Golpes nunca mais, por Alberto Dines

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Do Observatório da Imprensa

O Brasil também parou para engolir lágrimas – a presidente Dilma Rousseff não foi a única a se emocionar com o relatório final da Comissão Nacional da Verdade. O reencontro com a dor, imperiosamente contido e sereno, foi compartilhado por muitos brasileiros e não apenas os diretamente atingidos pela grande tragédia.

Não compareceram à solenidade no palácio do Planalto na quarta-feira (10/12), porém as figuras mais representativas da política brasileira endossaram com a sua presença o início formal da grande empreitada de buscar a verdade, em 16 de maio de 2012.

A cerimônia que marcou sua conclusão, há muito agendada para coincidir com o Dia Internacional dos Direitos Humanos, acabou refletindo as apreensões, hesitações e tremores que percorrem os bastidores da cena política. As desavenças e contrariedades oriundas do último pleito e da cascata de revelações sobre nossa empresa-símbolo acabaram por converter um ato do Estado brasileiro em manifestação do governo.

Vontade coletiva

Os civis e militares que repudiam o reencontro com o passado deveriam sentir que se insurgem contra o Estado Democrático de Direito. Da ativa ou da reserva, uniformizados ou não, deveriam perceber que não se tratou de um evento político-partidário, mas de uma manifestação da República Federativa do Brasil e das forças democráticas comprometidas com a sua preservação.

Se o Cerimonial da Presidência não conseguiu conferir ao ato a necessária entonação institucional, falharam também os partidos – especialmente os da oposição – ao desligarem-se de uma tarefa suprapartidária, verdadeiramente nacional. A Comissão da Verdade transcende à coleção de siglas partidárias, raras vezes viu-se um selecionado tão representativo da inteligência e da cultura brasileira. Suas próprias divergências – mínimas – desvendam uma dedicação à causa pública e um discernimento sem precedentes do interesse nacional.

Se as lideranças políticas não foram convidadas ao ato, que se solidarizassem por vontade própria com as lágrimas da presidente. Dilma Rousseff não chorou pelo que sofreu, chorou pelo que sofreram tantos outros brasileiros. Aquele foi um momento histórico, um marco, oportunidade única para repudiar a violência política e consolidar a convivência entre contrários.

Omissão inadmissível: um discurso em qualquer solenidade ou em plenário, uma declaração à imprensa, um telegrama, e-mail ou tuite, não seriam gestos políticos, mas humanitários. E de grande significado. Faltam à política brasileira impulsos a favor, gestos generosos, mãos estendidas, aproximações. É preciso mostrar aos ressentidos, aos grandes e pequenos ditadores escondidos nos desvãos de uma democracia imatura, que a despeito das acirradas disputas partidárias, há um sólido sentimento de repulsa à arbitrariedade e à tirania. Esta convergência ou consenso precisa aflorar, materializar-se como vontade coletiva.

Se em 1964 alguém se lembrasse do contragolpe incruento de 1955, do brutal golpe branco de 1937 e berrasse “golpes nunca mais”, nosso luto hoje talvez fosse menor. Ou nenhum.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

15 Comentários

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  1. Prêmio Mário Lago

    Gente, tá o maior rebu nas redações tradicionais, pois o descontentamento com o prêmio dado ao Bonner não revoltou só da filha do Mário Lago, muitos outros famosos jornalistas se sentiram desprestigiados observem a lista dos indignados e seus comentários:

     

    Reinaldo Azevedo, Veja e rádio Jovem Pan:

    “Só porque o Bonner tentou morder a Dilma, a Globo dá o Priemio pra ele? e eu que que ataco o ano inteiro de pitbull, de rottweiler e de doberman com os Petralhas e com o governo, não ganho nada?”

     

    GERMANO OLIVEIRA de O Globo 

    “Eu que mereceria o Prêmio, pois fui eu que descobri que Lula tem um Triplex  no Guarujá.”

     

    Eliane Cantanhêde ainda na Folha 

    “Isso é um absurdo eu descobri que o Brasil teria uma epidemia de Febre Amarela, Além de dá o furo do apagão e da Compra dos Caças, eu tinha que laureada” 

     

    Policarpo Júnior, Carlinhos Cachoeira e Dadá Araponga Da revista Veja

    “Com o nosso jornalismo investigativo, derrubamos mais de três Ministros, fomos preteridos, mas vai ter troco, nos aguradem”

     

    Boris Casoy da Band TV

    “E eu que derrubei dois garis”?

     

    Mário Sérgio, Conti Globo News

    “Eu entrevistei o Felipão num avião em plena Copa”.

    Portanto eu deveria levar esse prêmio.

     

    Carlos Alberto Sardenberg “Eu já contava com esse prêmio, pois descobri que a Petrobras faliu”

     

    Danilo Gentili “Eu que deveria ganhar… Eu descobri que a Dilma estava desempregada e iria para Cuba”.

     

    Merval Pereira “Esse prêmio por justiça e gratidão deveria ser meu, pois quando anunciaram que o Aécio perdeu para Dilma eu chorei diante das câmeras”

     

    Rachel Sheherazade “Eu deveria ser premiada, uma vez que eu defendo os direitos dos meus patrões e Bolsanaro de estuprar”

     

    Leilane Neubarth “Estou superrrrr revoltada, pois quem descobriu que a Venina é uma heroína foi eu, logo eu que deveria ganhar”

     

    A coisa tá feia e o clima tá pesado, pois muitos dos jornalistas que se sentem injustiçados estão querendo recorrer a presidente do partido de oposição a ilustre Judith Brito que é também vice-presidente da ANJ e professora da ESPM.

     

  2. Depende. A França teve doze

    Depende. A França teve doze regimes de 1789 a 1958, as mudanças de regime são frutos de CRISES politicas, dizer NUNCA MAIS em politica é ahistorico. Tudo depende das circunstancias, revoluções, golpes, guerra civis.

    Porque não dizer NUNCA MAIS para 57.000 assassinatos por ano no Brasil, recorde mundial?

  3. Com o PiG/psdb o grito é “golpe todo dia”!

    Felizmente, até agora, os golpistas vem perdendo uma atrás da outra…

    As viúvas da ditadura não conseguem aceitar a decisão soberana do povo.

  4. A “Anistia” e o proselitismo da ditadura

    A Anistia anistiou criminosos, pois golpe de Estado é crime; e “anistiou”, também, os que lutaram contra o Golpe, isto é, “anistiou” os que lutaram contra os criminosos, ou seja, “anistiou” os mocinhos. Dito de outra maneira: em verdade, a Anistia só anistiou os golpistas e seus asseclas.

    O golpe de Estado foi o crime inicial que ensejou todos os outros, como abuso de poder, furto, roubo, estupro, tortura e assassinato, crimes cometidos contra a população brasileira como um todo, pois ninguém estava na época a salvo do arbítrio da Ditadura.

    Ademais disto, os que se colocaram contra os criminosos, isto é, contra os ditadores, os que se puseram ao lado da legalidade e da Constituição da época, foram punidos pela “justiça” da Ditadura com prisões arbitrárias, sevícias de toda ordem e execução. Foram justiçados pela “justiça” da Ditadura. Portanto, a anistia não foi simétrica, ou bilateral, eis que os guerrilheiros já tinham sido punidos, e os ditadores, não.

    Os anistiados foram somente os ditadores e seus ajudantes, uma vez que pôr-se ao lado da legalidade e agir em favor dela não é crime, daí não haver que se falar em anistiar esses “crimes”.

    Os ditadores e seus cúmplices cometeram crimes gravíssimos e continuam impunes.

    Essa Anistia, se aplicada na Alemanha Nazista, anistiaria nazistas com o argumento de que estar-se-ia anistiando, também, os judeus que lutaram contra os nazistas e que conseguiram sobreviver! Ainda bem que houve Nuremberg, pois faz lembrar que o nazismo, também uma ditadura, é intolerável. Se algo análogo ao que aconteceu em Nuremberg tivesse ocorrido no Brasil, não haveria passeata pedindo a volta da Ditadura.

    1. Quando é bem sucedido o golpe

      Quando é bem sucedido o golpe de EStado é legitimado porque cria seu proprio direito e nunca será crime.

      Se for derrotado ai sim será crime.

      Como nas guerras, o vencedor faz o direito.

      1. A Ditadura é crime

        “Se for derrotado ai sim será crime.”

        Pois é, a Ditadura foi derrotada; hoje, está derrotada. Não foi derrotada pelas armas, foi derrotada politicamente, ou seja, foi derrotada. Então, de acordo com o brocardo acima, a Ditadura é crime.

        Fazendo analogia com o Nazismo: enquanto vitorioso (a vitória não é um estado definitivo, mas um processo), a “Justiça” era nazista. Derrotado pelas armas, tornou-se crime, e muitos dos que ajudaram a cometê-lo foram punidos.

        Mutatis mutandi, a ditadura brasileira é crime. Falta, agora, punir os criminosos que a perpetraram.

  5. a oposição não se manifestou

    a oposição não se manifestou porque depende

    dessas forças obscuras para sua estratégia

    cotidianamente golpista.

  6. Esse post é anti-historico. É

    Esse post é anti-historico. É como dizer guerra nunca mais, revolução nunca mais, terrorismo nunca mais,

    roubalheira nunca mais, impeachment nunca mais, uma grande bobagem,

    Acontecimentos historicos se desencadeiam conforme as CICUNSTANCIAS. Se um demente assumir a Presidencia e

    pretender destruir o Pais todo mundo vai ficar olhando?

    Porque existiram Peron, Vargas, De Gaulle, Fidel Castro, Franco, Salazar, Mao,, Napoleão, Primo de Rivera, Bela Kuhn,

    Mussolini, Rojas Pinilla, Maniel Odria ? Todos os que deram golpe o fizeram dentro de um contexto historico, deram porque podiam dar, finham forças para isso, não há barreiras para as circunstancias, nenhum pais se deixa destruir passivamente, porisso essas AFIRMAÇÕES são inuteis, pura retórica.

     

  7. Para quem era editor do JB em 64…

    ”Desde ontem se instalou no País a verdadeira legalidade[…]Legalidade que o caudilho não quis preservar, violando-a no que de mais fundamental ela tem: a disciplina e a hierarquia militares. A legalidade está conosco e não com o caudilho amigo dos comunistas.”

    Editorial do Jornal do Brasil de 1 de Janeiro de 1964

     

    Parece que o Dines evoluiu. Ou seu conceito de legalidade é bastante elástico…

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