Argentina: reaprendendo a cuidar das próprias feridas

Jornal GGN –Um controle de câmbio ineficaz trouxe a Argentina de volta aos holofotes – da maneira mais delicada possível. Sofrendo as inconstâncias econômicas desde 2001, com o famoso calote da dívida externa, o país passa por um momento de incerteza nos mercados e total desconfiança empresarial e de seus próprios cidadãos.

Na última sexta-feira (24), o dólar alcançou um de seus maiores picos nos últimos anos (chegou a 8 pesos), o que obrigou o governo a remover seu severo controle de compra de dólares pela população – embora tenha restringido-as a US$ 2 mil por mês.  A indústria, por sua vez, tem sofrido com a falta de intermediários para facilitar as importações e seus bens de capital e as reservas de capital já preocupam as autoridades locais.
 
“O mercado paralelo “come solto”, é ainda pior que no Brasil e agrava ainda mais a situação”, conta Otto Nogami, professor de economia do Insper, que já chegou a ser abordado em Buenos Aires por uma camareira de hotel ofereceu-lhe uma troca segura de reais e dólares por pesos.
 
Para ele, mesmo com todos os problemas que vem atravessando, o governo não deve voltar atrás.  “A reserva cambial argentina é realmente deplorável. No entanto, pela característica do atual governo, não devem dar um passo atrás. As  medidas, ao que parecem, são mesmo de caráter permanente, estimulando a exportação e combatendo a importação – justamente para que não haja um movimento muito forte nas reservas cambiais. Mas é sempre importante lembrar do grave problema do desabastecimento interno, a grande luta interna do combate à inflação e os preços pressionados. É quase um jogo de sinuca”, afirmou.
 
Os números atuais da economia portenha também não são nada animadores: a taxa de juros de referência disponível de 21%, inflação a 28%). O banco central deu então um primeiro passo para conter as altas galopantes, quando ao elevar a taxa de juros em suas operações de mercado aberto para 25,5% (de 19,6% na semana anterior).
 
Impacto no Brasil
 
A Argentina é o terceiro maior em exportação para o mercado brasileiro (depois da China e os EUA) e o maior deles, quando se trata de produtos manufaturados. Em 2013, Argentina representava 8% do total de exportações do Brasil (US $ 19,6 bilhões). De acordo com analistas, a depreciação do peso tende a afetar a moeda do Brasil, bem como sua dinâmica financeira. Por sua vez,  as fracas  perspectivas negativas para as exportações para a Argentina, devido à recente queda da moeda e fraca atividade econômica, devem colocar pressão sobre o real. Além disso, o crescente déficit em conta corrente, baixo crescimento, inflação elevada e política fiscal desajustada podem aumentar as chances de contágio.
 
O diretor de câmbio do Banco Paulista, Tarcísio Joaquim, discorda desta teoria, muito difundida entre economistas ao longo desta semana. “Hoje não temos mais esse vínculo com a Argentina como antigamente. O Brasil certamente ficará de olho, atento, embora a situação por aqui também não esteja fácil. No entanto, estamos em outro patamar, separados, numa desvinculação quase total”, diz.
 
Já para o professor Nogami, teremos problemas de “importação de laticínios, cereais e outros itens agropecuários. E sem esquecermos que também exportamos bens duráveis e ainda enfrentaremos algumas barreiras com nossos produtos, o que pode afetar nossa capacidade”.
 
 falta de credibilidade sobre a moeda, inclusive da própria população. as pessoas preferem e trabalham com dólar. população economicamente ativa mandando dinheiro para o exterior. demanda muito grande e oferta pequena por peso. moeda local se desvalorizasse abruptamente.decisão arriscada. efeito boiada. situação ruim. problema não é a moeda, mas a economia de forma geral. reservas precisam melhorar – estão quebrados. inflação surreal, falta de credibilidade no país, fuga de capital e investidores, altas taxas de juros.
 
Patrícia Krause, economista da Coface, confirma esta questão. “Como os argentinos possuem uma economia polarizada, deixaram de controlar o câmbio para ajustar a balança comercial local. E a instabilidade do governo, que muda as regras a todo momento, aliado a um movimento passivo da população, ajuda a contribuir para a crise generalizada”, diz, afirmando que o movimento não chegará aos moldes de Grécia ou Chipre.
 
Nogami conclui que a saída é uma só: renegociar a dívida externa. “Isso não minimiza os riscos, mas abre uma brecha para o investidor e financiador estrangeiros, o que ajudaria o governo a equacionar suas finanças. Resgatar a credibilidade do sistema financeiro argentino, o que poderia levar o argentino a confiar novamente em seu sistema financeiro, inclusive guardando poupança na própria Argentina evitando assim a evasão de divisas para o Uruguai, por exemplo, onde trocam por dólares e depositam em contas correntes”, diz.
 
E para todos os especialistas que acompanham a situação, uma medida ainda simples, mas que sofre com subterfúgios aparentemente salvadores para o problema atual: os argentinos não cuidam da própria ferida, apenas a limpam ao redor.
 
Redação

21 Comentários

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  1. O post não abordou o problema

    O post não abordou o problema central. “”Renegociar a divida externa” depende de CREDIBILIDADE, ninguem tem nenhuma no atual governo argentino. Em uma Argentina derretendo em 2001 foi conduzida uma magistral moratoria, exemplo de livro, “”case” de como se conduz uma renegociação em beneficio do Pais em condiçõs extremamente difieis

    mas havia um HOMEM de peso, postura, conhecimento e capacidade, o Ministro da Economia Roberto Lavagna que deveria ter sido o candidato natural à Presidencia, hoje a Argentina estaria no topo.

    Com esse troupe de ladrões, demagogos vulgares, com um Ministro da Economia com cara e postura de roqueiro de periferia e com estorias cabeludas sobre tudo em sua vida, quem é que vai renegociar alguma coisa? Quem acredita no Kissilove?

    Só a Menina Moça Presidente, que escolhe Ministros por ua juventude e aparencia fisica, mesmo com cerebro de perdiz,

    a Casa Rosada depos da “”queda”” da Presidente que a deixou arrebentada até hoje não tem crédito para comprar pão.

    A postura do governo sempre foi péssima, irresponsavel, manipulador de estatisticas, ameaçador de empresario com revolver na mesa (Ministro Guillermo Moreno), um governo que consegue ao mesmo tempo agredir os industriais, os agricultores, os exportadores, os concessionarios de serviços publicos, o capital estrangeiro e quem aparecer na frente,

    enquanto chovem num crescendo as denuncias de mega corrupção, como pode esse governo negociar alguma coisa?

    A salvação da população é a fuga para o dolar, o paralelo explode, o pais afunda, o problema da Argentina nunca foi economico, é POLITICOm se achamos tuins os politicos brasileiros e porque poucos conhecem os politicos argentinos.

    1. Excluindo o viés ideológico do texto…

      Realmente Lavagna fez um grande trabalho e merecia um reconhecimento maior.

      Economia é uma ciência POLÍTICA, mas as vezes não se pode deixar contaminar tudo pela ideologia.

      Em 2005 quando Nestor o demitiu e Palocci mandava e desmandava por aqui, eu me perguntava por quê o Brasil não tem um ministro da economia como Roberto Lavagna?

      Pena que Lavagna tenha se aproximado do pessoal que quebrou a Argentina (2001) como Eduardo Campos aqui no Brasil.

      1. http://www.editora34.com.br/d

        http://www.editora34.com.br/detalhe.asp?id=776

        Meu caro Felipe, provavelmente vc já comprou mas se não ai vai uma recomendação para o livro de memorias de Lavagna, lançado no Brasil há poucos meses, um homem de qualidade, sério e competente que é raro na Argentina.

        Compare o sobrio Lavagna com esse piolho Kissilove, quem vai levar a sério um tipinho desses, sem curriculo, sem experiencia, sem perfil, sem cultura, como é possivel uma Presidente colocar esse insignificante como Ministro da Economia em tempos de crise? Ai nem é questão de ideologia, é estupidez e ignorancia.

        A União Sovietica não brincava com competencia, o Politburo encontrava nomes de familias aristocraticas para cargos chaves, como Gyorgi Chicherin, Ivan Maisky, Marechal Timoshenko, Andrei Gromyko, não importa a ideologia mas é brincar com a sorte colocar pessoas sem nivel em cargos chaves, esse é o mal da Argentina, o unico requisito é ser “bonitinho”.

          1. O Ministro Mantega é um

            O Ministro Mantega é um profissional de respeito que está fazendo o melhor que pode na quase  impossivel tarefa de organizar a economica brasleira. Mas a eficacia de um Ministro da Economia não depende só dele, ele será tão eficiente quanto o tamanho da carta branca que lhe é dada para operar. E a carta que a Presidente Dilma dá a Mantega tem a dimensão de um papelzinho que o periquito do realejo tira da caixinha, é quse zero.

            Mas mesmo que tivessa máxima autoridade, o Ministro Mantega não tem o perfil de fazer impor sua autoridade sobre os varios instrumentos da economia, o que é essencial para a eficacia da politica economica. Ministros poderosos FAZEM a politica economica, com respaldo do Presidente mas são eles os atores da economia.

            A grande diferença entre um perfil e outro é o apego ao cargo. Grandes Ministros não operam sem maxima autoridade a sua disposição, se lhes for tirada, pedem demissão, não jogam com seu nome na subserviencia. Tipicos desse perfil foram Oswaldo Aranha, Ministro da Fazenda duas vezes em decadas diferentes (30 e 50) , Roberto Campos, Delfim Neto e Mario Simonsen. Mantega tem pouca autoridade sobre a politica e economica e parece não fazer muita questão disso..

            Por falta de credibilidade na politica economica a taxa de risco Brasil está uma vez e meia mais alta que a taxa de risco Mexico, o que demonstra a fragil credibilidade da gestão economica no Brasil de hoje.

    1. A sorte do Brasil é FHC não

      A sorte do Brasil é FHC não ter conseguido fazer tudo que Carlos Ménem, Bóris Iéltsin e os antecessores do Chávez fizeram:

      – Privatizar e terceirizar tudo, não sobrando uma única política pública desenvolvimentista;

      – Mesma cotação da moeda local e o Dólar durante uma década corroendo as exportações;

      1. Como vc não sabe nada…
        A

        Como vc não sabe nada…

        A Argentina está com problemas no câmbio justamente por:

        “Mesma cotação da moeda local e o Dólar durante uma década corroendo as exportações;”

    2. E agora o sr. torce para que

      E agora o sr. torce para que o Brasil tenha a mesma sorte e assim poderá eleger a Marina/Campos p/ consertar tudo o que está errado no Brasil e  neste continente que ousou ir contra o poderio dos mercados e de outros poderosos gananciosos.

  2. Daqui a pouco vai aparecer

    Daqui a pouco vai aparecer alguem dizendo que o problema da Argentina é a Imprensa (PIG) que não gosta de governos progressistas. Que a Argentina assim como a Venezuela, Equador e Cuba são países maravilhosos e os empresários é que geram inflação com sua ganancia.

     

    Que a Argentina sirva de exemplo para o governo  Brasileiro.

     

    1.   De jeito nenhum.
        O PIG

        De jeito nenhum.

        O PIG ADORA progressistas, especialmente aqueles que progridem roubando o erário. É só ver como são um mel com tucanos, a exemplo do que ocorre agora com o trensalão.

  3. Interessante. Em tudo lembra

    Interessante. Em tudo lembra  a campanha  que   se mantém  há doze anos  num país vizinho…

    Nestor K.,  recobrou a dignidade  e a  economia   quando se negou saldar os  fundos “buitres”,obra

    dos liberais e simpatizantes da ditadura  que  quase  reduziu a  Argentina a escombros.

    Hoje, temos o prefeito,Macri,    ambicionando  o cargo de Cristina e  sabotando seu governo.

    O milicos  julgados,condenados e humilhados pelo seu  repugnante passado, tem seus  secretos aiados, “Clarin”, é um deles,beneficiado com  uma papeleira  para  suprir em  sociedade com  “La Nación”,sua necessidades  gráficas.

    Os ruralistas são e sempre foram  o segmento  estratégico da economia  de diálogo   difícil. Suas concessões  ou são impossíveis  de serem executadas ou  de  satisfazerem   a insaciável voracidade  peculiar desse  setor.

    Até  o  inacreditável Cavallo,foi convidado,pelo nosso PIG, para   “explicar” os rumos da economia atual,como se não fosse um dos irresponsaveis pelos  trágicos rumos  que o país  tomou em passado recente.

    O continente  tem muitos inimigos e  todos  postados e ativos dentro de seus  respectivos países.

    É a  Operação Condor,”indolor”…

     

    1. A realidade é visivel a olho

      A realidade é visivel a olho nu, não precisa discurso, a economia argentina foi destruida por pessima administração, NÃO ADIANTA POR A CULPA EM OUTROS, muito menos nos agricultores que sustentam o pais, apesar do confisco de 37% de sua receita (CONFISCO CAMBIAL) pelo Governo. tambem não adianta desfilar erros do passado, dos militares, dos ingleses, a econoia argentina afundou por causa de UM BANDO DE INCOMPETENTES E CORRUPTOS.

  4. ““O mercado paralelo “come

    ““O mercado paralelo “come solto”, é ainda pior que no Brasil e agrava ainda mais a situação”,”

      COMO É QUE É? Quer dizer que o mercado paralelo na Argentina é “ainda pior” que no Brasil? Hoje em dia quem se utiliza de paralelo é só bandido, mas tem que rolar um “pior” para o Brasil, senão o pessoal da imprensa não dorme. Incrível.

    1. O mercado flutuante de cambio

      O mercado flutuante de cambio no Brasil e aberto, transparente e contabilizado, praticamente não há paralelo.

      A Argentina o paralelo é imenso, vale o dobro do oficial e se faz na rua, em salinhas do centro, em subsolos de cafés,

      em todo lugar onde existe gente viva, qual a semelhança com o Brasil? ZERO.

  5. O PT mudou antes de chegar ao

    O PT mudou antes de chegar ao poder, abandonou o radicalismo e, felizmente, não seguiu a linha de Chavez e cia. Por isso não estamos no mesmo barco da Venezuela e Argentina.

    Aqui, apesar de usarem a crítica das privatizações como discurso eleitoral, não houve sequer uma reestatização. 

    Ainda bem…

  6. Administrando a Crise ?

    A Argentina não esta administrando “a Crise” coisa nenhuma . 

    A decadas que a Argentina esta vivendo de ” MILONGAS” politicas e economicas .

    Tudo por que quer dar o passo maior do que a perna .

    Viver uma irrealidade social 

    E se possivel , sem pagar a conta .

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