Pavilhão amazônico da Fiam apresenta biojoias e artesanato

Manaus (AM) – Não são apenas tecnologia e produtos inovadores que estão em alta nos corredores e nos estandes da Fiam (Feira Internacional da Amazônia), na capital amazonense. Fabricantes das chamadas biojoias e dos tradicionais artesanatos também marcam território e estabelecem novos negócios e oportunidades no evento organizado e realizado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), por meio da Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus).

Há mais de 20 anos atuando no setor, a designer de biojoias Flor Silva, de 50 anos, explica o conceito, que muitas vezes é confundido com artesanato. Enquanto o segundo é feito por artistas, basicamente usando as mãos e algumas ferramentas, as biojoias possuem um processo um pouco mais fabril. O trabalho começa com a concepção do produto, que ainda percorre algum caminho até chegar a uma biojoia.

“Primeiro eu penso na biojoia que quero fazer, depois desenho já levando em conta as matérias-primas que serão usadas em cada parte delas. Eu gosto de combinar diferentes materiais, de diferentes origens”, afirma Flor, que trabalha principalmente com fibras de árvores e raízes, sementes de frutas variadas e até escamas de peixes, como as do pirarucu.


O colar e o bracelete são feitos com escamas do peixe pirarucu.

Após a etapa de criação, desenho e escolha dos materiais, Flor Silva, que mantém uma pequena empresa especializada no segmento – a Amazônia Empório Sustentável –, leva seu projeto para pessoas especializadas em manufaturar materiais naturais. “Tenho uma rede de pessoas que trabalham comigo. Há os que coletam as matérias-primas e me vendem e os que fazem a parte de fabricação, de acordo com o meu projeto”, diz.

As peças variam de braceletes, tiaras, gargantilhas, cordões e maxi-colares. As únicas partes não naturais utilizadas – mas não em todas as peças – são pequenos aneis de metal para unir algumas das biojoias. Mas a maioria das peças é 100% de matérias-primas da natureza. A ideia é explorar sobras de recursos para, como diz o próprio nome da empresa, garantir a sustentabilidade do processo. Além de movimentar toda uma cadeia de pessoas, com diferentes atribuições, movimentando a economia.

Vendas

A designer explica que seus clientes estão dentro e fora do Brasil. Mas a crise europeia complicou um pouco as vendas. “Antes da crise, muitas pessoas da Alemanha, Portugal, Itália e Estados Unidos compravam meus produtos pelo menos uma vez por ano. Outras pessoas compravam ao longo do ano para revender. Mas a crise levou muita gente a deixar de comprar”, afirma, não escondendo a esperança de quem tem experiência em esperar por tempos melhores.

“Eu gosto de trabalhar com as biojoias. Depois do câncer, eu voltei ainda mais empolgada e mais inspirada para criar novas peças”, afirma Flor, que está preparando um projeto de expansão aproveitando a realização da Copa do Mundo no Brasil, ano que vem. “Vamos ampliar nossa oferta de produtos, mas não vamos fazer nada customizado, com a imagem da bandeira do Brasil e essas coisas. Os estrangeiros gostam as peças naturais, com desenhos e características indígenas, mas eles rejeitam imagens da bandeira do Brasil”, afirma.


Algumas escamas de pirarucu são tingidas, enquanto outras permanecem na cor natural.

Sustentabilidade

Reaproveitamento também é a palavra-chave do jovem artista Maurício Duarte, de apenas 18 anos. Junto com a mãe, ele fundou uma associação de catadores, chamada ARPA, que hoje reúne um pequeno grupo de quatro pessoas. Eles uniram a ideia de reaproveitar resíduos, principalmente os vindos das empresas instaladas na ZFM (Zona Franca de Manaus), para fazer peças de artesanato. Maurício, por exemplo, gosta de criar desenhos com temáticas regionais e imprimir em camisas usando a técnica do estêncil. Ele utiliza embalagens plásticas que seriam descartadas ou incineradas pelas empresas para usar como embalagens para as camisas, dispensando a compra de plásticos.

“A associação tem acordos com várias empresas do Distrito Industrial, que em vez de descartar os resíduos, guardam para que possamos buscá-los. Nós utilizamos da forma que for possível, mas usamos criatividade para aproveitá-los da melhor forma possível”, explica o jovem, ao mesmo tempo em que oferece ao Jornal GGN um cartão da associação que estava em uma antiga caixa de leite que fora transformada em um carrinho-de-mão em miniatura.

Os membros da associação também aproveitam os pallets usados pelas empresas para armazenar peças e produtos para realizar criações de arte. São caixas para joias, embalagens e peças diversas – todas feitas com material reaproveitado. “Estamos sempre reaproveitando para criar novas peças”, afirma Maurício, que também tem planos para uma nova confecção de camisas com temáticas regionais. Ele vai gerar imagens feitas a partir de fotos que ele mesmo registra para imprimi-las em estêncil e, em seguida, fazer pinturas sobre elas.

O trabalho do jovem lembra a técnica usada pelo ícone da pop art, Andy Warhol, que também pintava sobre impressões e, em seguida, assinava suas criações. Maurício já tem amostras de camisas com araras e outros animais da região amazônica, como indígenas, a floresta e outros elementos típicos. “Gosto de explorar a riqueza étnica da região”, afirma o jovem artista.

O repórter Mário Bentes viajou a convite da Suframa.

Redação

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