O papel do G-20 e os rumos do Brasil na reestruturação mundial, por Marcio Pochmann

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Sugestão de Assis Ribeiro

da Rede Brasil Atual

O papel do G-20 e os rumos do Brasil na reestruturação mundial

Marcio Pochmann

Após 29 anos de democracia consolidada no Brasil, não parece haver o que possa impedir a consagração de um grande projeto de país soberano, justo, solidário e próspero. A não ser o obstáculo político.
 
por Marcio Pochmann, para a Rede Brasil Atual
 
 
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Neste final de semana, os 20 chefes dos países mais ricos do mundo se reúnem na Austrália para tratar fundamentalmente da retomada do crescimento da economia global. Após seis anos do início da crise iniciada em 2008, os debates ainda não convergiram para o entendimento se a situação atual reflete apenas uma fase de dinamismo baixo da produção ou se trata mesmo de uma recessão comparável a de 1929.

Na ausência de compreensão comum, ganha importância a difusão de análises econômicas cada vez mais contraditórias. De um lado, os integrantes do pensamento neoliberal que sustentam o desmonte das políticasexistentes de proteção da produção e emprego.

De outro lado, os defensores do pensamento não liberal que alertam para o comportamento das bolsas de valores e mercado financeiro descolado da economia real. Por conta disso, caberia a manutenção das políticaspúblicas mais amplas, de reformulação da governança mundial (papel das agências multilaterais como Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional) e medidas de regulação e promoção do desenvolvimento em novas bases econômicas, sociais e ambientais.

O exemplo da ação integrada dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) serviria de exemplo. Mas para além das interpretações da crise mundial e do papel das políticas governamentais adotadas, cabe ressaltar osimultâneo movimento mais amplo de reestruturação econômica impulsionada mais recentemente. Três evidências disso chamam a atenção tanto pela rapidez com que ocorrem como pela dimensão estrutural, muitas vezes sem o devido acompanhamento de todos os cidadãos.

A primeira evidência encontra-se na consagração de uma nova partilha do mundo em função do esvaziamento relativo dos Estados Unidos no exercício de uma ordem unipolar. Em contrapartida, o avanço de um mundopolicêntrico, com novas regiões exercendo a promoção do desenvolvimento supranacional, representa no contexto sul-americano a oportunidade de o Brasil contribuir mais decisivamente na integrado regional do desenvolvimento em novas bases.

A segunda evidência corresponde ao fortalecimento do papel do Estado, geralmente associado ao apoio dasgrandes empresas à competição global. A forte transferência de recursos públicos às mega corporações transnacionais (bancos e empresas não financeiras) indica tanto o aprofundamento da concorrência intercapitalista como a maior competição entre os Estados. A posição brasileira em virtude disso, de apoiar à reestruturação patrimonial de empresas privadas nacionais e de estatais acompanha esse movimento na mesma medida que se busca também fortalecer as oportunidades de expansão das micro e pequenas empresas.

A terceira evidência, por fim, localiza-se na concentração de esforços técnico-científicos voltados para a geração de um novo modelo de produção e consumo menos degradante do meio ambiente. Isso porque a eficácia das ações públicas que procuram minorar as emissões de gás carbono por meio da conscientização, tributação e promoção de alternativas ambientalmente sustentáveis pressupõe outra base tecnológica para produzir. Ademais das iniciativas em torno da matriz energética renovável, passa a ter importância a conformação de uma estrutura bioindustrial que promova a produção crescente dos empregos verdes.

Neste campo, o Brasil se destaca por já possuir uma das matrizes energéticas das mais limpas do mundo, como deter a oportunidade de construir – a partir da exploração petrolífera do pré-sal – o seu projeto nacional de desenvolvimento que atenda a perspectiva de inclusão de toda a sociedade. Tudo isso se torna plenamente possível nos dias de hoje, embora dependa efetivamente de uma maioria política realmente comprometida com essa perspectiva.

Após 29 anos de democracia consolidada no Brasil, não parece haver o que possa impedir a consagração de um grande projeto de país soberano, justo, solidário e próspero. A não ser o obstáculo político de continuar ousando na direção de utilizar a crise como uma oportunidade para maior avanço econômico, social e ambiental.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

7 Comentários

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  1. Tem alguns que preferem nos ver a reboque da polít. externa EUA

    Quando as 20 maiores economias se reunem para fazer um PAC e se preocupam com a geração de mais empregos eu me encho de orgulho. Afinal é o que Dilma vem fazendo há muito tempo…

    1. Qual politica externa os EUA

      Qual politica externa os EUA de Obama  tem para a America Latina??   Nenhuma, zero.

      Como o Brasil tambem não tem nenhuma politica externa, ficamos zero a zero.

  2. O Brasil só vai crescer com

    O Brasil só vai crescer com um ambiente atrativo para investimentos. Há no mundo 60 trilhões de dolares de liquidez procurando onde investir, o Brasil SERIA um Pais obvio para grandes investimentos mas as corporações não querem.

    O clima para investimentos no Brasil já era ruim, com a prisão de empresarios fica muito pior, o Brasil tem um futuro claro, de um lado as corporações do concurso publico, salario, carreira e aposentadoria garantidos, de outro o povão, o meio de campo empresarial está sendo combatido a ferro e fogo, irá todo embora para Miami, como ja fez o empresariado venezuelano, empresario no Brasil é visto e tratado como bandido e como alvo a achacar, porisso o Pais está parado.

    Onde o Pochman viu um “”grande projeto”” de desenvolvimento, só com o Estado?

  3. Um “projeto de país” não se
    Um “projeto de país” não se faz da noite para o dia, com uma reunião, um anúncio à imprensa, e pronto. Antes, a perspectiva surge da consolidação de políticas, e já acontece no Brasil. Nós temos já uma perspectiva própria, reconhecida como o “modelo brasileiro” mundo afora. Quem o escolheu foi o povo, não a intelligentsia.

  4. Apoio a inciativa do Pré Sal

    Apoio a inciativa do Pré Sal por parte d ogovernoDilma. Mas espanto-me com a falta de percepção de que este modelo nos atrela a uma matriz energetica como vetor economico e  industrial passageiro,interessante por um momento, mas  em declínio. Esta questão não aparece inclusive neste artigo do Pochamnn. Que possa servir de catapulta para outro Projeto, acharia compreensivel. MAS NADA, NADA , NADA MESMO APARECE NO HORIZONTE. A grana gerada pelo pre-sal ( se não tivermos um golpe) ira para a Educação e Saude. Em termos é bom. Mas essa grana acabara e ai não sei o que pagara a educação- e a matriz industrial que o Brasil construirá ira logo para o buraco.
    NINGUEM, ninguem mesmo parece discutir que  uma parte da grana do Pré-sal deveria ser dirigida para a perspectiva de OUTRo VETOR e  matriz economica. Não consigo ver lógica nisso. Só sobrarão as comodities e ao fim, um parque industrial sem utilidade ao final de 30 anos, digamos. E aí?

  5. Política dos EUA para A. Latina

    Sugiro a leitura do excelente artigo do Boa entura de Souza Santos, postado hoje no Blog do Miro, para melhor compreender o que está em jogo no debate político nacional e qual é a política dos EUA para a A. Latina 

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