Mudança para Interlagos vai prejudicar Virada Cultural, por Sergio de Moraes

Por Sergio de Moraes Paulo

A Virada Cultural nasceu em 2005, ainda na gestão do então prefeito de SP, José Serra, do PSDB.

Seu sucessor, Gilberto Kassab, do PFL, DEM e depois PSD, a manteve.

O sucessor de Kassab, Fernando Haddad, deu continuidade à proposta, com algumas alterações.

Prefeitos de partidos diferentes entenderam que, nos últimos 11 anos a Virada Cultural foi um sucesso de crítica e de público. Consideradas aqui todas as ressalvas sobre diversos problemas como segurança, banheiros e programação.

Nesses anos todos, quem ganhou com a Virada Cultural nas ruas do centro de SP??

1. O turismo. Pouca gente sabe, mas São Paulo é a principal cidade turística do Brasil. O problema é que a maior parte dos turistas vêm a negócios. Quem trabalha em hotéis sabe disso: por aqui eles começam a lotar no domingo à tarde e se esvaziam na por volta da quinta-feira. A Virada Cultural fez com que muitos turistas de negócios alongassem sua permanência da cidade, pois a programação ocorre entre a sexta-feira e o domingo à noite.

2. O comércio do centro: bares, restaurantes e lojas perceberam que o movimento nas ruas justificaria manter as portas abertas por mais tempo. Muitos empresários de pequeno e médio porte ganharam dinheiro com isso.

3. Prestadores de serviço: aqui seguem taxistas, motoristas de Uber, donos de vans e ônibus fretados, estacionamentos e outros que são contratados pelas milhares de pessoas que se interessam pela Virada Cultural.

4. E o mais importante: o cidadão paulistano. A programação da Virada Cultural no centro velho de São Paulo revitalizou a região e fez com que muitas pessoas conhecessem ruas, praças e lugares que apenas viam pela TV ou pelas janelas de seus carros. A gente só consegue amar realmente o que conhece. E só entendemos a necessidade de proteger com carinho aquilo que amamos. O centro velho de São Paulo despertou muitas paixões em diferentes edições da Virada Cultural.

Eis que então, o prefeito eleito, João Dória, anunciou a intenção de fazer a Virada Cultural num ambiente fechado, no Autódromo de Interlagos.

Por que ninguém, teve essa ideia antes?

Simples: porque a ideia é burra, cretina, idiota e oportunista.

A Virada Cultural paulistana foi inspirada na Nuit Blanche (Noite em Claro) de Paris. E sua concepção é mais do que um evento cultural. Envolve a aproximação de pessoas de diferentes classes sociais que compartilham o espeço público. Mandar a Virada Cultural para Interlagos tem um significado direto: querem MATAR a Virada Cultural.

O Autódromo de Interlagos foi anunciado como um dos patrimônios da prefeitura a serem privatizados. Seus eventuais concessionários só irão comprar o direito de exploração do espaço se tiverem certeza de que haverá um mínimo de eventos. Logo, a Virada Cultural no autódromo atende aos interesses dos eventuais grupos empresariais que o arrematarão. Não aos interesses dos cidadãos paulistanos.

No mais, o espaço poderá ter exclusividade de vendedores de cerveja, refrigerantes, água e alimentos, sem falar nas “maravilhas” chamadas “food trucks” (aqueles carros que vendem lanches de quantidade miserável por preços belgas…). Perderiam os vendedores ambulantes, os bares e restaurantes já instalados no centro de SP em favor de empresários com direito exclusivo dentro do autódromo.

Alguém já foi ao autódromo de Interlagos de ônibus ou trem?? Dá para comparar com as opções de acesso por trem, metrô e ônibus do centro??? Quem conhece São Paulo sabe do que se está dizendo aqui…

Enfim, há outras razões para criticar e se opor ao anúncio da Virada Cultural no autódromo de Interlagos. Todas elas indicam uma única explicação: perderá muito a cidade de São Paulo se essa ideia estúpida se tornar realidade…

Redação

5 Comentários

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  1. Democracia á assim mesmo:

    os paulistanos elegeram no 1º turno o moço de botox e cachemire, agora vão ter que aguenta-lo.

    E acho que essa ideia sobre a Virada é a primeira de uma longa lista de ideias cretinas.

    No fundo, bem feito (e olha que eu – ainda – moro em Sampa).

  2. Esperar o que mesmo desse arremedo de democracia

    Esperar o que mesmo desse arremedo de democracia em que, quem manda mesmo é a madame globo, o povo até consegue quebrar o ciclo, mas só quando a administração está no fundo do poço: entra um governo progressista, arruma a casa para, em seguida, o cofre ser devolvido aos ratos, por ordem da “democracia”, que, como sabemos, só vale até o dia em que essa zelite zelote bizarra permitir, que o diga a presidenta Dilma…

  3. trumpinho

    me parece que a nuit blanche é noite branca mesmo… como a do conto do Dostoievski. (desculpe o xiitismo)

    quanto ao resto… é trumpismo! vamos ter quatro anos disto: certeza! recuo! surpresa! recuo! surpresa! sem sequer assumir quantas idas e vindas esse cara já coleciona?

  4. Se tirarem a Rua da Virada Cultural. Eu não volto mais !

    Ótimo ver os textos do mestre Palpiteiro por aqui. 

    Saudades de tuas aulas, Moraes. Fui procurar (devido a inatividade do blog “opalpiteiro”) teu nome hoje no google, por saudade mesmo da opinião. E me deparo com este ótimo e atual artigo. De hoje ainda! 

    Eu pude trabalhar na Virada Cultural com o coletivo do qual faço parte, a Caravana Lúdica de Jogos do Mundo. Se tirarem a Rua da Virada Cultural. Eu não volto mais !

     

    grande abraço !

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