Consórcios pagam mais do que giro atual dos aeroportos

Do Valor Econômico

O ágio elevado oferecido no leilão de concessão dos aeroportos deve impor aos consórcios vencedores um novo desafio: como financiar o desembolso da outorga de R$ 24,5 bilhões ao governo. Embora possa ser dividida durante o prazo do contrato, os valores superam a geração de caixa anual obtida hoje pelos aeroportos.

É certo que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) será a principal fonte de recursos para os investimentos nas concessões. Mas as linhas do banco não englobam a outorga, que apenas no caso de Guarulhos consumirá pouco mais de R$ 800 milhões por ano, enquanto a estimativa de geração de caixa do aeroporto hoje gira em torno de R$ 500 milhões.

O consórcio Invepar, que venceu a disputa para operar o maior aeroporto do país, teve assessoria financeira do banco francês BNP Paribas no leilão. O Standard Bank foi o assessor da Aeroportos Brasil (Triunfo) e o Citibank atuou ao lado da Inframérica (Engevix).

O BNP e o Standard confirmaram oficialmente a participação, mas não deram detalhes de como será realizada a modelagem financeira da operação. O BNP informou apenas que o financiamento será feito diretamente (sem repasse) pelo BNDES e que, dependendo do prazo para o desembolso dos recursos, poderá entrar com um empréstimo-ponte, em conjunto com outras instituições financeiras.

Como o BNDES certamente será a primeira porta na qual os consórcios irão bater, a expectativa agora fica por conta da avaliação do banco sobre as propostas vencedoras. Uma possível, embora pouco provável, recusa da instituição em financiar o projeto inviabiliza o lance do consórcio vencedor.

Antes de uma sinalização positiva do BNDES será praticamente impossível para as empresas tentarem qualquer outra forma de financiamento no mercado. Resta, portanto, a opção do aporte direto de capital dos sócios.

Tanto o ágio oferecido como os nomes dos vencedores do leilão foram recebidos com grande surpresa por banqueiros que prestaram assessoria financeira para os consórcios que foram derrotados. Dos três aeroportos, apenas o de Viracopos apresentou valores mais próximos ao esperado antes do leilão, segundo um executivo. Embora o maior ágio tenha sido registrado em Brasília, foi em Guarulhos que o ágio chamou mais a atenção.

Já havia no mercado a expectativa de que os projetos rodassem no negativo, pelo menos nos primeiros anos, mas com o custo da outorga os questionamentos sobre a viabilidade das operações aumentaram. Os bancos aguardam com ansiedade ter acesso aos modelos usados pelos consórcios, assim que forem consultados sobre pedidos de financiamentos, o que, para um executivo ouvido pela reportagem, deve acontecer em breve.

Além das linhas do BNDES, o governo concedeu isenção de imposto de renda aos investidores que adquirirem debêntures emitidas pelas concessionárias dos aeroportos. Mas essa opção dificilmente será usada no curto prazo, pelo menos enquanto houver dúvidas sobre a viabilidade da operação. (Colaboraram Aline Lima e Fernando Travaglini)

Luis Nassif

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