Contas sobre o salário mínimo – 2

Salve Paes,

Não discordo de nada nos números, mas faço uma leitura um pouco diferente nas conclusões.

A conta que as pessoas fazem em doláres é um erro, posto que aluguéis e serviços não são dolarizados. Por outro lado, também não é um drama greco-mexicano : boa parte do consumo de quem tem renda até 2 sm é dolarizado/dolarizável : alimentos, energia, vestuário.

Mas comparar valores reais com os de décadas atrás não dá certo também. Ocorre que nos anos 50/60 existia a figura do meio-salário mínimo (para aprendizes, etc.), nem 25% da população era formalizada. A partir dos anos 70 as pensões rurais e por idade também eram “meio”, e ainda havia os salários mínimos regionais, menores nas outras regiões que os do Sudeste. Enfim, ganhar muito menos que 1 salário mínimo era a norma. Naqueles tempos “trabalhistas”, perceber 1 s.m. seria mais equivalente aos atuais pisos setoriais por categoria. No Estado de S.P. atual quase já não deve haver categoria com piso inferior a 2 S.M. federais.

TeriTeríamos que comparar o que determinada atividade recebia nos anos 60 com o que recebe agora. Isso é difícil de obter, então o jeito é olhar para a renda média do trabalho assalariado. Por este prisma, aos trancos e barrancos, deve ter se evoluído umas 4 ou 5 vezes nos últimos 50 anos, sendo que o valor de referência de salário mínimo perde seu significado.

Eu respeito os trabalhos e análises do Dieese e sindicatos, mas temos que levar em conta que eles também representam demandas políticas.

A gente não pode falar em arrocho exagerado. Houve momentos de arrocho temporário (1965-1975; 1981-1984; 1990-1992; 1996-2003) Também não devemos dar muita bola para indicadores de consumo, comprar tv hoje em dia não significa nada, em 1960 significava muito. Penso que mais relevante são os grandes movimentos, como : % com acesso a plano de saúde, número médio de m2 por domicílio. Por estes critérios não houve arrocho, ao contrário, depois de Coreia do Sul e Taiwan o Brasil deve ter sido o país em que mais suas classes trabalhadoras aumentaram a afluência em 5 décadas (apesar da longa estagnação 1981-2003)

De qualquer modo, não importa a medição, o período atual é, para o trabalhador brasileiro o melhor dos últimos 30 anos (desde o pico do milagre de 1980) Por outras medições pode estar melhor ou não em comparação com o pico de 1960 (final do governo JK, antes do período inflacionário com alguma estagnação de 1961-1964)

Mas JK também não era essa mágica toda : o crescimento acelerado em seu governo deu-se com concentração de renda tanto regional como intrarregiões. O crescimento no governo militar idem. O crescimento no período 1993-1996 foi um pouco concentrador e baseado em aproveitamento de capacidade ociosa. Só que 1960 foi a primeira medida de Gini, não sabemos como era exatamente a concentração antes.

O governo Lula tem o mérito de finalmente devolver a concentração geral de renda para o ponto de 1960, que não era tão bom… para socialdemocracia ainda falta. Vamos levando. E pagou a conta política : os estados do Centro-sul onde não se obteve 50% para presidência são os que em parte financiaram a desconcentração.

Então, nem tanto ao sol nem tanto ao mar. O histórico não é ruim.

As perspectivas são de dobrar a renda média real do trabalho até 2030 (3,5% reais por 20 anos), algo como o poder aquisitivo atual de Grécia, Portugal, Coreia do Sul. Não é mau, se mantiver a redução da concentração – ainda que em menor ritmo – e se de fato um esquema mínimo de renda mínima for aplicado aos 20 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza.

Quanto a Plínio : não concordo com muito do que ele fala, mas isso é política. Ele está indubitavelmente certo, porém, numa coisa : o progresso material do Brasil não remove o “muro”. Este pode até diminuir de altura e se mover de lugar, mas removê-lo requereria um grau muito maior de conscientização do que o existente em nossa sociedade. Isto já é mais complicado.

Quanto aos EEUU, você está totalmente certo. A evolução lá tem sido um desastre desde 1970. Há uma rtigo recente no Viomundo a respeito, excelente, do N.Y. Times. Mas outros países ricos da Europa também viveram alguma reconcentração de renda nos anos 90 e 00. 

Luis Nassif

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