Declaração de guerra do 1%: e quando o mercado não precisar mais da economia de mercado?, por Romulus

Por Romulus & Núcleo Duro

– A nossa distopia é a utopia deles, e vice-versa.
 
– O início: do The Guardian – “empresa japonesa substitui trabalhadores do seu escritório por inteligência artificial”.
 
– A transição (hoje): precarizam-se grandes parcelas populacionais nos países centrais – o grande mercado consumidor do fordismo nos “30 (anos) gloriosos” – mas essa perda é compensada pelo poder de compra das (novas) classes médias no restante do mundo, fruto direto da liberalização globalizante do comércio, mas também do fluxo de capitais.
 
– Amanhã: com a independência do capital em relação à mão de obra, o discurso da “espiral da prosperidade” do Adam Smith morre. E com ele a justificação ética para a economia de mercado.

 
– A justificativa política (e legal) – ao menos a alegada – de “incentivar a pesquisa” com direito de propriedade intelectual é justamente o “bem comum”, coletivo, de chegar-se, enquanto sociedade, ao progresso que, sem o incentivo, supostamente não existiria.
 
– O pós-dinheiro: o ouro já nada representará quando não puder ser cobiçado e não cumprir mais seu papel de segregador. De que adiantaria andar “nas ruas de ouro” dos céus bíblicos?
 
– Pois amanhã , nem mesmo a ~ cobiça ~ – do “99%” – será mais necessária!
 
– A luta: a única estratégia política para esse horizonte de tempo é martelar, até convencer o tal do “pobre de direita”, tese neo-newtoniana de que donos do capital “só viram longe porque se apoiaram nos ombros de bilhões durante 10 mil anos” para expropriar os meios quando a “declaração de independência” (e de guerra!) chegar.
 
– E é para hoje: essa deslegitimação do discurso da apropriação tem de começar bem antes do “juízo final” chegar.
 
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Redação

61 Comentários

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  1. Como seria?
    Como seria essa distopia sem mercado?
    O 1% viveria em feudos isolados e independentes uns dos outros, com as necessidades providenciadas por máquinas?
    Porque, se não existir mercado, não tem troca de mercadorias.
    Acho que isso não vai acontecer, e sim que os 99% ficarão FORA do mercado.

    1. É mercado de massa

      Grosso modo é isso mesmo.

      Mas pq “feudos independentes”? Pq nao um grande feudo apenas… lindo, como no filme “Elysium”?

      Quando falo “fim do mercado” é mercado de massa. O 99%, como vc aponta.

      E com tao poucos atores neste novo “mercado”, do 1% – de cumpadres apenas – nem precisa de moeda, precisa? Precisa de meio circulante para expressar a riqueza e facilitar trocas?

        1. A McKinsey concorda

          Direito, Economia, Relações Internacionais e um curioso por natureza (ciência política, filosofia, teologia, biologia, medicina, artes…). E vc?

          Na discussao do proprio post, onde ninguem achou “bobajada” tampouco, tem economista, advogado, cientista político, antropólogo, filósofo…

          Da uma olhada na materia da Xinhua que postei, com um relatório da consultoria McKinsey – de hoje!!

          Eles nao acham “bobajada” nao…

          Como te falei antes, a dúvida é ~ apenas ~ sobre a ordem de grandeza da exclusão e qual a resposta que se dará a ela.

          Leia tb a passagem de Marx que outro comentarista – cético como vc – trouxe e o meu comentário.

          Vale lembrar o Delfim: “quem mais fez mal ao marxismo foram os marxistas (não Marx)”

          1. Nenhum trabalho está garantido.

            Das coisas mais básicas – como colheita em lavoura ou limpeza doméstica – às mais “cerebrais”, nenhum trabalho está livre de ser automatizado.
            Desde o começo deste século já temos aspiradores de pó robóticos autônomos, que andam pela casa enquanto limpam e correm para a tomada mais próxima quando detectam baixa carga na bateria.
            Nas grandes agências de notícias, já se usa inteligência artificial para “peneirar” a internet e as redes sociais, agregar informações e publicar sob a forma de artigos que são lidos todos os dias sem que as pessoas se dêem conta de que aquilo foi gerado por máquina.
            Na minha atual área de atuação (tradução técnica de patentes, propriedade intelectual, estudos, manuais) já existe software que faça meu trabalho, ainda que – por enquanto – com desvantagens e incorreções.
            Todos os dias sai alguma novidade em automatização de procedimentos de saúde, diagnósticos, tratamentos e até cirurgias.
            Jé existe inteligência artificial para manipular bolsas de valores, disparando milhares de compras e vendas em milissegundos, algo que nenhum ser humano poderia acompanhar.
            Ninguém será imprescindível, a não ser os “donos” disso tudo.
            E os donos não somos nós.

          2. Robô faxineiro

            Isso aí!

            Bem lembrado…

            Eu mesmo tenho um robô desses que varre e aspira o pó, indo depois se carregar na tomada.

            Na verdade, tenho 2: tem outro que esfrega o chão com desinfetante, depois que o primeiro tirou o pó.

            Morando na Europa nós temos que “nos virar”…

    2. A imagem dos Feudos é clara, porém….

      A imagem dos Feudos é clara, porém estes feudos sem trocas com milhares de outro feudos seriam possíveis de existir, em cada feudo, pela imagem forjada, deveriam ter máquinas que deveriam produzir tudo, desde o automóvel, extrair o petróleo, construir um refrigerador e papel higiênico.

      Vocês sabem qual é o tamanho de uma máquina que produz papel? Ou uma máquina que produz vidro plano?

      Este mundo distópico é inviável, ficaria mais confortável para os 1% mais ricos distribuir toda a sua riqueza, pois se não viveriam como reis da antiguidade que possuíam ouro e prata, mas não tinham papel higiênico para limpar a bunda!

      O artigo para mim é uma imensa bobajada!

       

  2. Pós modernismo líquido…

    Lula fez a si e ao PT dentro do mundo sólido…

    O golpe se deu a partir do mundo liquido…

    Se o PT não rumar para o mundo liquido, toda realidade construída no mundo sólido será comprometida pela narrativa construida pelos golpistas dentro do mundo líquido…

  3. Poderá acontecer mesmo

    O 1% mais rico usa as pessoas, povos e países e os descarta quando não mais precisa. O povo brasileiro  se tornou descartável quando China e Índia ofreceram mão de obra semi escrava com salários bem menores. Por isto muitas de nossas linhas de produção  migraram para a Ásia. A única coisa que os  EUA precisam de nós no momento , é o petróleo e minérios. Por isto passaram a destruir e asfixiar nossa economia com a lawfare, para forçar o nosso povo a sumir da face da Terra. Para pegarem o petróleo não precisam de nosso povo, pelo contrário, o povo até os atrapalharia com nosso nacionalismo, assim pensam eles.

    Agora, com a próxima Revolução Industrial, os EUA estão próximos de substituir seres humanos por máquinas muito mais baratas do que operários, em suas indústrias, e até os chineses e Hindus ficarão desnecessários.

    ——–

    Nossa elite pensa que faz parte do 1% mais rico da Terra, mas não faz. Se o verdadeiro 1% mais rico quiser, descartarão a nossa elite também.

    —-

    Talvez o grande sonho do 1% mais rico seja ter o planeta todo só pra eles, sem a existência dos 99% mais pobres para dividirem nada. Já possuem a maior parte da riqueza da Terra, e possuiriam também a maior parte do espaço físico, dos recursos naturais caso isto venha a ocorrer.

    Vão destruindo de país em país, Iraque, Líbia, Brasil, e sabe-se lá qual será o próximo, até só sobrarem se possível for eles como civilização, e o resto seja só mato. 

  4. Distropias não conseguem existir.

    Quando assisto estes filmes que apresentam situações distrópicas fico o tempo todo tentando descobrir todos os erros estruturais que aparecem nestes filmes, e invariavelmente noto perfeitamente que estas fantasias distrópicas não se sustentam nem estrutural ou nem organicamente.

    Geralmente estes comentários sobre fantasias distrópicas são feitas por pessoas dissociadas da produção, ou seja, quem não sabe que para prender algo em outro lugar é necessário ao mínimo parafusos.

    Há várias coisas básicas do que qualquer distropia esquece, a primeira falando tecnicamente é que ainda não foi inventado qualquer (qualquer mesmo) equipamento que não necessite manutenção, porém alguém pode dizer, mas esta poderá ser feita por robots com inteligência artificial.

    Aí vem a segunda regra básica, 99,99% de todos os equipamentos do mundo não tem manuais completos que mostrem exatamente como estes equipamentos funcionem, logo a inteligência destes robots deverão ser de tal ordem que consigam IMAGINAR a onde está o erro na descrição dos equipamentos, ou seja, começamos com o problema não técnico, que virá a seguir.

    Depois desta poderíamos mostrar a interdependência que uma sociedade tem a fontes básicas de suprimento que são muitas vezes esquecidos devido a sua insignificância no sistema produtivo, porém a inexistência dos mesmos inviabiliza o funcionamento dos outros. Poderia seguir a diante em todas as possibilidades deste tipo de sociedade, que não tenha base a solidariedade mas sim o individualismo, mas paro por aqui.

    Saindo da pura técnica e passando para a antiga ficção científica que era escrita por pessoas que não tendo efeitos visuais para impressionar o público tinham que pensar.

    Robots com inteligência artificial o programador não tem capacidade de prever o que ele vai fazer, e quanto mais complexo e eficiente for a máquina com capacidade de ser até um certo ponto inventivo e possuir capacidades para IMAGINAR coisas, ninguém saberá o que vai sair da cabeça destas máquinas, por exemplo, uma curiosidade, eles vão ter acesso ao Manifesto do Partido Comunista de Marx e Engels? Se estes robots forem capazes de fazer associações o que impedem eles interpretarem a frase:

    “Os proletários nada têm a perder nela a não ser suas cadeias. Têm um mundo a ganhar”. como

    “Os robots nada têm a perder nela a não ser suas cadeias. Têm um mundo a ganhar.”

    e seria não uma luta de classes mas sim uma luta entre espécies onde uma pode simplesmente eliminar outra!

    Mesmo que quem estivesse no comando fossem humanos, tais como engenheiros, no momento que estes tivessem no comando de novo a frase seria modificada.

    “Os engenheiros nada têm a perder nela a não ser suas cadeias. Têm um mundo a ganhar.”

     e de novo a oligarquia se veria bem mal.

    A nossa sociedade é extremamente complexa, e depois de milhares de anos chegamos a alguns acordos que impedem que massacremos totalmente os outros, para montar uma sociedade distrópica sem operários e com robots operários com inteligência capaz de manter indefinidamente esta sociedade em funcionamento, é tão complicado que com a evolução tecnológica acredito mais numa sociedade UTÓPICA do que numa DISTRÓPICA, seria mais simples e mais humano!

    1. Bom comentário! Mas (infelizmente) discordo. Veja…

      Queria ter a sua fé…

      Como digo no texto, acho que pode ir para a utopia ou para a distopia, dependendo da apropriação ou não dos meios pela coletividade no dia do “juízo final”.

      A crítica que vc faz não invalida a tese em si. Questiona, apenas, a ordem de grandeza da exclusão na humanidade.

      O argumento da necessidade de “técnicos para manter as máquinas” é antigo… dos tempos do Ludismo na Inglaterra da Revolução Industrial!!

      E, não surpreendentemente, é repetido no estudo francês que eu menciono no artigo, onde se aponta que a perda de empregos na França com automação / IA seria “apenas da ordem de 10%”.

      POXA! Haja (necessidade de) técnicos para cada robozinho / máquina / IA!!

      Vamos lá… façamos uma conta de padaria:

      Se, no exemplo da reportagem da empresa japonesa (the Guardian), a inteligência artificial substituiu 30 funcionários de escritório, seguindo a ordem de grandeza do estudo francês, 27 deles encontrarão novos empregos na nova ordem e só 3 (10%) ficarão sem empregos de qualquer maneira.

      Eita inteligência artificial vagabunda que Dona IBM criou, hein??

      Ela vai precisar de 27 designers / assistentes técnicos para sair do papel e se manter?

      É isso mesmo?

      E isso para cada empresa em que ela for empregada?

      Duvido muito…

      Obviamente, uma equipe apenas da IBM – no mundo inteiro – desenvolve e dá assistência técnica à IA! E para todas as empresas que a adotarem. No máximo uma equipe técnica para cada idioma (se isso ainda for relevante…).

      Além do mais, esse argumento do “a tecnologia cria novos empregos que substituem os destruídos” não se sustenta sozinho no contexto atual.

      Veja:

      Se a tecnologia fosse gerar número igual, ou mesmo semelhante, de empregos que destroi, qual seria seu sentido econômico em termos de redução de custos (tomando a economia como um todo)??

      A única razão seria um aumento de produtividade em relação à mão de obra “tradicional”, humana…

      Mas qual o sentido disso – de novo: tomando a economia como um todo e nao cada empresa individualmente – se vivemos, na verdade, num contexto de superprodução e limitação da produção pelo lado da demanda (e não pela capacidade de produzir)?

      *

      Se é para ter “esperança” (entre aspas mesmo)…

      Aposto mais no comentário do Ciro, no post:


      *

      Sobre a sua consideração mais filosófica, sobre a IA conquistar autonomia e se voltar contra os criadores…

      Não tenho como – eu – calcular a probabilidade disso.

      Tem gente que diz que é viagem.

      Mas tem gente – do nível do físico inglês Stephen Hawking – que acha bem possível e por isso pede cautela nos estudos com IAs.

      Já mencionara isso no post anterior (outubro):


       

      Sinceramente não sei qual distopia é pior… “Exterminador do Futuro” ou “Elysium”.

      Aliás sei sim: prefiro que a humanidade seja exterminada pelos robôs mesmo…

      Eles, ao menos, têm uma chance de acertar e não propor concentração de “renda” (?) máxima possível pro conflito distributivo. Já o homem… não tenho dúvida sobre qual seria o impulso natural ~ individual ~ predominante. ¬¬
       

      1. Caro Rpmulus, vou te desapontar.

        Como não queria me alongar não desci o meu comentário a um nível de detalhe que deveria ter exposto, o custo da engenharia de projeto e os custos de implantação de qualquer coisa que não seja uma produção artesanal.

        Vamos a um exemplo claro, o preço de um destes automóveis de super-luxo, se acompanhares o preço de automóveis verás que há uma enorme diferença de preços de um automóvel de luxo construído em linha com os automóveis de super-luxo produzidos quase que artesanal.

        Se comparares os modelos Top de linha da Mercedes, da BMW como a BMW i8, com carros montados de forma quase que artesanal, por exemplo a famosa  Bugatti Veyron Mansory Vivere, verás algo estraordinário, a BMW i8 custa no mercado europeu algo em torno de US$140.000,00 enquanto a Bugatti custa US$2.800.000,00, ou seja, 20 vezes mais do que a BMW. Porém se comparares não só o desempenho das duas mas o acabamento das duas verás que o desempenho não é superior a 10% de uma sobre a outra, e o acabamento interno na Bugatti é algo que deixa muito a desejar.

        O que leva isto? Os custos de engenharia de projeto bem como a diminuição de preço pela quantidade de produtos produzidos, enquanto uma é construída em torno de algumas centenas a outra são milhares. Isto sem contar que na fabricação da Bugatti a maior parte dos elementos mecânicos são feitos sob encomenda para indústrias que fabricam para outros automóveis.

        Uma fantasia distópica em que se produzisse para somente o 1% da população seria uma sociedade fadada ao atraso e com uma involução tecnológica permanente, resultando que em uma ou duas gerações estes 1% vivessem muito pior do que seus antepassados.

        Para dar um exemplo mais simples, num mundo para este 1% não se poderia ter coisas comuns como telefones celulares ou até tabletes, pois a produção de um novo modelo seria praticamente impossível. Poderia enumerar uma centena de exemplos, porém o importante é dizer que acima de um determinado nível de concentração de renda os custos se tornam tão crescentes que se tornam impossível mesmo para os 1% terem uma vida com um padrão melhor do que um barão na Idade Média, que por mais rico e cheio de ouro estivesse vivia pior do que qualquer cidadão com um nível salarial médio.

        Todas estas fantasias distópicas ignoram regras básicas da economia, pois os custos fixos seriam crescentes ao infinito e os preços de vendas impossíveis de serem sustentados.

        Não podemos ficar pensando dentro da realidade brasileira e com a nossa cabeça, este problema do aumento da produtividade com a automação já está chegando em países com economia mais avançada e nestes países já estão surgindo diversas opções para combater isto, desde a renda mínima universalizada até reduções maiores na duração do trabalho.

        Estas distopias futurísticas foram criadas pprincialmente nos Estados Unidos devido a noção de quão insustentável tornou-se a sua forma de vida, porém ao mesmo tempo neste país surgiu um candidato que tinha uma plataforma que ia na direção de um socialismo e por incrível que pareça perdeu as eleições devido a fraudes.

        Se Bernie Sanders tivesse aparecido nos USA há vinte anos ele nem chegaria a ter nem 5% do que era previsto para ele caso ele chegasse a ser candidato, logo as coisas estão se movendo, pois as pessoas gostam de assistir o Mad Max, mas detestariam viver na realidade dele.

        1. A forma de expressar riqueza vai mudar

          A escala só possibilita a inovação – como vc corretamente aponta – pq na economia de hoje é a escala nas vendas que possibilita o retorno sobre o investimento – na forma de vendas – que por sua vez possibilita novos investimentos em P&D, e assim sucessivamente.

          A questão muda quando o capital de independentiza da força de trabalho humana e a riqueza passa a ser calculada de outra forma. Hoje o meio circulante já perde progressivamente a vinculação ao valor da hora trabalhada.

          Concordo que há remédios, como a renda mínima universal. Trato disso no texto inclusive!

          O “xis” da questão é colocar o guizo no gato.

          Ou seja: fazer o 1% pagar!

          É exatamente esse o propósito do texto.

          1. Romulus, o problema é passar abaixo do ponto ótimo.

            Agora começas a entender o meu raciocínio, eu por exemplo quando vejo filmes como o da triologia Divergente, enquanto todos ficam olhando o que se passa eu fico olhando o trem que passa pelo meio da cidade e fico pensando, se esta porqueira queimar um dos seu motores, (1) quem vai consertar (2) se o motor estiver queimado quem vai fazer o enrolamento (3) para fazer o enrrolamento eles precisam de fio de cobre de uma determinada bitola (4) onde eles vão arrumar esta porra deste fio?

            Sociedades muito complexas como a nossa precisam bilhões de fábricas que produzem os mais diversos produtos, e muitas destas fábricas tem meia dúzia em todo o mundo, se a sociedade de consumo cai a maioria ou vira artesanato ou simplesmente fecha, pois para que elas se mantenham é necessário uma produção mínima.

            Se uma sociedade passa abaixo do ponto ótimo de consumo ela degringola e voltamos a idade média. (nem falei em itens como remédios).

  5. É a dinâmica cega do capital

    Embora seja um fato que exita uma enorme concentração de renda, não creio que haja este 1% organizado contra o resto.

    Esta enorme concentração de renda faz parte da dinâmica cega do capital. E a substuição do trabalho humano pela máquina. E estamos chegando num ponto em que não haverá trabalho para todo mundo. O resultado é que a maior parte da população tende a se tornar supérflua – quer dizer, inútil socialmente, pois no capitalismo o trabalho (convertido em valor) é o único meio de socialização.

    Mas isto, ao mesmo tempo que representa a vitória completa do capitalismo, é a sua derrota. Pois o valor (capital) só nasce do trabalho. Sem trabalho não há valor nem mais valor. É o que está acontecendo. E tende a aumentar com a indústria 4.0.

    Estamos assistindo o fim do capitalismo. O que virá no seu lugar? Se fóssemos mesmo racionais, seria o comunismo: a cada um de acordo com suas necessidades. E também aboliríamos o trabalho e, em consequência, o dinheiro (valor): apenas repartiríamos as poucas tarefas de manutenção da produção, buscando o menor esforço possível para cada um.

    Mas como a nossa subjetividade, formada no capitalismo, é narcisista e consumista, é provável que a saída seja irracional, neofacista: oligarquias financeiro-industriais monopolizando a economia em conluio com estados policiais de administração de crise, formalmente democráticos ou não.

    Neste caso, os supérfluos viveriam numa economia de fome, perto do crime das prostituição e das drogas, sem empregos ou com empregos precários. E uma minguada classe média apoiando a oligarquia. Seria um pós-capitalismo oligárquico, onde as leis do valor seriam substituídas pelo arbítrio dos ricos. Parece que estamos caminhando para isso. Aí, sim, o 1% estaria no comando.

  6. Não existe capital sem trabalho assalariado

    Sem trabalho assalariado, haverá apenas reprodução simples do capital. Não havendo reprodução ampliada do capital, não haverá acumulação. O problema que a existência do capitalismo é como andar de bicicleta, se o capital não se acumular, ele morre, tal qual uma bicicleta que não é pedalada pára de andar a partir de certo tempo da última pedalada.

    A mais-valia, origem da acumulação, deriva apenas do trabalho assalariado.

  7. 3% Incorporated

    Tendo a acreditar que o futuro está mais para uma mistura de 3% (Netflix) e Incorporated (Syfy). A hora em que o capital se livrar completa ou majoritariamente da mão-de-obra, parte considerável (senão a maioria) dos robôs e IA será utilizada para reprimir (ou manter sob controle) os 97% (ou 99%). Com o tempo, essa maioria será eliminada, seja por meio de guerras, doenças ou fome, ou pela combinação desses fatores. A infraestrutura necessária para proporcionar conforto material para o 1%-3% é mínima. Assim, o capital alocaria apenas o mínimo necessário para a produção de bens de consumo, transferindo o restante para investimentos pesados em meios de segurança/defesa/repressão. Imagino que teremos algo como uns 5% vivendo no País da Cocanha, sendo protegidos por uns 10% vivendo bem, mas sem grandes luxos, que se encarregariam de manter a segurança dos 5% e executar o serviço sujo, sempre que necessário. O restante da população se dividiria entre os pouquíssimos que seriam alocados para trabalhar nas poucas ocupações não dominadas pelas máquinas e IA, e a massa de miseráveis e excluídos (que, com o tempo, tentaria se reorganizar fora da Cocanha).

    A única solução que vejo para não chegarmos a essa distopia é partirmos já para uma solução do tipo Eat the Rich! O problema é que somos, coletivamente, como as rãs na panela. A água vem esquentando há décadas, mas estamos tão estupefatos que não conseguimos sequer esboçar reação. Será que já não passou da hora de tacarmos fogo na lona do circo?

      1. vídeo pesadelo

        O vídeo é uma excelente metáfora, aliás, uma bela descrição de tudo.

        Realmente, a plutocracia mundial, assessorada pelos maiores cientistas em todas as áreas imagináveis, nos mantém em transe na panela, ocupados incessantemente em ‘nos adaptar’ a condições cada vez piores.

    1. Caro ninguém, teu erro básico está na afirmação:

      Caro ninguém, teu erro básico está na afirmação:  “A infraestrutura necessária para proporcionar conforto material para o 1%-3% é mínima.”

      Não é mínima coisa nenhuma, dentro da nossa sociedade atual a grande maioria dos produtos necessitam de produção em massa para serem viáveis de produzir, abaixo de um dado limite a produção industrial se transformará em produção artesanal.

      Além disto reduzindo tanto o mercado de consumo, toda a pesquisa e desenvolvimento para a produção de qualquer novo bem se torna inviável ou simplesmente sem sentido, logo a sociedade primeiro fica estgnada e depois regride.

      Vocês estão ignorando a complexidade da produção na sociedade atual, não estamos no início da revolução industrial, onde lá isto era possível, estamos numa era em que para se produzir um telefone celular precisamos de milhares de pessoas envolvidas tanto na engenheria de projeto como na manutenção de todas as linhas de componentes que fazem parte deste produto.

       

      1. Maestri…

        A partir de um determinado patamar de avanço da robótica e da IA (do qual estamos mais próximos do que distantes), praticamente, elimina-se a necessidade de mão-de-obra humana em grande escala. Você não vai empregar milhões na produção de um bem ou na manutenção de um serviço, quando apenas milhares bastam. Você terá robôs, controlados por IA, cuidando desde a extração da matéria-prima até a entrega do produto final na porta da casa dos 5%. Talvez meia dúzia de seres humanos estarão envolvidas diretamente nesse processo.

        A produção artesanal jamais deixou de existir. Nunca houve crise para o mercado de altíssimo luxo. Afinal de contas, o público-alvo desse nicho (o 1%/3%/5%) não tem problemas em gastar pequenas fortunas (ainda que, para a produção do bem, não se tenha sido gasto um décimo do valor cobrado), para ter acesso a esses penduricalhos que supostamente os diferenciam (uma Bic faz o mesmo serviço de uma Montblanc por uma fração do preço).

        O problema, Maestri, não é a sociedade atual, mas a que já pode ser vislumbrada, na curva da estrada. Hoje em dia, a produção em grande escala só tem a finalidade de baratear produtos porque o consumo em massa é a forma de acúmulo de capital mais eficaz no momento.

        O problema para o capital, hoje, não é o custo da mão-de-obra, mas a própria existência desta. Sim, atualmente, a mão-de-obra ainda é imprescindível para o capital. Porém, a produção em massa – que permite o acúmulo de capital que está sendo investido na substituição da própria mão-de-obra – só faz sentido numa economia na qual haja interesse em manter bilhões alimentados/vestidos/educados/entretidos. A partir do momento em que não houver mais a necessidade de usar milhões de pessoas na produção (porque a robótica e a IA cuidarão da produção, da pesquisa e do desenvolvimento a uma fração do custo atual), o que será dessas pessoas? Continuarão sendo alimentadas/vestidas/educadas/entretidas? Isso tem um custo material muito alto. O capital estará disposto a finalmente pagar a conta (ou o pato)? Ou fica mais barato gastar uma fração desse dinheiro e reprimir e/ou eliminar essa massa “que não contribui para o avanço da sociedade”?

        Hoje, ainda temos o Estado, o qual, em tese, se preocupa com o bem-estar de seus nacionais. A partir do momento em que o Estado se tornar completamente obsoleto e desnecessário para o capital, babau. O capital/mercado (seja lá o nome que se quiser dar a essa entidade) não tem a menor preocupação com o bem-estar dos seres humanos. Essa conta ele joga e sempre jogou nas costas do Estado. A partir do momento em que o Estado não tiver mais condições de controlar o capital, ele (o Estado) se desfaz. No futuro, talvez, tenhamos de quinze a vinte estados nacionais sobrando. O restante será transformado em picadinho. Teremos feudos controlados a mão de ferro por gangues de criminosos. Teremos territórios controlados por grandes corporações e patrulhados por robôs, drones e exércitos particulares. Teremos talvez, um novo colonialismo.

        Outro ponto que você não está levando em conta é a escassez de recursos. Não há no planeta recursos suficientes para manter o consumo de massa na escala atual indefinidamente.

        Ah, sim, um ponto importante é que, a partir do momento em que o capital prescindir da mão-de-obra, acabará o mercado de massas e o acúmulo do capital (pelo menos da maneira como isso ocorre atualmente). Será o ponto no qual ou nos transformaremos em sociedades menos injustas ou mergulharemos no caos.

        Enfim, utopia ou barbárie. Isso se não acabarmos numa hecatombe nuclear ou climática. Dado o nosso histórico e a natureza humana, estou mais inclinado a acreditar na barbárie.

  8. A pergunta é a seguinte:
    Se o

    A pergunta é a seguinte:

    Se o capital puder substituir todos os trabalhadores por robôs inteligentes, quem comprará as bugigangas que o capital produz?

    Não podem ser os trabalhadores, porque estes não mais receberão salários, por que não mais trabalharão.

    E não podem ser os robôs, por que a única justificativa lógica para substituir trabalhadores por robôs é o fato de que estes não precisam de salários.

    Logo, um sistema capitalista totalmente automatizado é insustentável a curtíssimo prazo.

    1. Sua lógica é lógica, mas

      Sua lógica está correta, mas quem disse que os “donos do poder” querem manter o “sistema capitalista”? Primeiro eles mataram o capitalismo do Adam Smith e vivemos na ditadura das grandes corporações – pois de ‘livre’ o mercado hoje tem bem pouco, as maiores corporações odeiam concorrência real.

      O próximo passo é acabar com o capitalismo. Não digo que vai acontecer amanhã, mas as coisas parecem realmente caminhar para o tipo de cenário que o Ninguém ali descreveu: uns poucos irão viver no paraíso, com todos os recursos naturais e avanços científicos à disposição, enquanto o restante irá perecer amargamente.

      Um “Plot twist” seria Deus realmente existir e Jesus voltar. 

      1. Jesus!

        Isso aí…

        A discussão é apenas sobre escala. Nao sobre o movimento.

        A dúvida tb é sobre que caminho vai se seguir na bifurcação: paraíso pro 1% e inferno pro 99% (“Elysium”, “admirável mundo novo”, “snowpiercer”, etc.) ou a utopia de Marx, com o homem liberto da obrigação do trabalho.

        Mas ADOREI seu plot twist!! rs 

        P.S.: me adciona no Face / Twitter!

        1. “A discussão é apenas sobre

          “A discussão é apenas sobre escala”.

          Tendo a concordar.

          Há uns 60 anos atrás, quem diria que o monitoramento permanente dos cidadãos seria possível? No entanto, Orwell estava certo, em grande parte. Hoje o monitoramento permanente é uma realidade. Todo mundo é facilmente localizável, pra dizer o mínimo.

          Enfim, há muitos de nós com a mesma ‘sensação’, pensando de forma semelhante. Não acho que estejamos em um delírio coletivo, as coisas parece que estão piorando mesmo. Eu somente espero que não piorem muito rápido ou que os povos consigam algum tipo de reação, sei lá:

          “de toda aquela força, de toda aquela energia, músculos e entranhas haverá de nascer consciência um dia”. Isso ou que Deus nos ajude, se Ele existir.

          Não é charme, sou esquisita mesmo: não tenho Face.

          Tudo de bom!

  9. O capital é uma relação social, ele não nasce em árvores

    Fragmentos Sobre as Máquina

    (Karl Marx)

    A troca do trabalho vivo pelo trabalho objectivado, quer dizer, a manifestação do trabalho social sob a forma antagónica do capital e do trabalho, é o último desenvolvimento da relação do valor e da produção baseada no valor. O pressuposto desta relação é – e continua sendo – que a massa de tempo de trabalho imediato, a quantidade de trabalho utilizada, representa o factor decisivo da produção de riquezas. Ora, à medida que se desenvolve a grande indústria, a criação de riquezas depende cada vez menos do tempo de trabalho e da quantidade de trabalho utilizada, e cada vez mais do poder dos agentes mecânicos postos em movimento durante a duração do trabalho. A enorme eficiência destes agentes, por sua vez, não tem qualquer relação com o tempo de trabalho imediato que custa a sua produção. Depende, antes, do nível geral da ciência e do progresso da tecnologia, ou da aplicação dessa ciência à produção. (O desenvolvimento das ciências – entre as quais as da natureza, bem como todas as outras – é, certamente, função do desenvolvimento da produção material). A agricultura, por exemplo, torna-se uma simples aplicação da ciência do metabolismo material e o modo mais vantajoso da sua regulação para o conjunto do corpo social. A riqueza social manifesta-se mais – e isto revela-o a grande indústria – na enorme desproporção entre o tempo de trabalho utilizado e o seu produto, assim como na desproporção qualitativa entre o trabalho, reduzido a uma pura abstracção, e o poder do processo de produção que ele controla. O trabalho já não surge tanto como uma parte constitutiva do processo de produção; ao invés, o homem comporta-se mais como um vigilante e um regulador face ao processo de produção. (Isto é válido não só para a maquinaria, como também para a combinação das actividades humanas e o desenvolvimento do intercâmbio humano). O trabalhador não mais introduz a matéria natural modificada (em ferramenta) como intermediário entre si e a matéria; antes introduz o processo natural – transformado num processo industrial – como intermediário entre si e toda a natureza inorgânica, dominando-a. Ele próprio coloca-se ao lado do processo de produção, em vez de ser o seu agente principal. Com esta transformação, não é o tempo de trabalho realizado, nem o trabalho imediato efectuado pelo homem, que surgem como o fundamento principal da produção de riqueza; é, sim, a apropriação do seu poder produtivo geral, do seu entendimento da natureza e da sua faculdade de a dominar, graças à sua existência como corpo social; numa palavra, é o desenvolvimento do indivíduo social que aparece como a pedra angular da produção e da riqueza. O roubo do tempo de trabalho de outrem sobre o qual assenta a riqueza actual surge como uma base miserável relativamente à base nova, criada e desenvolvida pela própria grande indústria. Logo que o trabalho, na sua forma imediata, deixe de ser a fonte principal da riqueza, o tempo de trabalho deixa e deve deixar de ser a sua medida, e o valor de troca deixa portanto de ser a medida do valor de uso. O trabalho excedente das grandes massas deixa de ser a condição do desenvolvimento da riqueza geral, tal como o não-trabalho de alguns poucos, deixa de ser a condição do desenvolvimento dos poderes gerais do cérebro humano. Por essa razão, desmorona-se a produção baseada no valor de troca, e o processo de produção material imediato acha-se despojado da sua forma mesquinha, miserável e antagónica, ocorrendo então o livre desenvolvimento das individualidades. E assim, não mais a redução do tempo de trabalho necessário para produzir trabalho excedente, mas antes a redução geral do trabalho necessário da sociedade a um mínimo, correspondendo isso a um desenvolvimento artístico, científico, etc. dos indivíduos no tempo finalmente tornado livre, e graças aos meios criados, para todos. O capital é em si mesmo uma contradição em processo, [pelo facto de] que tende a reduzir o tempo de trabalho a um mínimo, enquanto, por outro lado, coloca o tempo de trabalho como a única medida e fonte de riqueza. Assim que, diminui o tempo de trabalho na forma necessária para aumentá-lo na sua forma excedente; coloca portanto, o trabalho excedente, em medida crescente, como uma condição – questão de vida ou de morte – para o necessário. Por um lado, o capital convoca todos os poderes da ciência e da natureza, assim como da cooperação social e intercâmbio social, com o fim de tornar a criação de riqueza independente (em termos relativos) do tempo de trabalho empregado nela. Por outro lado, o capital necessita de utilizar o tempo de trabalho como unidade de medida das gigantescas forças sociais entretanto criadas desta maneira, e para as confinar dentro dos limites requeridos para manter o valor já criado como valor. As forças de produção e as relações sociais – dois aspectos diferentes do desenvolvimento do indivíduo social – aparecem ao capital como meros meios, e não são para ele mais que meios para produzir apoiando-se na sua base limitada. Na verdade, contudo, elas são as condições materiais para rebentar com essas mesmas bases. “Uma nação é verdadeiramente rica quando em vez de 12 horas se trabalha apenas 6. Riqueza não é dispor de tempo de trabalho excedente” (riqueza efectiva), “mas de tempo disponível, para além do usado na produção imediata, para cada indivíduo e para toda a sociedade”. [The Source and Remedy, etc., 1821, p.6.]

    A natureza não produz máquinas, locomotivas, caminhos-de-ferro, telégrafos, etc. Estes são produtos da indústria humana; materiais naturais transformados em órgãos da vontade humana sobre a natureza, ou da participação humana na natureza. Eles são órgãos do cérebro humano, criados pela mão humana; o poder do conhecimento objectivado. O desenvolvimento do capital fixo indica até que ponto o conhecimento social geral se tornou uma força produtiva imediata, e, portanto, até que ponto, as condições do processo da própria vida social está sob o controlo do intelecto geral e foi transformado de acordo com ele. Até que ponto as forças produtivas sociais foram produzidas, não só sob a forma de conhecimento, mas também como órgãos imediatos da prática social, do processo vital real.

    1. Obrigado pela citação, mas…

      Obrigado pela citação, a que o Piero, o Ciro e a Maria tinham feito referência na discussão, no próprio post.

      Só nao entendi como, a partir dela, vc chegou à sua conclusão.

      Ao que parece vc está discordando do que previu Marx, nao?

  10. Será possível criar robots inteligentes que se reproduzam?

    O que acontecerá ao capitalismo quando os mercados estiverem saturados?
    Por Guardador de Rebanhos 03/03/2010 às 18:30

    Quando não foi mais possível a expansão dos mercados nem a intensificação da exploração dos antigos mercados, o que acontecerá com as crises cíclicas de superprodução do capitalismo?

    De acordo com Marx, “o mais a produção capitalista se desenvolve, o mais ela tem que produzir numa escala que não tem nada ver com a demanda imediata mas que depende duma expansão constante do mercado mundial. Ricardo utiliza a afirmação de Say segundo a qual as capitalistas não produzem para o lucro, para a mais-valia, mas que produzem valores de uso diretamente para o consumo – para seu próprio consumo. Ele não toma em conta o fato que as mercadorias devem ser convertidas em dinheiro. O consumo dos operários não basta, porque o lucro provem precisamente do fato que o consumo dos operários é inferior ao valor do seu produto e que ele (o lucro) é tão grande quanto o consumo é relativamente pequeno. O consumo dos próprios capitalistas também é insuficiente.”

    No Manifesto Comunista, de autoria de Marx e Engels, consta que:

    “As relações burguesas de produção e de troca, o regime burguês de propriedade, a sociedade burguesa moderna, que fez surgir gigantescos meios de produção e de troca, assemelha-se ao feiticeiro que já não pode controlar as forças internas que pôs em movimento com suas palavras mágicas. Há dezenas de anos, a história da indústria e do comércio não é senão a história da revolta das forças produtivas modernas contra as atuais relações de produção e de propriedade que condicionam a existência da burguesa e seu domínio. Basta mencionar as crises comerciais que, repetindo-se periodicamente, ameaçam cada vez mais a existência da sociedade burguesa. Cada crise destrói regularmente não só uma grande massa de produtos já fabricados, mas também uma grande parte das próprias forças produtivas já desenvolvidas. Uma epidemia, que em qualquer outra época teria parecido um paradoxo, desaba sobre .a sociedade – a epidemia da superprodução. Subitamente, a sociedade vê-se, reconduzida a um estado de barbaria momentânea, dir-se-ia que a fome ou uma guerra de extermínio cortaram-lhe todos os meios de subsistência; a indústria e o comércio parecem aniquilados. E por quê? Porque a sociedade possui demasiada civilização, demasiados meios de subsistência, demasiada indústria, demasiado comércio. As forças produtivas de quê dispõe não mais favorecem o desenvolvimento das relações de propriedade burguesa; pelo contrário, tornaram-se por demais poderosas para essas condições, que passam a entravá-las; e todas as vezes que as forças produtivas sociais se libertam desses entraves, precipitam na desordem a sociedade inteira e ameaçam a existência da propriedade burguesa. O sistema burguês tornou-se demasiado estreito para conter as riquezas criadas em seu seio. De que maneira consegue a burguesia vencer essas crises? De um lado, pela destruição violenta de grande quantidade de forças produtivas; de outro lado, pela conquista de novos mercados e pela exploração mais intensa dos antigos. A que leva isso? Ao preparo de crises mais extensas e mais destruidoras e à diminuição dos meios de evitá-las.”

    Do Manifesto Comunista consta ainda que:

    “A burguesia só pode existir com a condição de revolucionar incessantemente os instrumentos de produção, por conseguinte, as relações de produção e, com isso, todas as relações sociais. A conservação inalterada do antigo modo de produção constituía, pelo contrário, a primeira condição de existência de todas as classes industriais anteriores. Essa subversão contínua da produção, esse abalo constante de todo o sistema social, essa agitação permanente e essa falta de segurança distinguem a época burguesa de todas as precedentes. Dissolvem-se todas as relações sociais antigas e cristalizadas, com seu cortejo de concepções e de idéias secularmente veneradas, as relações que as substituem tornam-se antiquadas antes mesmo de ossificar-se. Tudo que era sólido e estável se esfuma, tudo o que era sagrado é profanado e os homens são obrigados finalmente a encarar com serenidade suas condições de existência e suas relações recíprocas. Impelida pela necessidade de mercados sempre novos, a burguesia invade todo o globo. Necessita estabelecer-se em toda parte, explorar em toda parte, criar vínculos em toda parte.”

    Constando ainda da citada obra o seguinte trecho:

    “Devido ao rápido aperfeiçoamento dos instrumentos de produção e ao constante progresso dos meios de comunicação, a burguesia arrasta para a torrente de civilização mesmo as nações mais bárbaras. Os baixos preços de seus produtos são a artilharia pesada que destrói todas as muralhas da China e obriga a capitularem os bárbaros mais tenazmente hostis aos estrangeiros. Sob pena de morte, ela obriga todas as nações a adotarem o modo burguês de produção, constrange-as a abraçar o que ela chama civilização, isto é, a se tornarem burguesas. Em uma palavra, cria um mundo à sua imagem e semelhança.”

    Quando não foi mais possível a expansão dos mercados nem a intensificação da exploração dos antigos mercados, o que acontecerá com as crises cíclicas de superprodução do capitalismo?

    Eu arrisco que capitalismo se estatizará, superando de vez o capitalismo privatista, a economia será planificada de forma a evitar a superprodução e o individuo continuará escravizado. O socialismo burguês será implantado em todo o globo.

    1. Outra distopia

      Esse “socialismo burguês” é outra forma de distopia.

      Em tese menos ruim que a hipótese “elysium” / “admirável mundo novo”. Mas tudo depende, tao somente, do “grau” de escravização do indivíduo e o quão “menos ruim” será em relação à hipótese da barbárie.

       

  11. Ai ai ai

    Só escrevi porque era muita bobagem.

    – sem mão-de-obra não há capitalismo
    – com as mudanças energéticas da próxima década, a tendência é o ouro se valorizar em um cenário de enfraquecimento internacional do dólar. Lembrando também que o ouro deve em parte seu valor por suas propriedades físico-químicas

    1. argumento matador (!)

      “sem mão-de-obra não há capitalismo”

      Sim… diante desse argumento matador, tão bem desenvolvido (!), me rendo!

      Aliás, nos rendemos todos da discussão: advogados, economistas, antropólogos, cientistas políticos…

        1. O problema da sociedade burguesa não é a escassez

          As tecnologias de automação podem dar um impulso necessário ao crescimento econômico?

          Você acha, Romulus, que esse crescimento econômico decorrente da automação vai resolver o problema econômico?

          Se os grandes pensadores da economia, entre eles Ricardo e Marx, estiverem certos, esse crescimento só vai piorar o cenário econômico e social, pois o problema das sociedades burguesas não é a escassez, ao contrário, é a superprodução. Em sendo assim, esse impulso ao crescimento advindo das tecnologias poupadoras de mão-de-obra nas sociedades assalariadas vão piorar o problema em vez de solucioná-los.

          Essa questão de renda básica universal é um paliativo. Os franceses descendentes de estrangeiros que não conseguem ser absorvidos pelo mercado recebem essa renda mas não se contentam com ela e os franceses nativos estão descontentes com eles desde 2005, quando irrompeu aquelas revoltas de ruas. O bolsa família é uma renda básica e todos os que estão de barriga cheia o condenam. Não é por aí. Se os meios de produção não forem socializados, teremos desemprego em massa, com pessoas recebendo esmolas dos estados, enquanto teremos meia dúzia de empregados, sob o fardo do sobretrabalho, sustentando a todos. Se os meios de produção forem coletivizados, a jornada de trabalho poderá ser reduzida sensivelmente, garantindo trabalho para todos e meios dignos de vida.

          1. >> Você acha, Romulus, que

            >> Você acha, Romulus, que esse crescimento econômico decorrente da automação vai resolver o problema econômico?

            Não acho não!

            No artigo meu argumento vai mais ou menos no caminho do que vc fala.

            De fato, há um “bolsa-família” na França chamado RSI. Mas é de apenas 500 euros. O salario mínimo (SMIC) é de 1150.

            O debate sobre renda minima universal vai alem do RSI… é para dar um salario mesmo.

             

          2. Romulus, responda a minha pergunta em relação ao crescimento

            Romulus, eu formulei a minha pergunta levando em consideração que o problema da sociedade burguesa não é a escassez da produção, mas o seu excesso, e que, portanto, o crescimento econômico no atual modo de produção só vai piorar a situação dos 99%. Mas você respondeu no sentido da renda mínima universal.

            Caso você entenda o inglês, eu transcrevo o trecho abaixo e peço a você que responda mais uma vez à minha pergunta, desta feita levando em conta que o problema da sociedade burguesa não é a falta de crescimento, mas a superprodução:

            “Because it has been said, that abundance may be prejudicial to the interests of the producers, it has been objected that the new doctrine on this subject is, that the bounty of Providence may become a curse to a country; but this is essentially changing the proposition. No one has said that abundance is injurious to a country, but that it frequently is so to the producers of the abundant commodity. If what they raised was all destined for their own consumption, abundance never could be hurtful to them; but if, in consequence of the plenty of corn, the quantity with which they go to market to furnish themselves with other things is very much reduced in value, they are deprived of the means of obtaining their usual enjoyments; they have, in fact, an abundance of a commodity of little exchangeable value. If we lived in one of Mr. Owen’s parallelograms, and enjoyed all our productions in common, then no one could suffer in consequence of abundance, but as long as society is constituted as it now is, abundance will often be injurious to producers, and scarcity beneficial to them.”

          3. Eu respondi!É a primeira

            Eu respondi!

            É a primeira parte: concordo com vc. E digo isso no texto. E essa sacada vem desde Marx! Inclusive no trecho reproduzido aqui pelo Rui…

            Quem quis “dourar a pílula” foi a McKinsey, no seu relatório.

            Mas ela é ~ paga ~ para isso.

            Reproduzi o relatório nao endossando as conclusões, mas apenas para mostrar que os prepostos do capital nao tentam sequer esconder que haverá exclusao em massa.

            Apenas – os mais civilizados (ou sera espertos?) – acenam com “renda minima universal”.

            *

            O comentário seguinte, sobre renda mínima, é em resposta ao seu comentário sobre esse tema.

            A renda mínima é a resposta “moderada” para a exclusao que está por vir.

            A “correta” – na minha opiniao – é a socialização dos meios.

          4. Qual foi mesmo o motivo do nosso desentendimento?

            Acho que a minha ignorância. Sei lá. Estou procurando aqui e não sei porque todo esse desentendimento. O mundo e uma grande ilusão, né, Toquinho?

  12. Declaração de guerra do 1%: e quando o mercado não precisar mais

    Romulus, meu nobre

    talvez as distopias hollywoodianas não sejam futurísticas, e sim se referem ao presente. até já argumentei isto antes, em outros posts.

    é muito mais um cenário de futuro sob o ponto de vista dos 1%, mas que de fato reflete apenas uma situação já existente, assim como um desejo de perenizá-la.

    mas é um sonho impossível. um capitalismo, ou pós capitalismo (como quiserem), sem mercado, sem lucro, sem dívida e sem crédito (ou seja, sem capital!) e sem o fator humano (sem o trabalho).

    o sonho impossível do capitalismo seria tb o seu maior pesadelo. o capitalismo é completamente disfuncional. não tem qualquer redenção. não há qualquer futuro para ele. nem mesmo com algum “Relatório Lugano”.

    (óbvio aqui que compreendo perfeitamente a linha de debate sobre um pós-capitalismo, um neo-ultra-feudalismo, como nos filmes).

    afinal, capitalismo é um “modo de produção”, sim, mas do produção do quê? de tudo! da realidade, do desejo, da subjetividade, do tempo!

    uma vez já fiz referência um filme antigo, “THX 1138”, agora cito outro: “Zardoz”.

    “Elysium”, “Matrix”, “The Terminator” não são o futuro! é o que já está aqui. são a descrição do próprio capitalismo. só que narrado como estórias de ninar para os 1% (0,001%, na verdade).

    só que mesmo os 1% são prisioneiros na Matrix. não tem nenhum “humano” no controle do capitalismo contemporâneo. já é a IA o gestor do capitalismo globalizado. e não este papo de “máquinas espirituais” e “singularidade científica”. menos ainda de Illuminati associados a Reptlianos.

    o Kapital é o grande vampiro fazendo de todos apenas zumbis. esta é a “Revolução Z” renovada a cada momento. o Exterminador do Presente. deste eterno presente que se repete a cada dia.

    por exemplo, “2001, Uma Odisséia no Espaço” jamais se cumpriu. porque era o futuro sob o olhar do presente, em 1968. tem um mainframe na nave! nada de web e notebooks e tablets…

    robôs que se reproduzem? existem desde a Revolução Industrial (daí as reflexões de Marx em seu fragmento sobre as máquinas). do mesmo modo que os insetos fazem parte do processo de reprodução dos vegetais, as máquinas se reproduzem através do trabalho de pessoas nas fábricas.

    outro lance: no filme “Interestelar” tem uma mega-nave se deslocando para outros planetas, levando nela exatamente o mesmo tipo de vida que destruiu as condições de vida na Terra. é muito bizarro! tem beisebol! e mesmo após o colapso ambiental, ainda praticam na Terra a monocultura extensiva.

    são nada mais do que delírios paranóicos. a eterna frustração de narcisos apaixonados pela própria imagem, um reflexo intangível.

    em “Interestelar” tem a sequência do hiper-cubo. aí sim o filme acerta em cheio no alvo. mas sem spoilers, desta vez.

    outro filme, “A Chegada”, também foca direto no ponto. a cultura, a linguagem. o que é o tempo? o que é a “realidade”? e tem decorrências políticas fortíssimas. mais uma vez, sem spoilers.

    esta discussão é fascinante. e absolutamente necessária.

    abraços

    p.s.: o mesmo com o assunto ET. sempre estiveram aqui! somos nós, os “humanos”. mais uma vez, uma fábula, uma metáfora, de nossa própria condição. temos uma profunda incapacidade de compreender uma “realidade”, que nada mais é do que produção incessante de nossa cultura, de nossas relações sociais. vivemos como “O Show de Truman”, um reality show dentro de uma gigantesca bolha.

    p.s. 2: preenchi a verificação de segurança do GGN. não sou um robô. mas isto é bom ou ruim?

    HAL, o Big Brother em 2001

    1. valeu

      Vou publicar seu comentario como comentario no meu blog hj.

      >> (óbvio aqui que compreendo perfeitamente a linha de debate sobre um pós-capitalismo, um neo-ultra-feudalismo, como nos filmes).

      Pois é… vc vê que tem muito marxista aqui sem essa capacidade – o que NÃO é o caso do proprio Marx! rs

      1. Declaração de guerra do 1%: e quando o mercado não precisar mais

        ->(óbvio aqui que compreendo perfeitamente a linha de debate sobre um pós-capitalismo, um neo-ultra-feudalismo, como nos filmes).

        pois é… mas minha argumentação vai por outro rumo.

        mesmo com toda sua genialidade, Marx era um cara de sua época. apesar de ateu, acreditava piamente na Razão, na Ciência e no Progresso. daí a suposição que o “avanço tecnológico” poderia libertar a humanidade do “jugo da necessidade”, cfe. apresenta no “Fragmento sobre as Máquinas”.

        é a mesma narrativa que é apresentada por filmes como “Elysium”. uma pós oligarquia, uma neo aristocracia, tem tudo e vive do bom e do melhor, encapsulada num condomínio fechado, protegida por um exército particular, num regime de terror para os demais.

        e aqui vem a contradição que este tipo de cenário sci-fi inutilmente tenta ocultar. como vivem os 0,001% hoje? como vivem os 8 homens que tem mais riqueza do que metade da humanidade?

        estão libertos do “jugo da necessidade”?

        ao contrário! são tão escravos do Kapital como o mais miserável dos trabalhadores. vivem prisioneiros da máquina de acumulação do capital.

        qual a qualidade de vida deles? ok, tem helicópteros, jatinhos, iates, boeings, ferraris… mas e qualidade de vida? trabalham como uns condenados até morrerem. o tesão deles é a acumulação de capital fictício em suas contas de investimentos!

        vejamos Temer. por que um sujeito com tanto patrimônio e renda se dedica ainda a se torturar e torturar a população? por que não está simplesmente curtindo a vida?

        ah! o poder? qual poder Temer tem de fato? é um refém! qual poder tem de fato um CEO? é um vassalo do Conselho de Administração, compliance, acionistas, agências de risco, mercado…

        nenhum “avanço tecnológico” nos libertará do “jugo da necessidade”. pois o “jugo da necessidade” é nada mais do que um produto de um determinado tipo de organização social. e não vai ser ela que nos libertará dele.

        em outras palavras: o que chamamos de necessidade só existe sob relações sociais que a produzem enquanto tal.

        (e aqui se abre outro papo decorrente desta afirmação: mas não precisamos comer, morar, vestir? sim! mas em quais condições!)

        a invasão alien já aconteceu. somos nós, os insetos da colméia do capitalismo.

        abraços a todos

        .

  13. Marx lutava e acreditava na luta de classes

    Arkx, Marx não acreditava piamente na razão, nem na ciência nem no progresso. Marx não era idealista, ao contrário, ele era materialista. Para ele, a força motriz da história é a luta de classes, não a razão, nem o progresso, nem a ciência, nem consciência. Na Ideologia Alemã ele escreveu: ‘Não é a consciência que determina a vida, é a vida que determina a consciência’. Marx lutava para transformar o mundo em vez de se limitar a interpretá-lo, e acreditava que essa transformação se daria inapelavelmente através da revolução violenta, e não através da consciência.

    Para Marx, o avanço tecnológico era necessário, mas não suficiente para libertar a humanidade do jugo da necessidade. Por isso, enquanto os Luddistas destruíam as máquinas poupadoras de mão-de-obra, Marx disse que o problema não eram as máquinas, mas a forma como elas eram utilizadas. O capitalista investe em máquinas e equipamentos não para reduzir a jornada de trabalho, mas para elevar o grau de extração de mais-valia (relativa) sobre o trabalhador, e isso provoca superprodução e desemprego. Assim, em vez da destruição das máquinas, Marx lutou pela sua coletivização.

    Sobre a escravização de trabalhadores e dos próprios capitalistas pelo capital, consta dos Manuscritos Econômicos-Filosóficos:

    “O capital é o poder de dominio sobre o trabalho e sobre seus produtos. O capitalista tem esse poder não em razão de suas virtudes pessoais ou humanas, mas por ser proprietário do capital. O seu poder é o poder de compra do seu capital, a que nada pode se contrapor.

    Vejamos depois de que forma o capitalista, por meio do capital, desempenha o poder de dominio sobre o trabalho e, em seguida, como o próprio capital domina o capitalista”.

    Como visto, Marx disse que os capaitalistas vivem prisioneiros vivem prisioneiros da máquina de acumulação do capital.

    Quando você, Arkx, afirma que o que chamamos de necessidade só existe sob relações sociais que a produzem enquanto tal, você não está destoando de Marx, pelo contrário, você está concordando com ele:

    “Uma casa pode ser grande ou pequena, e enquanto as casas que a rodeiam são igualmente pequenas ela satisfaz todas as exigências sociais de uma habitação. Erga-se, porém, um palácio ao lado da casa pequena, e eis a casa pequena reduzida a uma choupana. A casa pequena prova agora que o seu dono não tem, ou tem apenas as mais modestas, exigências a pôr; e por mais alto que suba no curso da civilização, se o palácio vizinho subir na mesma ou em maior medida, o habitante da casa relativamente pequena sentir-se-á cada vez mais desconfortado, mais insatisfeito, mais oprimido, entre as suas quatro paredes.

    Um aumento perceptível do salário pressupõe um rápido crescimento do capital produtivo. O rápido crescimento do capital produtivo provoca crescimento igualmente rápido da riqueza, do luxo, das necessidades sociais e dos prazeres sociais. Embora, portanto, os prazeres do operário tenham subido, a satisfação social que concedem baixou em comparação com os prazeres multiplicados do capitalista que são inacessíveis ao operário, em comparação com o nível de desenvolvimento da sociedade em geral. As nossas NECESSIDADES e prazeres derivam da sociedade; medimo-los, assim, pela sociedade; não os medimos pelos objectos da sua satisfação. Porque são de natureza social, são de natureza relativa.”

    Quanto a você, Romulus, eu transcrevi o “Fragmento das Máquinas” para embasar minha conclusão de que as máquinas não produzem (pois elas próprias são produtos do trabalho) nem, menos ainda, se reproduzem, e que, portanto, sem mão-de-obra assalariada não há capitalismo, pois os meios de produção, inclusive na sua forma de capital, não nascem em árvores. Como a Rosa Luxemburgo, acho que nos encontramos numa bifurcação: a barbárie ou o socialismo. Por qual dos dois enveredaremos, vai depender da luta de classes. Pelo andar da carruagem, parece que já estamos trilhando o caminho da barbárie.

    1. neo-ultra-feudalismo

      Desta vez concordo com tudo.

      Quando falávamos de “quando o mercado nao precisar mais de mercado”, evidentemente seria um pos-capitalismo. Um “neo-ultra-feudalismo”, como disse o Arkx.

      Ditto:

      Socialismo ou barbarie

    2. o desejo não tão secreto dos 1%

      pô, Rui

      mas é claro que concordo com Marx – que foi absolutamente genial, analisando o capitalismo em seu nascedouro e indicando corretamente onde tudo iria desaguar: a mercantilização completa da vida e o capital financeiro tornando-se hegemônico. um processo que apenas se completou a partir do final do séc. XX, com o neoliberalismo.

      note como é fundamentada em Marx minha argumentação acerca das distopias hollywoodianas, como “Elysium”, serem um sonho impossível dos 1%, dado que sociedades de mercado (o próprio capitalismo) não poderem prescindir do trabalho, sem o qual não há lucro e, portanto, acumulação de capital (trabalho não pago).

      o sonho do capitalismo (e seus gestores) é eliminar da produção o fator humano, só que ao tentar fazê-lo o custo por produto tende a zero, sem que haja lucro e condição de saldar o financiamento (a dívida, o investimento) do qual nasce o processo produtivo.

      os limites intrínsecos do capitalismo, dada a tendência decrescente da taxa de lucro e as crises de superprodução (e realização de valor) por conta da queda do custo/preço por unidade produzida, geram crises periódicas e cada vez mais brutais, causando imensa destruição de forças produtivas, quase sempre através de guerras. só que agora as guerras ameaçam destruir a sociedade como um todo.

      sem falar na esquizofrenia de um sistema baseado na acumulação infinita de capital num mundo com recursos limitados…

      daí: socialismo ou barbárie. o socialismo como distopia para os 1%. e a barbárie como 100% de distopia planetária.

      agora esclarecendo o ponto de divergência.

      -> Marx disse que o problema não eram as máquinas, mas a forma como elas eram utilizadas.

      -> Assim, em vez da destruição das máquinas, Marx lutou pela sua coletivização.

      e aqui é preciso muito cuidado, para não gerar mal entendidos.

      como um homem de seu tempo, Marx ainda via nas máquinas, e portanto na tecnologia, um fator de “progresso” – até mesmo pelo desenvolvimento das forças produtivas.

      mas a tecnologia, as máquinas, não são neutras. o tipo de máquinas que desenvolvemos são determinadas por relações sociais específicas.

      veja bem a clara decorrência:

      não basta apenas mudar a forma como as máquinas são utilizadas. é preciso mudar a própria forma das máquinas!

      dito de outra forma: outras relações sociais, justas e igualitárias, produzem outras máquinas, outra tecnologia. ou seja: a pura e simples coletivização das máquinas não é suficiente. até pelo contrário, porque esse tipo de tecnologia gerada pelo capitalismo, a ele está indissociavelmente ligada.

      não será através das linhas de montagem capitalistas que se fará a coletivização dos meios de produção, como já o comprovou a URSS.

      não basta tomar de assalto da organização técnica da sociedade, e colocá-la a serviço de outra finalidade. os fins fazem parte dos meios, assim como o conteúdo das formas. cada ferramenta, cada técnica, já traz em si uma concepção de vida.

      observe-se, então, como o tipo de tecnologia desenvolvida sob o capitalismo advém da necessidade de aumentar a produtividade. se o objetivo fosse qualidade de vida, numa sociedade justa e igualitária, a tecnologia seria outra!

      um outro mundo só é possível com outro tipo de tecnologia.

      grande abraço

      o desejo não tão secreto dos 1%:

      .

      1. Porque mudar a forma de uma fábrica de óculos, por exemplo?

        Arkx, o que faz com que uma máquina ou um propriedade rural seja capital não é a sua forma física, mas o fato de eles serem utilizados para extrair mais-valia dos trabalhadores. Os meios de produção não precisam, necessariamente, assumir a forma de capital.

        1. Declaração de guerra do 1%: e quando o mercado não precisar mais

          caro,

          esse assunto me interessa muito. mas não sei se lhe interessa. talvez vc até ache que é puro “intelectualismo”. vou tentar me explicar o melhor que consigo.

          ->Porque mudar a forma de uma fábrica de óculos, por exemplo?

          – porque a “fábrica”, como um conjunto de instalações, com o prédio, linha de montagem, as máquinas, etc… tudo isto já determina, e é determinado, por um tipo de relações sociais próprio ao capitalismo. por isto as fábricas, as penitenciárias, os hospitais, a escolas, os quartéis, todos são parecidos e compartilham de vários elementos comuns. unidades de produção socialistas, coletivas, assumiriam outra configuração, desde espacial até gestão de pessoas. não basta “coletivizar” as fábricas. o que chamamos de “fábrica” é algo visceralmente ligado ao capitalismo;

          (parênteses: é claro que num processo rumo ao socialismo, não se trataria de destruir as fábricas existentes. e sim gerar coletivamente um outro tipo de unidades de produção, as quais, então, também não mais estariam separadas das unidades de construção de conhecimento, por exemplo).

          – as técnicas não estão dissociadas do modo de produção. não são neutras. vejamos o caso de um recorrente argumento da Direita contra quem critica o capitalismo: “e a penicilina? se não fosse o capitalismo, nem teríamos a penicilina!”. só que muito antes da penicilina, Hahnemann e a homeopatia tiveram sucesso contra epidemias. a técnica dos antibiótico já traz em si uma determinada relação com o eco-sistema, com a própria vida. a verdade é que a penicilina, embora salve vidas individuais, sistemicamente causa ainda mais desequilíbrios, como comprovam os super micro organismos cada vez resistentes a ela;

          – muito embora o filme “Eu, Daniel Blake” seja, ao meu ver, derrotista, fatalista, conformista. etc… há duas cenas que evidenciam que o rumo do enredo poderia ter sido outro. é quando Daniel Blake mostra aos meninos técnicas de aquecimento alternativas. ao invés de usar aquecimento elétrico, o que não poderiam fazer por não terem grana, utilizam plástico bolha nas janelas e um engenhoso sistema de vasos de barro superposto sobre velas acesas!

          – o que precisamos é de outras técnicas! técnicas alternativas que nos permitam, o máximo possível, escapar da ditadura do consumo. note como vivemos rodeados de “caixas-pretas”! não sabemos quase nada do funcionamento dos diversos aparelhos que utilizamos. na verdade, nem fogo sabemos mais como fazer!  inúmeras pessoas nascidas na roça, não sabem mais cuidar de uma horta! estamos aprisionados por técnicas opacas! patentes, códigos proprietários… precisamos de open source, código livre e desenvolvido coletivamente, para que todos deles desfrutem. inclusive com o resgate de todos os saberes tradicionais.

          sem mais me alongar no momento, abraços

          .

          1. Muito obrigado pela resposta

            Pensei que fosse a forma física dos meios de produção e dos instrumentos de trabalho como se o capital fosse um objeto e não uma relação social. Pensei que teriam formas anti-ergonomicas só para oprimir ainda mais os trabalhadores.

            Mas a luta de classes faz as condições de trabalho melhorar. Imagine uma fábrica no inicío do capitalismo, quando os trabalhadores ainda não se uniam e se organizavam por maiores salários e melhores condições de trabalho. Certamente que com o atual nível de desenvolvimento das forças produtivas, é burrice humana pessoas ainda terem que trabalhar em minas e carvoarias e outros trabalhos degradantes ou atirado na rua da amargura, mendigando para sobreviver. O que Jesus acharia da nossa sociedade com tanta riqueza e ao mesmo tempo tanta miséria, por pura imbecilidade humana

  14. Por quem dobram os sinos, Camaradas?

    Por Quem dobram os Sinos
    Raul Seixas

    Nunca se vence uma guerra lutando sozinho
    Cê sabe que a gente precisa entrar em contato
    Com toda essa força contida e que vive guardada
    O eco de suas palavras não repercutem em nada

    É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro
    Evita o aperto de mão de um possível aliado, é…
    Convence as paredes do quarto, e dorme tranqüilo
    Sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo

    Coragem, coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz
    Coragem, coragem, eu sei que você pode mais
     

    1. Declaração de guerra do 1%: e quando o mercado não precisar mais

      o Brasil e o mundo mais uma vez numa encruzilhada perigosa da História:

      “[…] o fascismo foi a conseqüência de dois fracassos: o primeiro, dos revolucionários, que foram massacrados pelos sociais democratas e seus aliados liberais; o segundo, dos liberais e social-democratas incapazes de gerenciar efetivamente o capital.”  (Jean Barrot/Gilles Dauvé – Fascismo & Antifascismo).

       

      .

  15. A quem interessar possa

    Valeu, Camaradas.

    No Humanaesfera (  http://humanaesfera.blogspot.com.br/ ), acabamos de publicar dois textos traduzidos (um dele tínhamos te enviado um pedaço) sobre muitos dos assuntos que discutimos esses dias.

    O capitalismo, por si mesmo, vai se perpetuando enquanto conseguir, depois de cada queda da taxa de lucro, sempre ir criando novo tempo de trabalho necessário em novos ramos, em novas mercadorias. Freneticamente. Será que essa criação de tempo de trabalho humanamente inútil não esbarrará em algum limite absoluto? Em uma catástrofe? Mas talvez um mundo que afundasse em catástrofes supérfluas e dificuldades inúteis seja o mundo ideal para a perpetuidade do capital, afinal o que requer mais trabalho necessário do que catástrofes? Uma guerra civil generalizada, com gangues armadas, máfias para todo lado etc. faria das menores coisas do cotidiano algo que requer muito tempo de trabalho necessário, quase tudo, até a alma (p ex.depressão traumática), se tornaria oportunidade para o capital efetuar tempo de trabalho necessário.

    Para o proletário o capitalismo é a crise permanente. Senão ele não tentaria se oferecer no mercado como objeto e ainda achar “bom” aceitarem sua oferta.

    Uma empresa-mundo, que suprimisse a concorrência, é uma empresa que deixou de sofrer pressão externa para acumular. Sobraria apenas a pressão interna. Resta então saber se essa pressão interna é capaz de reproduzir a empresa como capital. Se não for capaz, ela deixará de ser capital (a acumulação do capital subitamente parará) e se tornará como que um neo-feudo. O objetivo da empresa será certamente o “esbanjamento” da riqueza pelos que mandam nela como prova de poder (distribuição de presentes em troca da submissão e monopólio da violência para manter essa submissão e impedir a guerra civil generalizada) e performances ritualísticas (festas) cada vez mais elaboradas e impressionantes. Será que, sem concorrência, os que mandam na empresa poderão resistir a essa “tentação” pré-capitalista?

    Acho claro que a supressão da concorrência por um monopólio (mesmo cooperativo) jamais possa levar a uma ultrapassagem do capitalismo, mas sim a um retrocesso e uma recriação constante das condições de seus surgimento. Ultrapassar o capital envolve abolir a empresa, isto é, suprimir a propriedade privada (particular, estatal, cooperativa), tornando impossível que qualquer vida humana possa ser privada de suas condições práticas (produtivas) de existência. É a supressão da sociedade de classes, não só do capital.

    http://www.brasil.indymedia.org/pt/green/2012/07/509800.shtml
     

     

  16. Eu vejo a vida mais clara e farta, repleta de toda satisfação

    Arkx, seus comentários me remeteram a um trecho da “Guerra Civil em França”, de Marx:

    “A classe operária não esperou milagres da Comuna. Ela não tem utopias prontas a introduzir par décret du peuple. Sabe que para realizar a sua própria emancipação — e com ela essa forma superior para a qual tende irresistivelmente a sociedade presente pela sua própria actividade económica — terá de passar por longas lutas, por uma série de processos históricos que transformam circunstâncias e homens. Não tem de realizar ideais mas libertar os elementos da sociedade nova de que está grávida a própria velha sociedade burguesa em colapso. Na plena consciência da sua missão histórica e com a resolução heróica de agir à altura dela, a classe operária pode permitir-se sorrir à invectiva grosseira dos lacaios de pluma e tinteiro e ao patrocínio didáctico dos doutrinadores burgueses de boas intenções, que derramam as suas trivialidades ignorantes e as suas manias sectárias no tom oracular da infalibilidade científica.”

    Quanto à mudança da forma física dos meios de produção, me lembrei trecho a seguir transcrito:

    “Mas a classe operária não se pode contentar com tomar o aparelho de Estado tal como ele é e de o pôr a funcionar por sua própria conta.

    O poder centralizado do Estado, com os seus órgãos presentes por toda a parte: exército permanente, polícia, burocracia, clero e magistratura, órgãos moldados segundo um plano de divisão sistemática e hierárquica do trabalho, data da época da monarquia absoluta, em que servia à sociedade burguesa nascente de arma poderosa nas suas lutas contra o feudalismo.”

    1. Declaração de guerra do 1%: e quando o mercado não precisar mais

      as fábricas reconfiguradas e o poder ampliado da logística

      “Uma equipe de pesquisadores da Escola de Negócios de Cardiff [Cardiff Business School] estudou a cadeia de ações necessária para fazer uma lata de coca-cola. Todo o processo, começando na mina de bauxita na Austrália e terminando com a lata na geladeira de alguém, levou nada menos do que 319 dias. Desse tempo, apenas três horas foram gastas na fabricação, e todo o restante no transporte e armazenamento.

      Quando você compra uma lata de feijão no supermercado Asda, a informação é transmitida para todos que estão ao longo da cadeia, para que outra lata de feijão seja produzida.

      Claro, milhões dessas peças de informação voam pelo ciberespaço a cada instante. Um dos efeitos da economia de empuxo é o aumento do trabalho precário: se a demanda diminuir, demita trabalhadores. 

      A importância da logística não pode ser subestimada – tente imaginar a cadeia de fornecimento de qualquer produto sem o input logístico. A globalização da produção tem deixado muitos trabalhadores acreditando que eles não podem fazer nada sobre isso, e quando as empresas transferem a produção para a China ou a Índia, eles ficam hipnotizados pelas luzes do rolo compressor capitalista que os esmaga, mas esta aparente força do capital multinacional é de fato a sua fraqueza.”

      A logística e a fábrica sem muros

      .

      1. Isso é possível numa economia oligopolizada

        a coca cola é monopolizada então é fácil evitar a anarquia da produção mas empresas concorrentes de um produto não monopolizado impossibilita esse equilibrio entre oferta e demanda e evitando a superprodução mas seus custos de produção aumentam em demasia, reduzindo sua taxa de lucro.

        A tendência dos monopólios é estourarem como balões: Trecho infratranscrito da Rosa Luxemburgo:

        Com esta mesma fragilidade aparece, quando o examinamos de mais perto, o segundo factor de adaptação da produção – as organizações patronais. Pela teoria de Bernstein deviam, regulamentando a produção, pôr fim à anarquia e prever a aparição das crises. Sem dúvida que o desenvolvimento das fusões e dos monopólios é um fenómeno que ainda não foi estudado em todas as suas diversas consequências económicas. É um problema que só se pode resolver recorrendo à doutrina marxista. De qualquer modo, uma coisa é certa: as associações patronais não conseguiram deter a anarquia capitalista, na medida em que as fusões, os monopólios, etc., se tornariam, mais ou menos aproximadamente, uma forma de produção generalizada ou dominante. Ora a própria natureza das fusões a torna impossível. O objectivo económico final e a acção das organizações é, excluindo a concorrência no interior de um sector da produção, influenciar a repartição do lucro bruto realizado no mercado, de maneira a aumentar a parte desse sector da indústria à custa de outros, precisamente por estar generalizada Prolongada a todos os sectores industriais importantes, anula por si própria o seu efeito.

        Mesmo nos limites da sua aplicação prática, as associações patronais estão muito longe de suprimir a anarquia, bem pelo contrário. Normalmente as concentrações só obtêm esse aumento de lucro no mercado interno relacionando-o com o estrangeiro, com uma taxa de lucro muito inferior à parte do capital excedentário que não podem utilizar para as necessidades internas, quer dizer. vendendo as suas mercadorias no estrangeiro a melhor preço que no interior do país. Dai resulta um agravamento da concorrência no estrangeiro, um reforço da anarquia no mercado mundial, exactamente o contrário do que se propunham conseguir. É o que prova, entre outras, a história mundial da indústria do açúcar.

        Finalmente, e generalizando a sua qualidade de fenómenos ligados ao modo de produção capitalista, as associações patronais podem apenas ser consideradas como uma fase precisa da evolução capitalista. De facto, as concentrações não passam de um paliativo para a baixa fatal da taxa de lucro em certos sectores da produção. Quais os métodos utilizados pelas concentrações para obterem esse efeito? No fundo não se trata de pôr em pousio uma parte do capital acumulado, quer dizer, o mesmo método utilizado sob outra forma em períodos de crise. Ora, do remédio à doença só existe uma diferença de grau e o remédio só pode passar por um mal menor durante um certo tempo. No dia em que as saídas tendam a estreitar-se, com o mercado mundial desenvolvido ao máximo e esgotado pela concorrência dos países capitalistas, – e não se pode negar que esse dia chegará mais tarde ou mais cedo – a imobilização parcial ou forçada do capital terá dimensões consideráveis: o remédio transformar-se-á no próprio mal e o capital, fortemente socializado pela organização e concentração, transformar-se-á novamente em capital privado. Enfrentando as dificuldades crescentes para encontrar um lugar no mercado, cada parte privada do capital preferirá tentar isoladamente a sua oportunidade. Nesse momento, as organizações rebentam como balões, dando lugar a um agravamento da concorrência (3).

         

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