Delfim: a redução da demanda externa do setor de manufaturados

Da Folha

Manufaturados
 
Delfim Netto
 
O crescimento econômico é condição necessária, mas não suficiente, para um desenvolvimento social civilizatório em que a distribuição dos seus benefícios produz uma inserção crescente da população.
 
Ele é condicionado por fatores internos e externos. Internamente, depende de um Estado forte, constitucionalmente controlado, com instituições capazes de assegurar a dotação adequada de bens públicos (como a segurança e o valor da moeda) e garantir as condições para o adequado e eficiente funcionamento dos mercados e sua regulação. Externamente –porque todo país é parte do mundo–, ele depende do poder de compra da exportação com a qual paga a importação. Esta última é um indispensável “fator de produção”, da mesma forma que o trabalho, o capital e os recursos naturais, pela qual se apropriam, ainda, os avanços tecnológicos.
 
O “poder de compra” das exportações pode ser medido pela evolução da relação entre o preço médio das exportações dividido pelo preço médio das importações, à qual se dá o nome de relação de troca. A intuição física é simples: se no ano passado, uma tonelada de exportação “comprava” uma tonelada de importação e neste ano (por efeito dos preços de nossas exportações terem crescido mais do que o das importações) ela “compra” 1,1 tonelada, tudo se passa como se o país tivesse ganho de presente, 100 quilos de importação.

 
Visto por outro ângulo, tudo se passa como se a nossa produtividade no setor exportador tivesse crescido 10%. Os resultados dos estudos econométricos são sempre ambíguos, mas eles frequentemente confirmam que as variações nas relações de troca têm influência nas flutuações cíclicas da economia e talvez “expliquem” entre 25% e 40% das variações do PIB.
 
No caso do Brasil, o comportamento da relação de troca (que está relativamente estabilizada depois de ter passado por um máximo em 2010) deve ter tido alguma influência na recente queda do crescimento do PIB. Mais importante, entretanto, foi a destruição da demanda externa do setor de produtos manufaturados.
 
Esta foi gerada não apenas pela redução da renda dos países importadores mas, principalmente, pela dramática valorização do câmbio real produzida pelo laxismo salarial combinado com a valorização do câmbio nominal para controlar a inflação que derivava da própria política econômica.
 
Para se ter uma pálida ideia do que isso representou, basta dizer que o superavit exportador de 139 bilhões de dólares entre 2002/07 foi substituído pelo deficit de 136 bilhões em 2008/13. Uma fantástica redução da demanda externa dos nossos manufaturados de 275 bilhões de dólares! Por que um industrial iria investir nessas condições?
 
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.
Redação

6 Comentários

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  1. O problema da queda dos manufaturados foi o quadripé econômico

    Além da redução da renda dos países importadores, a queda da produção de manufaturados se dá ao quadripé econômico brasileiro:

    1) Altos lucros;

    2) Altos impostos;

    3) Altos salários;

    4) Altos preços.

  2. O aumento do déficit

    O aumento do déficit exportador se verifica principalmente a partir de 2008, ano da crise, quando todos os países procuraram aumentar suas exportações. O Brasil perdeu essa batalha pelas exportações.

    O Delfim atribui o déficit à queda da demanda externa, à “dramática valorização do câmbio real produzida pelo laxismo salarial combinado com a valorização do câmbio nominal para controlar a inflação que derivava da própria política econômica”.

    Pelo jeito, para o Delfim, o “laxismo salarial” é sempre o culpado. Se o Delfim tivesse sido o ministro da fazenda no governo Lula, ele nunca teria permitido a valorização de salário mínimo, uma das principais causas da melhoria de vida de 30 milhões de brasileiros.

     

     

    1. “Se  Delfim tivesse sido o

      “Se  Delfim tivesse sido o ministro da fazenda no governo Lula, nunca teria permitido a valorização de salário mínimo”

      Nããããooo…. o que ele chama de laxismo salarial refere-se ao aumento salarial sem aumento da produtividade.

      Na época Lula, como ele dizia, o mar subia (pela bonança mundial) e Lula achava que ele é que subia o navio…

  3. a conclusão dele é que um

    a conclusão dele é que um lado diminuiu e alterou o equilíbrio da balança. Mas deveria considerar também o aumento do outro lado, aumento da demanda interna de importações.

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