A operação de salvamento da Grécia

Coluna Econômica

Ainda não há uma estratégia para enfrentar a crise fiscal dos países europeus. Ontem resolveu-se a situação da Grécia. De quebra entraram na lista de ajuda Portugal e Irlanda, enquanto se acompanha os sinais de Itália e Espanha.

A lógica do imbróglio é relativamente simples.

Durante anos o mundo navegou em uma liquidez inédita. O conceito de controle da moeda, foi abandonado em favor de novas ferramentas de política monetária, as metas inflacionárias – pelas quais a taxa de juros básica da economia seria função exclusiva do nível de inflação esperado.

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OfatO fator China adiou o estouro da bolha e a tornou mais fatal.

Numa ponta, seu enorme apetite por commodities ajudou a inflar muitos mercados, mudando o patamar de preços. Na outra, inundou o mundo com produtos baratos (muito em função da taxa de câmbio praticada) mascarando as bolhas que se formavam não apenas com ativos reais mas com mercados derivativos (mercados que negociam contratos derivados de mercado de ativos reais).

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O resultado foi o aparecimento periódico de bolhas especulativas, de corridas contra moedas, contra ativos, bolhas tecnológicas e – principalmente – uma enorme expansão do crédito aos países. Parte desse crédito, aliás, utilizado para operações de arbitragem entre moedas – por exemplo, tomar um crédito em um país com taxas de juros mais baixas para aplicar em outro com taxas de juros mais elevadas.

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Em 2008 houve o primeiro estouro da bolha. Como a prioridade era evitar uma quebradeira geral no sistema bancário, a ordem geral dos países foi priorizar o apoio aos bancos – à custa do aumento exponencial da dívida pública.

Agora entra-se no segundo tempo do jogo, com as contas fiscais estourando em vários países e, ao mesmo tempo, a total e compreensível resistência dos contribuintes a pagar a conta.

Afinal, no período da bonança, houve um desmonte inicial do chamado estado de bem estar social – especialmente na Europa e Estados Unidos – em troca de uma promessa vaga de crescimento e emprego para todos. A promessa falhou.

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O que se tem agora são países quebrados, governantes impopulares e a resistência política enorme a qualquer dose adicional de sacrifício. Antes de ontem se viu a explosão dos motoristas da Grécia ante a recomendação (absurda, por irrelevante) do FMI, de desregulamentação do mercado de táxis do país. Tão absurda, aliás, que pensei até ter havido algum engano no noticiário.

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O impasse da União Europeia se deveu a um jogo de braço entre o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet – e os presidentes da França, Nicolas Sarkozy, e da Alemanha, Angela Merkel, em torno da questão essencial: quem paga a conta?

Trichet defendeu com unhas e dentes o interesse da banca. Sarkozy e Merkel divergindo sobre a forma como os credores participariam da ajuda à Grécia: se através de um imposto sobre o lucro; ou se através da sua participação direta na reestruturação da dívida grega, trocando papéis atuais por outros de prazo mais longo e taxas de juros mais baixas.

 

A proposta – 1

No final do dia, na mesa dos líderes dos 17 países da UE estava um documento propondo o corte nas taxas de juros da dívida grega para 3,5% ao ano e esticar o prazo para 30 anos. A ideia era estender esse mesmo modelo para Portugal e Irlanda. Havia também a possibilidade de colocar a Grécia no chamado “default seletivo”, isto é, respeitando parte das dívidas e rejeitando outras.

A proposta – 2

Foi previsto também a ampliação do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, criado para socorrer países com problemas fiscais, permitindo que emprestem a governos de países da região para que acudam seus bancos, aumentando seu capital – que será afetado pela renegociação dos títulos da dívida grega. Esses recursos serviriam de garantia para parte dos empréstimos à Grécia – o que não sofrerá calote.

A proposta – 3

A preocupação maior era evitar o rebaixamento da dívida grega pelas agências de análise de risco. O default seletivo evitaria isso, já que a avaliação da dívida grega seria separada. A parte garantida pelos empréstimos do Fundo seria da ordem de US$ 71 bilhões. Pensa-se também em ampliar os recursos do Fundo em mais 440 bilhões de euros. Mas essa discussão ficou para o futuro.

A proposta – 4

Merkel rejeitou a proposta de criação de um imposto sobre o sistema bancário, que poderia captar 10 bilhões de euros por ano para financiar a Grécia. A razão foi o fato da Alemanha já ter criado um imposto sobre seu sistema bancário assim que a crise começou. As avaliações das auitoridades financeiras é que até 2019 os bancos europeus necessitarão se capitalizar em mais 460 bilhões de euros.

Luis Nassif

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