O falso caso de espionagem na Renault

Do Estadão

Renault demite diretor por falso caso de espionagem

Patrick Pélata, braço direito do franco-brasileiro Carlos Ghosn, perde cargo; executivos acusados injustamente serão indenizados

12 de abril de 2011 | 0h 00

Andrei Netto – O Estado de S.Paulo

CORRESPONDENTE / PARIS

Seis altos executivos da direção mundial da Renault foram demitidos ou afastados de suas funções ontem, como punição pelo falso escândalo de espionagem “revelado” em 2010. Entre os demitidos está Patrick Pélata, diretor-geral delegado, número 2 da companhia e braço direito do diretor-presidente, o franco-brasileiro Carlos Ghosn.

Três outros executivos, acusados injustamente, serão indenizados. Sob pressão, Ghosn expressou “profundo lamento pelas disfunções” no grupo.

As punições foram anunciadas na tarde de ontem, em Boulogne-Billancourt, após a reunião do conselho de administração da Renault. “Este conselho de administração extraordinário vira uma página dolorosa da história da Renault. Além dos executivos envolvidos, todos os funcionários do grupo sofreram por essa crise”, dizia o comunicado.

PelataPélata, amigo e ex-colega de faculdade de Ghosn, um dos expoentes do grupo, foi afastado das funções por ser o chefe direto dos três executivos atacados no falso caso de espionagem. No entanto, ele não será excluído da empresa – seu pedido de afastamento já havia sido negado em março – e assumirá novas funções no conglomerado Renault-Nissan.

Outros cinco executivos da empresa foram punidos. Rémy Pagnie, diretor de Proteção e Segurança, e dois de seus subalternos, Dominique Gevrey e Marc Tixador, foram demitidos. Completam a lista de afastados Christian Husson, diretor do Departamento Jurídico, e Laurence Dors, secretária-geral, que “aguardarão discussões quanto a seus futuros”, segundo nota oficial divulgada pelo grupo.

Segundo o ministro da Indústria da França, Eric Besson, a própria demissão de Ghosn esteve em questão. Mas o tema não poderia ser decidido pelo Estado – que tem participação de cerca de 15% no grupo -, mas pelo conselho de administração. “Eu entendo que o presidente da Renault queira tirar lições do caso propondo iniciativas de reorganização no interior de sua administração”, pressionou Besson.

Já Matthieu Tenenbaum, Betrand Rochette e Philippe Clogenson, executivos acusados no escândalo de espionagem, receberão indenizações milionárias por dano moral, segundo a revista semanal Marianne. Conforme a publicação, os pedidos de indenização chegam a 3,2 milhões para Tenenbaum, 3,4 milhões para Rochette e 2,4 milhões para Clogenson. O cálculo total das indenizações, somado às multas pelas demissões, pode chegar a 11 milhões.

China. O caso da suposta espionagem no interior da Renault teve início em 3 de janeiro de 2010, quando os três executivos acusados foram informados da abertura de uma investigação. No dia seguinte, todos foram afastados de suas funções. Segundo a falsa denúncia, Tenenbaum, Rochette e Clogenson, todos envolvidos na Diretoria de Projetos de Veículos Elétricos da Renault, em Paris, estariam agindo como espiões.

Eles teriam sigo pagos para agregar dados de engenharia de quatro veículos a propulsão elétrica que a montadora pretende lançar até 2012 – Twizy, ZOE, Kangoo Express e Fluence. A corrupção aconteceria por meio de uma companhia sistemista, que os repassaria a uma fabricante chinesa, a China Power Grid Corporation.

O caso provocou grande repercussão na França porque envolvia investimentos avaliados em 4 bilhões, dos quais 1,5 bilhão só para o desenvolvimento de baterias elétricas.

À época, Pélata veio a público endossar as denúncias afirmando que a Renault enfrentava “um sistema organizado de coleta de informações econômicas, tecnológicas e estratégicas para servir interesses situados no exterior”. O executivo ainda completou: “Trata-se de uma espécie de trabalho de profissionais. A Renault é vítima de uma organização internacional”. 

Falta de provas levantou suspeitas sobre as denúncias

12 de abril de 2011 | 0h 00

– O Estado de S.Paulo

A denúncia de espionagem na Renault só começou a ser questionada quando a Direção Central de Informação Interior (DCRI), um dos serviços secretos da França, foi mobilizado para a investigação. Ao mesmo tempo, as provas do crime não apareceram, o que levantou dúvidas na imprensa europeia. Pressionada pelas suspeitas, a Renault contratou o gabinete Bearing Point para realizar uma auditoria interna. A investigação resultou na absolvição dos três executivos, em março, e na busca dos culpados pelo falso escândalo.

Quando os três acusados foram absolvidos, o presidente da montadora, Carlos Ghosn, foi à televisão pedir desculpas públicas. Disse que ele e seu diretor-geral, Patrick Pélata, iriam devolver os bônus referentes a 2010 e informou também que havia recusado um pedido de demissão feito por Pélata – que, agora, acabou mesmo deixando o cargo.

Além de absolver os três executivos originalmente apontados como espiões, a Justiça francesa acusou outros três funcionários da segurança da empresa de serem a origem das informações sobre o caso de espionagem. Um deles, Dominique Gevrey, o encarregado de segurança da montadora, chegou a ser preso quando se preparava para viajar para a Guiné. 

Luis Nassif

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