Exportações de manufaturados : um enigma a desvendar

Seria muito bom se algum especialista em contas externas pudesse ajudar a esclarecer a seguinte questão : como é possível que as exportações brasileiras de manufaturados voltaram a crescer recentemente apesar da valorização cambial?

Que os produtos básicos e semimanufaturados aumentaram sua participação na pauta de nossas exportações de 46% (1997) para 60% (2010) é notório : houve algum aumento de quantidade, mas principalmente substantiva valorização desses itens em relação aos manufaturados pelo mundo todo. Assim, produtos básicos aumentaram sua participação em valor em todo o comércio internacional, não apenas no Brasil. E países que dependem de exportações industriais viram suas relações de troca deteriorarem.

Também é sabido que tal valorização das matérias-primas permitiu o equilíbrio das contas externas brasileiras, sustentando o aumento do consumo doméstico além de sua própria oferta, especialmente de 2008 para cá. Tal equilíbrio é completado pela entrada de investimentos diretos, embora haja a suspeita de investimentos especulativos disfarçados dentre estes (teria que ser explicado como o volume de tais investimentos dobrou, de US 30 bi anuais para quase US$ 60 bi, em um ano e meio.)

Contudo, apesar da  expressiva valorização cambial real (113% de 2004 para 2010, a acreditar nas contas do Banco Mundial, que comparam os níveis de preços internos de cada país com os dos EEUU, apreciação essa menor se em relação a outros países) o nível absoluto de exportações brasileiras de manufaturados (em acumulados anuais) vem se recuperando desde jan./2010, estando agora apenas 12% abaixo de seu pico histórico (out./2008, ou seja, antes dos efeitos da crise se disseminarem em sua total amplitude.)

Que “teorias” poderemos apresentar para isso?

– os insumos transacionáveis internacionalmente poderiam ser componente relevante da formação final de preço, permitindo que a valorização local de salários seja compensada por ganhos de produtividade;

– que ocorre uma mudança internamente na pauta de produtos manufaturados exportados, privilegiando aqueles com menor uso intensivo de mão-de-obra;

– que a elasticidade-preço nos mercados internacionais é menos importante que a capacidade de oferta de bens (observe-se que a aumentos de demanda internacional por produtos básicos correspondem aumentos também para os produtos manufaturados);

– que a manufatura brasileira absorve perdas de preços na forma de menor rentabilidade, sacrificando sua capacidade futura de investimento.

De qualquer modo, em momentos de crise mundial, como 1999 e 2002, o baixo valor real do câmbio no Brasil não ajudou a impedir a queda de exportações nem para manufaturados nem para produtos básicos. Analogamente, a desvalorização pós-crise de 2008 (mais intensa de out./2008 a abr./2009, com o US$ a mais de R$ 2,20) colaborou para a redução de importações, mas também não impediu quedas de 20% nas exportações de qualquer linha. Finalmente, apesar da maior valorização histórica do Real (22% acima do pico anterior de 1996), estamos com crescimentos anuais em torno de 20% na exportação de manufaturados (puxados pela demanda internacional da recuperação?) desde o início de 2010.

Talvez o câmbio não seja a variável macroeconômica mais importante…

O segundo gráfico mostra que o processo de aumento dos bens primários na pauta de exportações (e foram de 40% para 60% ao longo de 10 anos) não impediu que bens manufaturados acompanhassem o comércio mundial. Aparentemente a demanda externa (e suas crises temporárias) e a alteração nas relações de troca (com a valorização de commodities) foram muito mais determinantes que a taxa de câmbio para esses resultados.

Luis Nassif

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