausente no Universo e as variedade de formas de vida deve ser tão imensa que torna-se invisível para nós – ainda estamos em busca de contatos com formas humanoides.

Mas o pior que essa variedade de vida poderia ser letal para nós. Não por maldade ou por algum propósito imperialista de conquista: mas por pura indiferença, a letalidade involuntária. Sem desígnio ou propósito, o Universo seria totalmente indiferente à nossa existência. 

O Filme

Rever esse filme de 1971 nos impressiona por mostrar uma abordagem de ficção científica que não mais existe: filmes cerebrais e com detalhismo científico. Por isso, muito coloridos com planos de câmera descritivos. Bem diferente da atualidade, com fotografias escurecidas, para criar atmosferas distópicas ou pós-apocalípticas no qual sequências de sustos e violência predominam.

Os planos de câmeras são várias vezes divididos, para que possamos ver aquilo que os cientistas estão visualizando através de microscópios eletrônicos ou pelas janelas das casas do pequeno povoado no qual eclodiu a tragédia.

O filme abre com impressionantes paisagens desérticas do Arizona. Uma dupla de técnicos está rastreando o local da queda do satélite até que chegam num pequeno povoado no qual quase todos morreram de formas bizarras. Esse é o início do mistério: surpreendentemente, sobreviveram apenas um bebê de seis meses e um idoso que vaga confuso pela cidadezinha.

Estranhamente (e isso será elucidado próximo do final) as Forças Armadas têm um protocolo para esse tipo de acontecimento. Imediatamente, quatro eminentes cientistas (Dr. Stone, Arthur Hill; Dr. Dutton, David Wayne; Dr. Hall, James Olson; Dra. Leavitt, Kate Reid) são convocados pela inteligência militar e levados para um complexo científico chamado Wildfire: um gigantesco laboratório hermeticamente fechado em cinco níveis abaixo do solo.

O design de produção é notável: o filme parece começar por onde 2001 de Kubrick parou: um mundo liso de plástico e metal, infinitamente curvado, que cria uma linha de continuidade com a estação espacial de 2001. E a relação que os cientistas têm com o supercomputador que comanda o complexo Wildfire é muito mais íntimo do que a amizade dos astronautas com o HAL 9000.

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Redação

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