Congoleses se manifestam no MASP contra o genocídio em curso

Dolores Guerra
Dolores Guerra é formada em Letras pela USP, foi professora de idiomas e tradutora-intérprete entre Brasil e México por 10 anos, e atualmente transita de carreira, estudando Jornalismo em São Paulo. Colabora com veículos especializados em geopolítica, e é estagiária do Jornal GGN desde março de 2014.
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Coletivo denuncia genocídio sofrido no país africano e solicita auxílio do Brasil em negociações de paz e visto humanitário

Homem congolês no MASP, em ato contra genocídio em curso
Homem congolês no MASP, em ato contra genocídio em curso. Imagem: Lola Guerra/GGN

No último domingo (24), a Avenida Paulista recebeu uma performance realizada pelo coletivo de migrantes congoleses A Voz do Congo denunciando a nova onda de confrontos entre o exército congolês e o grupo armado M23, que provocou o deslocamento de 250 mil pessoas no final de janeiro deste ano. A República Democrática do Congo é o segundo maior país do continente africano e um dos países com maior número de pessoas deslocadas do mundo.

Manifestantes deitados no asfalto simulavam as vítimas dos recentes ataques, enquanto a artista Prudence Kalambay, com o rosto encaixado em um quadro que representava a bandeira do país africano, teve seu rosto pintado com tinta vermelha. Em meio aos cantos e as palavras de ordem, Kalambay caminhava com trajes típicos simbolizando as mulheres que têm sido alvo preferencial para punições coletivas.

A artista Prudence Kalambay, com o rosto encaixado em um quadro que representava a bandeira do Congo. Foto: Lola Guerra/GGN

A violência baseada em gênero (VBG) cometida contra essas meninas e mulheres inclui o estupro e a exploração sexual. Segundo a ONU, os abusos funcionam tanto como tática para provocar o deslocamento forçado de aldeias em regiões disputadas, como também é fruto do cenário de vulnerabilidade em que essas pessoas estão inseridas.



O conflito atual que assola o país é fruto da herança colonial belga, de quem se independizou na década de 1960. As vastas jazidas de diamantes, estanho e cobre deixariam de ser exploradas pela empresa belga União Mineira do Alto Katanga, quando o então governador da província, Moisés Tshombe, declarou a separação da região. Interessados em seguir controlando a exploração mineral do país, tropas belgas e grupos internacionais apoiaram o movimento separatista.

Foto: Lola Guerra

Prosper Dinganga, coordenador do coletivo A Voz do Congo, denuncia a hipocrisia das potências internacionais que, através de empresas internacionais, se utilizam de Estados como Ruanda e Uganda para terceirizar o conflito criando milícias dentro do Congo.

Já a jornalista congolesa, Claudine Shindany, que trabalha como técnica de regularização migratória, reivindica que o visto humanitário passe a incluir os congoleses. “Como que um país que, há mais de 20 anos, clamando, fugindo da guerra e dos conflitos armados, não se enquadra no sistema da polícia federal como visto humanitário?”, questiona Shindany.

Pela quinta vez, o Brasil voltou a comandar a Missão de Estabilização das Nações Unidas na República Democrática do Congo (MONUSCO) em 2023. O objetivo seria garantir que o processo eleitoral ocorresse com transparência e segurança, mas os combates não cederam, resultando no grande deslocamento de janeiro de 2024.

Dolores Guerra

Dolores Guerra é formada em Letras pela USP, foi professora de idiomas e tradutora-intérprete entre Brasil e México por 10 anos, e atualmente transita de carreira, estudando Jornalismo em São Paulo. Colabora com veículos especializados em geopolítica, e é estagiária do Jornal GGN desde março de 2014.

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