O uso da instabilidade econômica como ferramenta de guerra

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Cenário global após covid-19 e mudanças no mercado trazem à tona práticas que já foram empregadas em duas Guerras Mundiais

Foto de Ibrahim Boran na Unsplash

Outras prioridades políticas deram lugar à busca da estabilidade financeira como um bem público global, e uma mudança de pensamento começa a ser vista com mais frequência: a instabilidade como ferramenta de proteção dos próprios interesses em uma competição global de soma zero.

“Na atual era de guerras comerciais, cadeias de abastecimento transfronteiriças e restrições ao acesso de tecnologias-chave – que podemos chamar de ‘geotecnopolítica -, uma versão mais recente desta velha dinâmica está emergindo”, explica Harold James, professor de História e Relações Internacionais da Princeton University. “Se a história servir de guia, a guerra financeira está virando a esquina”.

Em artigo publicado no site Project Syndicate, James lembra que as duas Grandes Guerras foram antecedidas pela organização de blocos rivais e por um aumento de ataques financeiros direcionados.

Conforme as tensões diplomáticas avançavam, cada lado do conflito buscou comprometer as capacidades do adversário por meio de uma guerra financeira de desgaste.

Ao se analisar o contexto global após a pandemia de covid-19 e a invasão russa à Ucrânia em 2022, o acadêmico diz ser razoável o temor de que a ordem internacional esteja em decadência e que outras prioridades tenham dado lugar à busca da estabilidade financeira como um bem público global.

“Na verdade, parece ser apenas uma questão de tempo até que a especulação financeira hostil se junte ao arsenal da guerra híbrida, juntamente com os ataques cibernéticos e a desinformação em massa”, diz Harold Jones.

“Um ambiente de taxas de juro mais restritivo tornou mais provável a turbulência no mercado obrigacionista. As condições estão maduras para ataques financeiros”, afirma o professor de Princeton.

Queda dos juros e cenário pós-covid

A vulnerabilidade tem sido vista em todo mundo, e um exemplo claro é o setor de construção, que viveu um boom por conta de um ciclo de 15 anos de taxas de juros reduzidas, mas que foi diretamente atingido pela mudança dos padrões de vida e de trabalho geradas pela covid-19.

“Com o declínio do trabalho de escritório nos principais centros, o mercado imobiliário comercial ficou especialmente vulnerável”, destaca Jones, citando como um exemplo a falência da construtora chinesa Evergrande, além da instabilidade nas bolsas de valores de Xangai, Hong Kong e de Moscou, enquanto o Ocidente geopolítico mostra sinais relativamente estáveis.

“Como tantas outras coisas, as finanças seguem narrativas construídas que podem mudar de forma abrupta, gerando uma reavaliação geral”, diz Jones, citando como exemplo o plano do presidente russo Vladimir Putin de “reescrever a narrativa do mercado financeiro” durante a entrevista ao analista Tucker Carlson.

Diante da certeza de novos avanços nas vulnerabilidades financeiras globais, Jones diz que as hostilidades dentro do quadro de guerra híbrida soam “muito mais plausíveis” do que o uso de armas nucleares – com China e Rússia usando de seu poder narrativo “para abrir fissuras nos principais mercados ocidentais”.

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Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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