As mudanças demográficas

Coluna Econömica – 19/06/2007

Há várias maneiras de analisar e interpretar as mudanças que estão ocorrendo no mundo. Existem discussões sociológicas, antropológicas, as mudanças com a matriz energética, a visão geopolítica. Infelizmente, o país ainda é prisioneiro das análises curtas e imediatistas do mercado. “Investment grade”, abertura financeira, análise de fluxos de comércio.

A Brazil CFA Society é filial de uma ONG americana que nasceu após o crack de 1929 da Bolsa de Valores. Visa educar analistas para o mercado.

Em recente encontro em São Paulo, convidou como palestrante o demógrafo americano Richard F. Hosenson, que trouxe uma visão nova sobre o futuro da economia mundial, à luz dos fenômenos demográficos que estão ocorrendo.

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Sua constatação é que, pela primeira vez na história, o planeta está envelhecendo – isto é, a quantidade de crianças que nasce é inferior à dos velhos.

Entre 2000 e 2010 a quantidade de crianças de 0 a 9 anos decrescerá cerca de 3%; entre 10 e 19 anos, cerca de 18%. Na outra ponta, aumentará em 25% a população de adultos com 50 a 59 anos; e em 12% a de adultos com mais de 80 anos.

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É um processo ainda desigual. O Japão envelhece muito mais rapidamente que a China. Em 1990 os velhos representavam 12%, e os jovens 18% da população. Até 2050, os velhos representarão 35% e os jovens 12%.

A alternativa para suprir a falta de mão de obra foi um investimento maciço em robôs. Em breve – prevê ele – a China começará a sofrer falta de mão-de-obra. Antes da Revolução Cultural, eram seis crianças por mãe; agora, é apenas uma. Obviamente, ainda existe um enorme contingente de população a ser incorporada ao mercado de trabalho. O que compromete um pouco sua análise

Em sua avaliação, o envelhecimento da China está ultrapassando o dos Estados Unidos. O fato de se ter 100 milhões de trabalhadores para 1,3 bilhão de habitantes cria um passivo previdenciário explosivo. Prevê ele que os aposentados não terão como cuidar de si próprios, já que o estoque de ativos dos fundos de pensão chineses equivalem a menos de US$ 100,00 / ano per capita. Com o aumento do custo do salário na China, a mão-de-obra já está migrando para o Vietnã e países vizinhos.

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No Brasil está ocorrendo um fenômeno que ele chama de “envelhecimento sutil”. A taxa de natalidade vem caindo, mas apenas em 2050 haverá um afunilamento da pirâmide. Portanto, o país tem tempo para resolver a questão da Previdência.

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Hosenson critica a visão da imprensa, de focalizar apenas a inflação em suas análises. É o emprego que determina o PIB diz ele.

Além disso, nos últimos anos as uniões familiares se estabilizaram. As pessoas estão se separando menos e, com isso, planejando seus gastos no longo prazo. E os EUA têm uma taxa de fertilidade similar à dos países emergentes.

Nos EUA, a economia tem sido turbinada por jovens entre 20 e 25 anos, entrando no mercado de trabalho e adquirindo seus primeiros bens, montando sua primeira casa. A partir dali, os investimentos familiares serão marginais.

Para incluir na lista Coluna Econômica

Luis Nassif

8 Comentários

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  1. Nassif,

    Para um leigo ou um
    Nassif,

    Para um leigo ou um cidadão comum, isto fica bem claro quando alguem como este Sr. Hosenson afirma claramente que ” É o emprego que determina o PIB “…
    O resto é para os cabeções de planilha ficarem enrolando, enrolando, enrolando, enrolando ….

  2. Pela avaliação,do demógrafo
    Pela avaliação,do demógrafo americano, este século ,antes de seu final,será testemunha de um possivel “gerontocídio”.Processo semelhante, a revitalização ambiental, como uma queimada…

  3. Analiso sob duas oticas a
    Analiso sob duas oticas a questao do envelhecimento da populacao. A primeira otica, mais pragmatica e objetiva ‘e a questao da previdencia, obviamente com menos contribuintes e mais beneficiarios o deficit da previdencia(aproveitando o tema do tornos e planilhas de ontem) tende a explodir. Desta analise surge minha outra constatacao, esta de ordem mais filosofica. Para conter este movimento de rombo previdenciario, provavelmente teremos que trabalhar por mais tempo, ate uma idade mais avancada. Teremos menos tempo para a familia, para as realizacoes pessoais, para livros, para nao fazer nada, etc…
    “Quanto menos você comer, beber, comprar livros, for ao teatro, aos bailes, às boates, quanto menos você pensar, amar, teorizar, cantar, pintar, tanto mais você será capaz de economizar e tanto maior será o seu tesouro. Quanto menos você for, tanto mais você terá…”Karl Marx-manuscritos economicos e filosoficos

  4. Caro Nassif, boa noite.


    Caro Nassif, boa noite.

    Dá para perceber que você está pulando miudinho. Veja o que escreveu:

    Segundo bloco, início: “…- isto é, a quantidade de crianças que nasce é inferior à dos velhos.”

    Esta não alcancei. Mas, está certo, tem gente que já nasce velha…

    E nesta de baixo, mas os chineses não ganham US$20,00 por mês? Pelo menos é o que se repete por aqui.

    Terceiro bloco, no final: “Com o aumento do custo do salário na China, a mão-de-obra já está migrando para o Vietnã e países vizinhos.”

    Agora, esta última. É preciso alguém vir de fora e dizer esta obviedade para nós ficarmos no Ah é… é, ah é… é?

    Último bloco: “Hosenson critica a visão da imprensa, de focalizar apenas a inflação em suas análises. É o emprego que determina o PIB diz ele.”

    Por fim, considerando a observação do Dante Caleffi, os “morredouros” já aparecem no filme “O mundo em 2.020” (Charlton Heston, E. G. Robinson, Josef Cotten, me foge o nome do diretor). Não vai ser em 2.020, mas poderá muito bem acontecer um pouco mais tarde. O filme não é agradável, antes é aterrador.

    Abraço

  5. Não concordo com as realções
    Não concordo com as realções de causalidade dessa materia.

    Não acho que os robos estão suprindo a escassez de mão-de-obra, mas sim o contrario. Os robos cada vez mais eliminam postos de trabalho, principalmente os de menor qualificação. As ferramentas de informática tambem eliminam postos de trabalho, devido ao aumento de produtividade.

    A produção de bens industriais e alimentos estão cada vez mais sendo automatizados, dispensando mao-de-obra.

    Futuramente, teremos excesso de oferta de tudo, e descobriremos que o ser humano será cada vez mais desnecessário para a civilização, a não ser como agente consumidor.

    Talvez possamos criar robôs consumidores…

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