Xadrez do grande negócio de Sérgio Moro com a Alvarez & Marsal, por Luis Nassif

Quando se decidiu que o COAF ficaria com o Banco Central, Moro arrancou um decreto de Bolsonaro que permitiu a indicação dos delegados Erika Marena e Márcio Anselmo - do grupo da Lava Jato.

Peça 1 – a indústria do compliance

Em 9 de junho de 2017, enquanto a mídia corporativa persistia em seu afazer de repassadora de releases da Lava Jato, o GGN já tinha avançado bastante na teia de interesses que foi montada em torno de operações anti-corrupção – a partir da orientação do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

No “Xadrez da indústria de leniência e compliance”, de 9 de junho de 2017 – quase cinco anos atrás – mostramos como foi montado o jogo da indústria da anticorrupção.

Havia duas cenouras para atrair procuradores e juízes de outros países. O primeiro, o poder conferido a eles, na medida em que o DoJ, através da DHS (Homeland Security) os alimentava com informações obtidas através de espionagem eletrônica. Informação é poder. O segundo, a parceria com grandes escritórios de advocacia norte-americano – que, ao mesmo tempo, eram colocados como interventores das empresas processadas e serviam de porta de entrada para procuradores no rico mercado de compliance.

Há várias matérias produzidas sobre a indústria da anticorrupção:

Xadrez do grande negócio do combate à corrupção, de 14/03/2019

Xadrez da Transparência Internacional e a indústria da anticorrupção, de 11/12/2020

Xadrez de como a Lava Jato entregou o CADE aos EUA, de 28/07/2020

A relação promíscua entre a indústria do compliance e os procuradores nos EUA, de 28/04/2020

Xadrez da tacada de 2,5 bilhões da Lava Jato, de 02/03/2019

E são inúmeras as histórias de procuradores brasileiros, norte-americanos, suiços, envolvidos com a indústria da anticorrupção, que se tornaram advogados das empresas afetadas, visando faturar em cima das redes de relacionamento criadas durante as investigações.

No portal da Alvarez & Marsal, que contratou Sérgio Moro, há as seguintes informações:

O Sr. Moro é especializado em liderar investigações complexas e de alto perfil anticorrupção, crimes de colarinho branco, antilavagem de dinheiro e crime organizado, bem como aconselhar clientes sobre estratégia e conformidade regulatória proativa. Sua contratação se baseia na força do banco de nomeações de ex-funcionários do governo da A&M, incluindo Steve Spiegelhalter (ex-promotor do Departamento de Justiça dos EUA), Bill Waldie (agente especial aposentado do FBI), Anita Alvarez (ex-Procuradora do Estado do Condado de Cook, Chicago, IL), Robert DeCicco (ex-funcionário civil da Agência de Segurança Nacional), Paul Sharma (ex-vice-chefe da Autoridade de Regulação Prudencial do Reino Unido) e Suzanne Maughan (ex-investigador principal da Divisão de Execução e Crimes Financeiros da Autoridade de Conduta Financeira e investigador destacado para o Serious Fraud Office)”.

Essa indústria se reúne periodicamente em eventos internacionais e associações de compliance, como o Instituto New Law, a International Compliance Association,

World Justice Project, e o Latin Lawyer

No evento “Latin Lawyer and GIR Connect: Anti-Corruption & Investigations 2021”, entre os conferencistas estavam Sérgio Moro, representando a Alvarez & Marsal, e advogados de grandes escritórios contratados para trabalhos de compliance, no rastro da Lava Jato – como o Baker Mackenzie e Hogan Lovells.

No ano passado, Sérgio Moro foi contratado como sócio da Alvarez & Marsal, empresa que trabalha recuperação judicial de várias empreiteiras brasileiras.

Como Moro tinha acesso a informações confidenciais das empresas, o TCU (Tribunal de Contas da União) solicitou dados sobre a contratação e abriu as informações para o público.

Peça 2 – os negócios de Sérgio Moro e da Alvarez & Marsal

Segundo o relatório, a Alvarez & Marsal havia faturado cerca de R$ 42 milhões com empresas afetadas pela Lava Jato. O advogado Tacla Duran garantiu – sem apresentar nenhuma prova – que o contrato de Moro teria 8 dígitos – ou seja, mais de 10 milhões de dólares.

Foi a primeira peça no nosso xadrez, invertendo totalmente a suspeita inicial. R $42 milhões não é nada para uma empresa do porte da Alvarez & Marsal. Se a questão era uma contrapartida a Moro por eventuais serviços prestados, a troco de quê um contrato, nos Estados Unidos, que despertaria a curiosidade geral e exporia Moro a problemas com os órgãos de controle nacionais, em troca de honorários pequenos para o porte da empresa? Ainda mais havendo plena convicção da falta de preparo de Moro para qualquer serviço juridicamente mais elaborado.

Haveria inúmeras maneiras mais práticas de recompensá-lo, sem se expor. Ainda mais sabendo do interesse de vários partidos em tê-lo como candidato a presidente da República.

Se o ganho total da Alvarez & Marsal foi de R$ 42 milhões, de quanto seria a participação de Moro? Valeria a pena abrir mão de uma candidatura a presidente – que abre inúmeras possibilidades profissionais – por um contrato de um, dois milhões de reais?

A divulgação dos ganhos da Alvarez & Marsal levantou outra lebre: e se a contratação fosse para negócios muito maiores?

Peça 3 – a Sociedade de Propósito Específico

O jogo seria infinitamente maior se o alvo da Alvarez & Marsal fosse outro: utilizar o conhecimento acumulado para adquirir empresas brasileiras, em vez de meramente administrá-las judicialmente. Aí, as possibilidades de ganho ascenderiam a centenas de milhões de dólares.

A segunda peça ajuda a decifrar o jogo. A Alvarez & Marsal ingressou na B3 – a principal bolsa brasileira – com o primeiro pedido de listagem de uma SPAC – uma Sociedade de Propósito Específico. No caso, especificamente para captar dinheiro para adquirir outras empresas. O pedido está em análise na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

E, aí, a contratação de Moro começa a fazer sentido. Ele é o sponsor – o garantidor do projeto, na linguagem do mercado. Sponsor é o técnico, ou personalidade pública, que tem credibilidade suficiente para convencer o investidor de que ele tem um bom negócio pela frente, investindo na SPE, ou SPAC.

Em princípio, compras de empresas sob emaranhados legais – como é o caso das empreiteiras quebradas pela Lava Jato – esbarram em uma sucessão de dúvidas e armadilhas. Como ficam os acordos de leniência, as multas a serem pagas? E há as informações que circulam no COAF (Conselho de Controle da Atividade Financeira). Eventuais ilegalidades detectadas em transações anteriores poderiam comprometer a venda das empresas.

Daí a importância do sponsor, com amplo conhecimento do mercado. Quem poderia ser melhor sponsor do que Moro e procuradores envolvidos com a Lava Jato? Por isso mesmo, interessava à Alvarez & Marsal bater bumbo com a contratação. Mesmo se não utilizar o nome de Moro nos panfletos de venda, o mercado já sabe que ele foi sócio da empresa por algum tempo.

Como diz o portal da empresa:

Marcos Ganut , diretor administrativo da A&M com a prática de Projetos de Infraestrutura e Capital da empresa e líder de Disputas e Investigações em São Paulo, afirmou: experiência governamental e regulatória. A nomeação de Sergio aumenta nossa capacidade de ajudar os clientes a lidar com questões regulatórias complexas, alavancando nossa liderança, ação e abordagem de resultados.”

E por aí se entende outras atitudes de Moro, ao aceitar o cargo de Ministro da Justiça de Bolsonaro. Sua primeira batalha foi o controle do COAF. Planejou até colocar no comando uma pessoa de absoluta confiança, a delegada Erika Merena. Originalmente só poderiam ser do COAF funcionários públicos. Quando se decidiu que o órgão ficaria com o Banco Central, Moro arrancou um decreto de Bolsonaro que permitiu a indicação dos delegados Erika Marena e Márcio Anselmo – do grupo da Lava Jato.

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Entende-se também a insistência da Lava Jato de Curitiba de manter o controle absoluto sobre o banco de dados acumulado, criando um enorme problema administrativo quando a Procuradoria Geral da República tirou esse controle.

Peça 4 – o papel do TCU

Agora, o TCU tem outro tema para trabalhar. Até agora, conseguiu os dados da Alvarez com as empresas brasileiras. Ainda não conseguiu o contrato com Sérgio Moro.

Para solucionar o quebra-cabeça terá que incluir a nova peça no jogo: quais as empresas que a SPC tem em mente? E quais os trabalhos efetivamente prestados por Moro em sua estadia nos Estados Unidos. 

  • Editado em 11:13 para acrescentar dados do portal da empresa.
Luis Nassif

13 Comentários

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  1. Tudo bem pesado, Nassif, creio que o cartunista Laerte deveria processar Sujo Moro por plagio. Afinal, ele incorporou um dos personagens da série de tirinhas Piratas do Tietê e nem mesmo se deu ao trabalho de reconhecer o direito de propriedade intelectual de seu criador.

  2. Vera Venturini, Fabio! Acompanhamos através do GGN todas as artimmanhas de Moro! E agora temos as provas de tudo aquilo que nos indignava! Moro deveria ser preso. E tidos aqueles que foram constrangidos e inclusive Lula que foi preso, merecem indenização! E fica provado que para ser criminoso não há necessidade de cultura. O juiz não usa corretamente nosso idioma. Saudações a todos!

  3. Sim, existiriam muitas outras maneiras mais práticas de recompensar Moro, sem se expor. Isso, por parte da A & M. Isso, por parte dos americanos, que são profissionais e se movem dentro de uma legislação específica e própria. Mas, e na cabeça de Moro, um néscio notório, com seríssimas limitações cognitivas? Não era ele o homem da cognição sumária? E não porque fosse a maneira mais rápida de definir uma ação, mas sim porque ele não conseguia ir além disso. Qualquer raciocínio mais complexo, e a caixa craniana do juiz começava a fazer água.
    Para um mentecapto, 42 milhões seduzem tanto quanto 4,2 milhões. Seja qual for a quantia, caiu do céu, como os 30 mil do Magri. Para um provinciano como Moro, antes um pássaro na mão que dois voando. Esperar de alguém como ele qualquer raciocínio mais complexo do que isso, é inútil. Ainda que sua conja tenha, olhando melhor, um certo ar de lady Macbeth.
    Ora, tenho claro para mim que Moro pode ter sido induzido – achando que estava fazendo um grande negócio – a assinar o contrato com a A & M para receber seus trinta dinheiros rápida e legalmente. Quanto a não despertar suspeitas, os americanos estão pouco se lixando para suspeitas nascidas nas mentes tupiniquins, e as consequências respectivas; os dois pilotos do jatinho que derrubou e matou mais de 200 pessoas que o digam.
    Moro e sua lady Macbeth que se virem. Bolsonaro está a um passo de detonar aquele que julgam ser seu principal adversário na extrema-direita. O Macbeth original só poderia ser morto por alguém não nascido de mulher; com todo o respeito à mãe recentemente falecida, mas Bolsonaro só pode ser filho de chocadeira.
    “Tu serás presidente, Moro!”
    Só que não.

  4. Lula reverteria muitas privatizaçoes e quebra de empresas br, moro é o segurador de que isto nãoa conteceria e os negocios da alvarez e marsal estariam garantidos, Morp é mais pergoso ao país que muitos pensam, é praticamente uma nova privataria, os procuradores da lava jato são todos ladõres assim? é isso o que a Marena é? alcoviteira do Moro pra ser milionário?

  5. Sérgio Moro e a lava-jato é uma trágica de empulhadores entreguistas das empresas e da soberania nacional.
    Serão lembranças do mesmo naipe do Collor e seus caçadores de marajás na lata do lixo da história do Brasil

  6. O que mais me impressiona é que mídia televisiva nacional faz parte da partilha do butin. Se não houvesse “nossa mídia alternativa” não saberíamos da missa a metade. Sim! obrigada Nassif.

  7. Capricha, Nassif! O teleguiado da conja ainda vai encontrar uma justa recompensa. Mas, cá pra nós, como alguém com tanta oportunidade na vida para ser bom pode agir de maneira tão sórdida? Imagine o que seria do país se moro tivesse mais poder?

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