O Eximbank americano no pré-sal

Do Valor

Eximbank terá linha de US$ 1 bi para pré-sal

Sergio Leo | De Brasília
17/03/2011

O Eximbank dos Estados Unidos deverá confirmar, durante a visita do presidente Barack Obama ao Brasil, a concessão de até US$ 1 bilhão em financiamentos para projetos ligados à exploração do petróleo na camada pré-sal do Brasil, numa confirmação do interesse americano em ter o país como um de seus principais fornecedores de combustível fóssil. Desde o ano passado, o banco firmou com a Petrobras um protocolo que garante linhas de financiamento, estimadas em até US$ 2 bilhões.

Os dois governos assinarão, ainda, um memorando de entendimento para cooperação em exploração de petróleo, que lança as bases para, no futuro, consolidar a posição brasileira como fornecedor aos EUA. A disposição de fazer do Brasil grande fornecedor de petróleo aos EUA foi comunicada pela própria presidente Dilma Rousseff a autoridades americanas, como revelou o Valor, no início do mês.

UmouUm outro programa de impacto está previsto entre os anúncios a serem feitos durante a visita de Obama: um acordo para desenvolver biocombustível para a aviação, assunto acompanhado com interesse pela Embraer.

O Brasil já produz o chamado bioquerosene, mas só recentemente os americanos desenvolveram tecnologia para fazer com que o combustível possa funcionar em aeronaves a grandes altitudes, com temperaturas muito baixas. Seria o começo de um programa de “clean skies” (céus limpos), a ser lançado pelos dois governos.

O programa de bioquerosene deve ser apresentado como um dos resultados do Fórum de Altos Executivos, que chegou a lançar esse tema como uma das possíveis parcerias entre companhias dos dois países. O anúncio do Eximbank inclui a criação de uma linha, como a oferecida à Petrobras, para investimentos conjuntos do Brasil e dos Estados Unidos em obras de infraestrutura, não só ligados ao pré-sal, mas também a eventos como a Copa do Mundo e a Olimpíada, e para investimentos em infraestrutura de terceiros países.

Entre os financiamentos à investimentos conjuntos em terceiros países, os primeiro alvos dessa linha serão os países da África, hoje assediados pela China, em busca de fornecedores de matéria-prima.

Os discursos dos dois presidentes deverão enfatizar, ao lado dos temas políticos e de defesa de direitos humanos, a cooperação em projetos de educação e inovação, escolhidos entre os principais eixos da cooperação bilateral, a partir de agora. Até ontem, porém, muitos dos acordos negociados ainda não estavam totalmente concluídos, e as equipes dos dois governos temiam dar detalhes para evitar frustrações.

Alguns negociadores de ambos os lados se queixavam de dificuldades surgidas no último momento, mas diplomatas experientes consideram normal que apareçam pequenas divergências às vésperas do anúncio de comunicados. O simples comunicado conjunto oferecido à imprensa após o encontro, neste mês, do ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota, e da secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, em Washington, teve sua redação concluída apenas 15 minutos antes de sua divulgação, durante a entrevista coletiva das duas autoridades.

Dilma e Obama terão reuniões com as respectivas equipes, participarão da conclusão dos trabalhos do Fórum de Altos Executivos – criado em 2007 com 20 dos principais dirigentes de empresas dos dois países – e encerrarão o encontro de empresários promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela Câmara Americana de Comércio.

A decisão de Obama de chegar no sábado no Rio de Janeiro, encurtando sua passagem por Brasília, levou ao cancelamento da entrevista que os dois presidentes dariam à imprensa na capital. Hoje, autoridades dos dois países deverão comentar a visita, que pretendem marcar como o reconhecimento do Brasil como “parceiro estratégico global” dos EUA.

O governo brasileiro comemora o reconhecimento, por significar uma concordância tácita com a crescente atuação do país em assuntos internacionais fora da região latino-americana, mesmo não existindo aprovação de todas as iniciativas brasileiras. 

Luis Nassif

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