Proposta pode pôr fim à Universidade Federal da Integração Latino-Americana

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Divulgação
 
Jornal GGN – A Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) corre riscos de acabar. Uma proposta do deputado da base aliada de Michel Temer, Sergio Souza (PMDB-PR), quer transformar a instituição de ensino e fortalecimento da integração do Mercosul, em uma faculdade voltada ao agronegócio e indústrias do Paraná.
 
A Medida Provisória (MP) 785 é a mesma que altera seis leis para a reforma do Fies. Uma Emenda Aditiva foi apresentada pelo deputado que prevê, entre outras coisas, o fim da UNILA e a incorporação de dois campus da Universidade Federal do Paraná (UFPR) à Universidade Federal do Oeste do Paraná (Unioeste).
 
Criada em 2010, durante o segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a proposta de fortalecer a integração dos países da América Latina e Caribe, desde a sua localização, sediada em Foz do Iguaçu, região da tríplice fronteira (Brasil, Argentina e Paraguai), e com alunos de 18 países da América Latina e mais de 70 etnias poderá acabar.
 
O argumento do deputado Sergio Souza seria de, em nome de uma economia, “integrar” todos os estudantes da UNILA e parte dos alunos também da UFPR à Unioeste, atendendo a interesses do setor do agronegócio no Paraná.
 
A ameaça à Universidade Federal da Integração Latino-Americana e parte da UFPR mobilizou a comunidade acadêmica e políticos. Em nota oficial, o reitor da UNILA, Gustavo Vieira, posicionou-se contrário à medida: “uma nova proposta não passa pela destruição de projetos que já estão consolidados nos territórios, sem respaldo político, jurídico e cultural da sociedade, que é diretamente atendida por tais projetos”.
 
A Universidade ressaltou, também, que a emenda atenta contra um projeto de Estado brasileiro e instituições da integração regional, como o Parlamento do Mercosul (Parlasul). “[A proposta] não tem respaldo político das instituições implicadas, nem jurídico, uma vez que a Emenda não cumpre o devido processo legislativo. Nesse sentido, a Reitoria seguirá acionando os diversos canais administrativos, jurídicos e políticos, com o intuito de defender o projeto original de criação da Unila”, informou.
 
A própria ex-presidente Dilma Rousseff também se pronunciou em defesa: “eu tenho grande orgulho da Unila porque temos compromisso com a integração latino-americana e sou radicalmente contra a emenda do deputado Sergio Souza que pretende transformar a Unila em outro projeto. A Unila foi vocacionada para a integração latino-americana em nós não podemos aceitar esse tipo de mutilação nesse processo tão importante como é a integração. A Unila vai resistir!”, exclamou.
 
A líder da oposição na Câmara, deputada Jandira Feghali (PCdoB), também se posicionou contra a medida do deputado. Acompanhe:
 
 
As associações nacionais dos Pesquisadores e Professores de História das Américas (ANPHLAC) e de História (Anpuh), o Fórum Universitário Mercosul (FoMerco) e a Associação Brasileira de Hispanistas (ABH) também divulgaram nota contra a proposta do governista que atenta contra a instituição exemplo de unidade da América Latina.
 
Em nota conjunta, as associações encaminharam uma petição pública à Câmara dos Deputados, que já obtem mais de 12 mil assinaturas. “Isso significa o desmantelamento do projeto original de criação da UNILA e fere os princípios de autonomia da universidade que são garantidos pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e pela Constituição Federal”, disseram.
 
“É grande a mobilização entre entidades de estudantes, inclusive na Argentina, e entre órgãos locais, como a prefeitura de Foz do Iguaçu, além de professores, reitores, parlamentares e representantes de diversos setores. Esse apoio é fundamental para pressionar a comissão mista que vai analisar o projeto e também para reforçar o caráter da Unila”, completaram.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

5 Comentários

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  1. Fim do Mercosul

    Todo o trabalho de construção do Mercosul desenvolvido por Lula está sendo destruído pelo governo golpista! Fora, Temer!!!

  2. unila

    Mas como integrar mais estas universidades a Unioeste se no Parana o Beto Richa (PSDB) quer acabar com as universidades estaduais. Elas estao falindo por causa deste governador 

  3. Será que esse rapaz. . .

    Será que esse rapaz não tem mais o que fazer, tanta coisa importante para ser discutida nesses dias difíceis por que passa o país,  propõe o fechamento de uma universidade latino americana, com alunos de diversos países da América Latina. A UNILA é motivo de orgulho para a tríplice fronteira e para o Brasil, seu fechamento seria um retrocesso. 

  4. Tudo pelo atraso

    Acho que houve um lapso aí: não é integração à UNIOESTE, é a criação da Universidade Federal do Oste do Paraná, um pleito legítimo.

    A extensão da UFPR em Palotina tem 3 campi, com 8 cursos de graduação e 6 de pos-graduação, com demandas para expansão para Marechal Rondon e Toledo, inclusive com a criação de um curso de Medicina, em instalações cedidas pelo Parque de Biociências da Prati-donaduzzi (30% dos remédios genéricos do Brasil)

    Justifica plenamente a criação da Universidade Fedearal do Oeste do Paraná.

    Ninguem envolvido nesta discussão, em momento algum, cogitou a extinção da UNILA para criar esta Universidade. Se for para fazer o que Sergio Souza propõe, melhor deixar como está.

    O Deputado Federal está entrando no jogo do pós Lula, bem de acordo com a era Temer e os seguidores de Eduardo Cunha (a quem certamente deve muito, haja visto os seus votos no parlamento): tudo pelo atraso.

    Logo o Sergio Souza, que saiu do anonimato, sendo suplente de Gleisi Hoffmann, e ocupou o senado quando a petista era chefe da Casa Civil de Dilma.

  5. Capivara no ventilador – só mais um criminoso

    Eleito por unanimidade nesta quinta-feira, 23, presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara, o deputado federal Sérgio Souza (PMDB-PR) tem seu nome citado em grampos da Operação Carne Fraca como tendo recebido “muito dinheiro” do fiscal apontado como líder do esquema criminoso no Ministério da Agricultura e preso pela PF, Daniel Gonçalves Filho. Na conversa, o representante de uma cooperativa agrícola chega a afirmar ainda que o parlamentar teria “rabo preso”.

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    O próprio deputado aparece, segundo relatório da PF, em uma conversa com um advogado sobre as possibilidades jurídicas para reverter uma suspensão de 90 dias a que Gonçalves Filho teria sido condenado por conta de irregularidades no MAPA. O ex-assessor do deputado, Ronaldo Troncha, também aparece em conversas da interceptadas pela Carne Fraca e foi alvo de condução coercitiva expedida pela Justiça Federal do Paraná. Ele se apresentou nesta quinta-feira, 23, à PF para depor.

    O nome de Souza surgiu em um diálogo de 11 de abril de 2016 entre o ex-superintendente regional do Paraná e que estava lotado no Serviço de Vigilância Agropecuária no Porto de Paranaguá (PR) até a deflagração da operação, Gil Bueno de Magalhães, e um interlocutor identificado como Francisco e que representa a Cooperativa Agroindustrial Castrolanda, em Castro (PR).

    http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/presidente-da-comissao-de-agricultura-na-camara-recebeu-muito-dinheiro-de-fiscal-corrupto-diz-preso-na-carne-fraca/

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