A situação dos PIG

Do Estadão

Irlanda e Portugal sob pressão 

Com grandes dívidas, os dois países estão sendo pressionados a pedirem socorro à União Europeia para evitar contágio de nações vizinhas 

16 de novembro de 2010 | 0h 00 

Jamil Chade – O Estado de S.Paulo

Cresce a pressão para que Irlanda e Portugal aceitem um pacote de resgate, criando um “corredor sanitário” e evitando a contaminação de outras economias. O debate sobre como dar uma solução permanente à crise da dívida na Europa será realizado hoje em uma reunião de ministros de Finanças em Bruxelas.

Irlanda e Portugal serão cobrados para que apresentem detalhes de como esperam frear os gastos públicos e honrar o pagamento dos juros de suas dívidas astronômicas.

MasoMas o mercado e os países mais influentes da União Europeia (UE) não acreditam que as medidas de austeridade serão suficientes. O Fundo Monetário Internacional (FMI), a Alemanha e o Banco Central Europeu (BCE) insistem que chegou a hora de Irlanda e Portugal considerarem uma intervenção.

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, defendeu novos pacotes de resgate e “uma nova cultura de estabilidade na Europa”.

Portugal admitiu que investidores estão cada vez mais propensos a acreditar que o país pedirá ajuda internacional e que o risco de contágio é “extremamente alto”. Mas insinua que deve ser a Irlanda quem deve aceitar logo o pacote.

Depois da crise na Grécia, no começo do ano, a UE criou um fundo de quase US$ 1 trilhão para países em dificuldades. Mas agora, mais uma vez divididos, os países se atacam. “Tudo está em jogo. Se o euro fracassar, então é a Europa que fracassará”, disse ontem Merkel.

Nem todos gostaram do recado. O primeiro-ministro grego, George Papandreou, acusou Merkel de ter tornado a situação ainda pior para Portugal e Irlanda ao insistir que o mercado deve pagar por futuros pacotes de resgate a partir de 2013. “Isso pode criar uma profecia que se cumpriria. Isso pode forçar economias a irem à falência”, disse. Espanha, Irlanda e Luxemburgo também criticaram Merkel.

O banco Barclays estima que um eventual resgate da Irlanda teria de chegar a 80 bilhões para fazer efeito. “Uma intervenção da UE está sendo preparada”, confirmou Michael Noonan, porta-voz do partido de oposição na Irlanda, o Fine Gael.

Dominique Strauss-Kahn, diretor-gerente do FMI, também confirmou que o Fundo está “pronto para ajudar a Irlanda” se for preciso. O governo alemão pressiona para que o pacote seja criado com certa rapidez e que a Irlanda aceite a ajuda como forma de limitar as especulações.

O governo irlandês confirma que tem mantido reuniões com a UE. Mas insiste que até hoje não fez qualquer pedido de ajuda. Parte da justificativa é que o país não aceitaria abrir mão de sua soberania. Mas a resistência do governo irlandês vai além do orgulho. O temor é que a UE e o FMI exijam que o país aumente seus impostos. Parte da expansão do Tigre Celta havia ocorrido graças a taxas baixas que atraíram empresas como Google e Dell. 

Grécia não cumprirá acordo com FMI

Déficit orçamentário do país chegou a 15,4% do PIB em 2009, valor superior aos 13,6% que haviam sido calculados meses atrás 

16 de novembro de 2010 | 0h 00

Jamil Chade – O Estado de S.Paulo

A dívida da Grécia é maior do que todos imaginavam e as metas de redução do déficit público não serão atingidas em 2010, como Atenas havia prometido ao FMI. O alerta foi feito ontem pela Comissão Europeia ao publicar o volume total da dívida dos países. O governo grego admitiu que não tem mais como cumprir para este ano seus compromissos assumidos com as entidades internacionais.

Já o Banco Central Europeu advertiu que a Grécia poderá ser obrigada a adotar mais medidas de austeridade.

Segundo a UE, o déficit orçamentário dos gregos chegou a 15,4% do PIB em 2009. O valor é bem acima dos 13,6% que haviam sido calculados há apenas alguns meses. A dívida pública ainda chegou a 126% do PIB no final de 2009, acima de qualquer outro país europeu.

A estimativa anterior era de que a taxa não chegava a 116%. Para o novo cálculo, os dados incluíram as dívidas das empresas estatais e os buracos nos fundos sociais dos governos locais.

Para o mercado e para o próprio governo, a revisão dos números significa que a Grécia não conseguirá cortar seu déficit para 8,1% do PIB ao final de 2010, como havia prometido ao ter acesso a 110 bilhões de um fundo de resgate da UE e do FMI.

Ontem, o FMI, a UE e o Banco Central Europeu se reuniram em Atenas para debater até que ponto os gregos estavam tomando as medidas necessárias para cortar suas dívidas. Atenas deixou claro que não terá como cumprir o acordo e a dívida em 2010 será mais alta do que se previa.

No lugar da meta de déficit de 8,1% do PIB em 2010, o novo objetivo é de 9,4%. Para 2014, a meta de uma redução para menos de 3% será mantida. “O novo ponto de partida para o déficit de 2009 revela a magnitude do esforço fiscal sem precedentes”, afirmou o Ministério de Finanças em uma nota.

Atenas admitiu que as condições impostas pelo FMI e pela UE para emprestar em maio 110 bilhões aos gregos não serão cumpridas.

Reorganização. Mas o governo prometeu não tomar novas medidas em 2010 para elevar impostos. No lugar disso, o setor público será “reorganizado”. “Não vamos colocar mais uma vez a conta nas costas da população”, disse George Papandreou, primeiro-ministro grego, que na quinta-feira apresenta ao Parlamento seu orçamento para o país em 2011.

Uma opção admitida por Papandreou é de que a Grécia peça para que seu prazo para repagar a dívida seja prolongado além da data de 2015. Mas o Banco Central Europeu acredita que a solução não seja adiar o pagamento, e sim adotar novas medidas de austeridade.

“Para atingir a meta de 2011, a Grécia pode precisar certamente de novas medidas que não foram pedidas antes ou que não estão contempladas no plano atual”, alertou o vice-presidente do Banco Central Europeu, Vitor Constancio.

Nesta semana, o BCE, a UE e o FMI decidirão se as garantias dadas pelos gregos são suficientes para que mais uma parcela de 9 bilhões seja liberada para o governo de Atenas honrar suas dívidas. Em maio, 30 bilhões já foram dados em troca de amplas medidas de austeridade. O resultado, para os críticos, foi uma contração do PIB de 4,5%.

Ineficaz. Apesar de promover amplos cortes de gastos, redução de salários e demissões, o governo não tem conseguido elevar a arrecadação. Papandreou conseguiu vencer as eleições locais no último fim de semana, o que deu confiança ao governo de que deveria continuar na trajetória de medidas de austeridade.

Mas a votação escondeu outra realidade: nunca na história democrática da Grécia um número tão baixo de pessoas participou das eleições. Em Atenas, o número foi de apenas 34%. Em todo o país, a taxa foi de 47%. Na Grécia, ao contrário do restante da Europa, o voto ainda é obrigatório.

Apesar da baixa participação, o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, elogiou os eleitores gregos pelo apoio às medidas de austeridade. “Isso nunca ocorreu no passado. Apesar de um programa tão duro quanto o que os gregos devem enfrentar, a população entendeu que é necessário e a maioria deu seu apoio ao governo”, afirmou Strauss-Kahn. 

Luis Nassif

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