Executivos do mercado desconfiam do governo Lula, mas indicam otimismo com Haddad

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Pesquisa da Quaest ouviu os executivos do mercado, com ampla desconfiança no governo Lula, mas Haddad desponta com boa surpresa

Foto: Ricardo Stuckert

Executivos do mercado financeiro acreditam que o governo Lula está levando a política econômica do país para “a direção errada”. É o que opinam 80 investidores consultados por pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira (15). Boa parte deles tem desconfiança dos atuais players do governo, mas o ministro Fernando Haddad desponta como boa surpresa nas avaliações.

O instituto ouviu um total de 82 executivos dos maiores fundos de investimentos do país. Por se tratar do maior número de representantes do setor já consultado por uma pesquisa, o levantamento é quantitativo, mas também qualitativo, ou seja, traz indícios do que como o mercado financeiro está enxergando as políticas do atual governo.

Motivos da desconfiança

Essa grande maioria de investidores que acreditam que a política econômica está na direção errada enxergam que a razão é a preocupação com “a sustentabilidade da dívida pública”.

Também avaliam (49% deles) que o superávit primário necessário para essa sustentabilidade deveria ser entre R$ 150 bilhões a R$ 200 bilhões.

Nessa linha, o governo Bolsonaro sequer produziu um superávit próximo dos valores almeijados pelos representantes do mercado. Em 2022, o governo fechou com R$ 54 bilhões, o melhor nível desde 2013. Durante os governos Lula, esse superávit tampouco chegou próximo às expectativas atuais, mas superiores aos números de Bolsonaro, com média de R$ 56 bilhões.

Segundo o diretor da Quaest, o cientista político Felipe Nunes, outra razão para a desconfiança do mercado é “a falta de preocupação do governo com o controle da inflação (68% acham que o governo não está preocupado com o assunto)”. A maioria dos executivos consultados (57%) acredita que o governo irá querer alterar as metas de inflação dos próximos 6 meses.

Outra preocupação manifestada pelo setor é sobre a capacidade de o governo aprovar as propostas no Congresso. Somente 33% acreditam que Lula tem “alta capacidade” de aprovação de pautas.

A avaliação do governo Lula pelo mercado

Ainda, há “uma indubitável desconfiança em relação aos players do governo”, aponta Nunes. Os principais personagens políticos do governo Lula – Gleisi, Mercadante, e o próprio presidente, são os que mais detêm a desconfiança do setor.

Por outro lado, Fernando Haddad, o atual ministro da Fazenda, angaria uma certa credibilidade do setor, assim como o vice-presidente Geraldo Alckmin e a ministra de Planejamento, Simone Tebet.

Haddad, por si só, está recebendo boas avaliações, com 10% de avaliação positiva dos maiores investidores financeiros do país e 52% de avaliação regular. Somente 38% tem uma imagem negativa de Haddad.

O mercado também enxergou com bons olhos a decisão do Banco Central de manter a taxa Selic no mesmo patamar, e 60% deles acham que a taxa atual é a ideal para o país no momento.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

4 Comentários

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  1. Eles precisam se preocupar mesmo é com a onda de quebradeira geral – em verdade, de confirmação de quebradeira – que está chegando. O Credit Suisse ainda é um tênue sinal. O dinheiro de fumaça aparecendo com isso: fumaça.

  2. Celerados mais conhecidos como Mercado desconfiam muito do Setor Público. Só não desconfiam dos Sicupiras nas Americanas nem da Selic pornográfica do Campos. Lambem-se mutuamente.

  3. O mercado é o País da barriga cheia. Esse tipo de pesquisa aliás, só tem a função de modelar expectativas. O mercado pode falar à vontade, pois ele é tudo sem necessariamente ser ninguém. Já os ocupantes do governo não tem o direito de opinião, de fazer críticas. Quem sabe o mercado possa contribuir em tentar explicar porquê o País tem tanta dificuldade de estabilizar uma meta de inflação com a inflação comportadinha dentro dela, como tantos países fazem e outros tantos não conseguem. A situação não está boa pra ninguém; segmentos de classe média, estão bastante apertados. Uma professora de colégio particular tinha um Nissan Sentra e agora anda de Uber ou carona do esposo, que por sua vez trocou um carro de maior porte por um de menor porte. O Brasil não é apenas o enxergado pela janela do mercado. Esse é o fracasso do País e motivo do seu escárnio. Europa e EUA , com inflação e outros problemas estão gerando emprego e subindo salários, lá o mercado deve estar fazendo piquetes e ameaçando os governos. Tudo é uma questão de onde se sabe que se vai estar.

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