Corra MBL, corra… corra mais do que Forrest Gump

Numa cena memorável do filme Forrest Gump o protagonista afirma que idiota é quem faz coisas idiotas. A censura imposta pelo Santander a uma exposição que o MBL considerou “arte degenerada” https://oglobo.globo.com/cultura/veja-obras-da-mostra-tematica-lgbt-fechada-pelo-santander-cultural-21807734 parece ser digna desta afirmação.

A reação dos formadores de opinião foi imediata e não se restringiu aos blogues sujos:

http://www.redebrasilatual.com.br/entretenimento/2017/09/artistas-repudiam-fim-exposicao-queer-santander-cultural-apos-pressao-do-mbl http://www.tijolaco.com.br/blog/o-moralismo-pornografico/

http://www.huffpostbrasil.com/luiz-guilherme-medeiros/caso-santander-queermuseum-o-boicote-como-resposta-liberal_a_23206492/

https://www.opovo.com.br/vidaearte/2017/09/exposicao-sobre-diversidade-sexual-e-cancelada-apos-repercussao-negati.html  

https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/11/politica/1505164425_555164.html

http://midianinja.org/ivanabentes/portinari-volpi-lygia-clark-viraram-pornografia-para-mbl/

O episódio grotesco foi parar nas páginas de um grande jornal britânico https://www.theguardian.com/world/2017/sep/12/brazil-queer-art-show-cancelled-protest. E também foi noticiado ao público norte-americano https://www.washingtonpost.com/entertainment/museums/gender-diversity-art-show-closed-over-protests-in-brazil/2017/09/11/3d0019f4-9720-11e7-af6a-6555caaeb8dc_story.html?utm_term=.f6548ac23fa8. O ato em defesa da mostra foi encerado com a costumeira e brutal repressão policial http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/ato-no-santander-cultural-contra-censura-termina-com-bombas-e-militantes-do-mbl-escondidos-atras-da-pm/ , mas isto parece ter apenas fortalecido os defensores da mostra.

Opera aqui um princípio bem conhecido dos estudiosos da arte e que foi descrito por Roger Bastide da seguinte maneira:

“A arte foi em certos períodos um sinal de união e um fator de coesão social: na Polônia ocupada, por exemplo, a literatura e a pintura serviram para unir os patriotas para manter a alma nacional, para resistir à assimilação cultural do invasor. E também é certo que a emoção estética é particularmente contagiosa, tendendo para o universalismo, para o gôzo em comum. Mas, como vimos, em nosso primeiro capítulo, êsses fatos se acham ligados a uma filosofia naturalista e vitalista; depressa a comunhão ultrapassa o terreno humano, se transformando numa espécie de técnica de fusão mística entre o eu e a natureza, de que o artista é o sacerdote, pois como diz Burnet: ‘O poeta é o mediador entre o infinito desconhecido ao qual aspira a alma humana, e a vida de todos os dias que o comum dos homens arrasta sôbre a terra. E também é a vítima, pois arranca sua obra das entranhas, e cada uma de suas criações tem o valor dum sacrifício. Imolado numa obra ressuscita na seguinte, e, junto com ele, participam do sacrifício e ressurreição o espectador ou o leitor, todos os iniciados, todos os homens.’ ” (Arte e Sociedade, Roger Bastide, EDUSP, São Paulo, 1971, p. 184/485)

Aqui mesmo no GGN teci alguns comentários sobre o fracasso do MBL https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/como-explicar-o-fracasso-do-mbl-por-fabio-de-oliveira-ribeiro. Portanto, não fiquei nenhum pouco surpreso com o resultado decorrente do pseudo-sucesso do MBL ao convencer o Santander a não realizar a exposição de “arte degenerada”. Sem querer os serviçais de Kim Kataguiri podem ter jogado um palito de fósforo num depósito de gasolina. Cabe a esquerda adicionar combustível à fogueira até conseguir acender imensas manifestações capazes de sobrepujar nas ruas as biribas que o MBL explode na internet. 

A reação do “povo forte”, fortalecido pela coesão produzida através do consumo, defesa e propaganda da arte proibida, tem tudo para se transformar numa verdadeira rebelião contra a onda de conservadorismo piegas, obscurantista e medíocre iniciada por um punhado de meninos que, pasmem, costumavam mostrar suas bundas feias na Av. Paulista. Corra, MBL, corra…, corra mais do que Forrest Gump porque seu atropelamento nas ruas será inevitável.

Fábio de Oliveira Ribeiro

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