A contribuição de Fernando Pimentel para Dilma Rousseff

Jornal GGN – Durante o segundo turno da corrida presidencial, o PSDB tinha esperança de conseguir uma vantagem de 4 milhões de votos em Minas Gerais e assim compensar a vantagem de Dilma Rousseff no norte e nordeste. Não foi o que aconteceu. Os tucanos foram derrotados no estado, por 500 mil votos. O sucesso da campanha petista deve muito à atuação de Fernando Pimentel. Eleito com vantagem de 1 milhão de votos, o governador percorreu o Estado na primeira semana do segundo turno em campanha pró-Dilma.

Do Valor Econômico

PT à mineira

Por Maria Cristina Fernandes

Estado mais rico já conquistado pelo PT, com o maior número de prefeituras do país, Minas Gerais deu à presidente Dilma Rousseff uma vitória decisiva. Era lá que o PSDB esperava obter uma vantagem de 4 milhões de votos para compensar a parte de cima do mapa. Perdeu por meio milhão. O Estado elegeu ainda dez deputados federais do PT, bancada igual a de São Paulo, que até então ocupava a liderança inconteste na representação parlamentar do partido.

A mineirização do PT foi liderada por um colega de colégio e guerrilha de Dilma, e considerado por muitos, no partido, como o mais tucano dos petistas.

Em 2008 alinhavou com Aécio Neves a mais importante aliança já havida entre PT com o PSDB, que serviu a ambos para manter no fim da fila correligionários afoitos em assumir protagonismo.

Este ano o ex-prefeito de Belo Horizonte e ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Fernando Pimentel estabeleceu outro paradigma ao se tornar o primeiro petista a derrotar um tucano pelas propriedades que não tem.

No Estado de origem de Aécio, a acusação mais pessoal da campanha de Pimentel foi a declaração patrimonial de Pimenta da Veiga que, junto à Justiça Eleitoral, não declarou um único bem em Minas.

Fez campanha em cima dos feitos e desfeitos de gestões petistas e tucanas. Foi lá que a campanha presidencial colheu o ‘quem conhece não vota’. Se Dilma levou um ‘leviana’ de Aécio, Pimentel recebeu um ‘mentiroso’ de Pimenta, rebatido com um ‘é lamentável’ e uma ação na justiça.

Na eleição presidencial de 2006 o PSDB conseguiu, em Minas, mais votos no primeiro do que no segundo turno. Naquele ano Aécio foi reeleito governador de Minas no primeiro turno. Ultrapassou em quatro milhões a votação que Geraldo Alckmin alcançaria no Estado no segundo turno.

Pimentel inverteu a ordem. Eleito com uma folga de mais de um milhão de votos, voltou a percorrer os municípios na primeira semana do segundo turno quando Aécio, que tinha ficado atrás de Dilma por 432 mil votos no Estado, foi à TV: ‘Minas nunca me faltou’. Era uma outra maneira de dizer que o mineiro tinha a obrigação de votar nele. Fechadas as urnas, seus correligionários continuavam a verbalizar sua indignação com um eleitor incapaz de enxergar em Aécio a síntese de Juscelino Kubitschek e Tancredo Neves.

Se Pimentel usasse o discurso ‘votou em mim agora tem que votar nela’ destoaria do mote ‘Minas não tem rei, imperador ou dono’ com que tocou a campanha. Fechadas as urnas disse que participaria ativamente do segundo turno mas não na condição de governador eleito. Ainda era grande a possibilidade de vir a coabitar com um presidente tucano.

Blindou o norte do Estado e o triângulo mineiro, redutos petistas, e trabalhou para diminuir a diferença na região metropolitana de Belo Horizonte e no sul do Estado que exporta o sotaque para os paulistas da divisa. Depois de ter sido eleito no primeiro turno com 532 mil votos a mais que Dilma no Estado, Pimentel acabaria por levar a presidente a ultrapassar em mais de um milhão sua votação e em 550 mil a de Aécio.

Seu eleitor, diz, optou pela troca de modelo em Minas e por mudanças por dentro do modelo dilmista.

Poucos têm tanta condição de saber se Dilma está sendo sincera ao dizer que quer ser “uma pessoa ainda melhor do que tem se esforçado por ser”. Ao telefone, convence que acredita nisso.

Ao seu mais antigo amigo petista, Dilma aparece como determinada a reconquistar a confiança do mercado. Deu-se conta de que não pode prescindir de capital privado se quiser reerguer a infraestrutura. Junto com a posse virá um modelo que ofereça garantias suficientes para o mercado de capitais acolher papeis lastreados em concessões públicas. O ministro da Fazenda seria um avalista desta confiança.

Pimentel terá seu próprio laboratório para experimentos nas relações com o mercado. Enquanto os tucanos colocaram na berlinda a gestão petista da maior estatal brasileira, sua campanha colocou na roda a administração tucana da maior empresa pública mineira.

A Cemig, que o mercado considera uma das jóias do setor elétrico, remunera seus acionistas com uma tarifa recorde de energia. O mercado se agitou e ele veio a público reafirmar que as mudanças virão da prestação de serviços e da redução da alíquota do ICMS sobre a energia, a mais alta praticada no país.

Pimentel terá quatro anos para fazê-lo, mas já foi muito além dos correligionários paulistas. Do outro lado da Mantiqueira o partido foi incapaz de tornar a gestão da Sabesp uma questão de interesse do eleitor tanto no primeiro quanto no segundo turno e, não apenas por isso, somar ao inédito feito de quatro mandatos nacionais consecutivos a pior votação em seu berço político.

Discursos

Discurso de vitória no mesmo dia da eleição é coisa recente. Data da votação eletrônica que apressou os resultados. Na sua primeira eleição, Fernando Henrique Cardoso saiu de sua seção eleitoral direto para o aeroporto e só se pronunciou três dias depois quando proclamado o resultado.

Oito anos depois, com a eleição já informatizada, Lula falou na sede do comitê de campanha em São Paulo de improviso e sem aparato. Fez agradecimentos, citou José Serra, seu adversário, elogiou José Genoíno, petista derrotado em São Paulo, e retomou o discurso da esperança que venceu o medo.

Quatro anos depois, reeleito, foi parar num palanque na Avenida Paulista. O mensalão rifou do discurso os companheiros petistas. Ladeou-se de seus novos aliados pemedebistas e, sempre no improviso, agregou pobres x ricos, corrupção e reforma política.

Em quatro anos surgiram duas Dilmas matematicamente eleitas. Ainda que lidos, os primeiros discursos marcam a temperatura do primeiro balanço das campanhas, do que veio e do que está por vir.

Quatro anos depois desapareceu a primeira mulher eleita presidente. A miséria, citada três vezes em 2010, desta vez foi omitida. Também sumiu a igualdade. Em seu lugar entraram corrupção e reforma política, ambas agraciadas com três menções. Mudança e diálogo ocuparam o panteão dilmista com cinco ocorrências.

Em 2010, a presidente eleita chorou ao falar de Lula, que ficou no Alvorada para não ofuscá-la. Desta vez, Lula estava ao seu lado. E ela o mencionou duas vezes sem se emocionar.

Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras

E-mail: [email protected]

Redação

12 Comentários

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  1. Dizem

    Dizem que lá em Minas o Pimentel e o Aécio são amicíssimos. Acho que não deu tanto a cara pois tem rabo preso com o PSDB em Minas. Uma amiga mineira, disse que o Aécio tinha dois candidatos a governador em Minas…. 

    1. Touché!

      É isso mesmo, Mavaldinhoa, para bom observador, Pimenta da Veiga, há 20 anos morador em outro estado, foi lançado para perder. Apesar do quê, eu era dos que acreditava que ele ganharia e Pimentel governador, para mim, é surpresa.

      Outra coisa, na minha avaliação, o mineiro não nutre essa raiva do pt, mas é eleitor conservador e orgulhoso. Aécio mineiro, presidente, eu pensei que o bairrismo, que é forte, iria agir.

      Em tempo, o sindicalistas do sindicato dos jornalistas daqui, sem a sobra das neves, estão valentes que é uma beleza. Dá até gosto!…

  2. aguardemos

    vamos ver se dessa vez ele assume que é do PT e da esquerda, é um dos responsaveis pelas seguidas derrotas de seu Partido em BH e Minas..há que se dá um voto de confiança é o que tenho dito aos meus amigos minreiros..

  3. Assisti a entrevista de

    Assisti a entrevista de Pimentel com aquela senhora piguenta, a Sra Bacon.  Me deixou boa impressão.  Minas não elegeu Pimentel, Minas derrotou Aécio Neves.  Derrotou o candidato que encarcera jornalista que lhe faz oposição, derrotou o candidato que finge gerir o estado com o falacioso e ineficaz choque de gestão.  Minas derrotou o candidato que não mora em seu domicílio eleitoral e ainda de quebra constrói aeroporto público em terras privadas.  Se Minas elegesse Aécio Neves teria dado atestado de cumplicidade aos descalabros administrativos do desgovernador.  Minas mostrou que Minas não é quintal de abutres, e que está atenta para expulsar de suas terras os falsos conterrâneos. Parabens Minas, que sua atitude sirva de exemplo para o restante do país.  

  4. Resta dizer que a vitória de

    Resta dizer que a vitória de Dilma em Minas é, principalmente, devido ao trabalho de Walfrido dos Mares Guia e Antonio Andrada, vice de Pimentel e presidente do PMDB mineiro. Basta ver os mapas de votação e verificar os locais onde pressumidamente o PT era forte (região metropolitana de BH, onde Dilma perdeu) e os rincões mineiros, desprezados por Aécio, mas com forte influência de prefeitos locais, bem tratados por Walfrido, que ganha a sexta eleição nacional em MG (desde 94 não perdeu).

  5. Tem seus méritos, o cidadão é
    Tem seus méritos, o cidadão é escorregadio.

    Mas a derrota do Aécio tem a ver mais com suas próprias atitudes no Estado ao longo dos últimos 12 anos que os tantos supostos méritos do Pimentel.

    Para início de conversa, nem aqui o cara mora. Soa quase ridiculo quando declara suas origens.

    Segundo, seu projeto se esgotou, chegou ao fim.
    Proporcionou alguns benefícios interessantes mas no balanço final o saldo deixou de ser positivo.

    Finalmente, o Estado nao nutre em relação ao PT essa raiva paulistana. Ninguém aqui considera um absurdo votar no PT embora alguns cartazes de campanha fossem no sentido da ameaça vermelha: “PT aqui nao!” e coisas do tipo.

    O marketeiro devia ser paulista, imagino.

  6. Vem Da Mata!
    Duas coisas se observa num texto que tem muito e pode ter mais. Muito contribui assim mesmo.
    . Da Mata Pimentel, tudo que vem da natureza jah por si eh integrante do ser homem e sua participacao na prefeitura foi marcante na contribuicao administracao e cidadao. Assim se fez cidadaos e o futuro governador. Muito trabalho e sorte.
    . A ditadura teve a acao de criar um mal ao Brasil por um longo tempo, mas fez como Fernando Pimentel lutasse contra e assim saiu desta estrada maior, um homem, professor que aprendeu com o mal o que nao fazer, nao praticar. Parabens ao povo mineiro pelos votos e ao seu mais representativo cidadao Pimentel.
    . A maior congratulacao e eleicao da Dilma, alem dos outros estados, foi prazeirosamente a base de minas em dizer, gritar contra Aecio. Quem conhece nao vota.
    . O importante neste cenario do Brasil e se nos observarmos o mapa e eleicoes do PT veremos que estamos caminhando do Nordeste para o Sul lentamente. Na ultima eleicao Wagner sacramentou a Bahia, agora Pimental desbanca Minas e a composicao do Brasil vai ficando mais igual e socialista.
    Muito bacana.

  7. Pimentel tem suas tucanices… mas…

     

    Pimentel foi eleito prefeito de BH por 2 vezes e foi eleito o 8º melhor prefeito do mundo. ( Google).

    É um exelente administrador e vai melhor Minas. Ou melhor, vai tirar Minas da balburdia em que se encontra  desde que o carioca do Leblon baixou por aqui ( só pra pegar votos, claro, pois nunca morou aqui).

    Aguardando a melhora no posto de saúde do meu bairro, o qual foram ele e Patrus que implantaram.

    Tenho certeza absoluta que ele vai governar bem porque tem competência e pode até se credenciar para ser presidente daqui há alguns anos. 

    Espero que  Pimentel busque a chave do aeronever com o titio e devolva para o povo mineiro, afinal, nós já pagamos a despesa. O importante é melhorar a vida do povo mineiro e tirar a famiglia Neves do poder. O resto é lucro.

    Agora, tripudiando:

    VARRER OS NEVES DO PODER EM MINAS NÃO TEM PREÇO. FOI O MELHOR PRESENTE DA MINHA VIDA,       TENDO EM VISTA MEU ANIVERSÁRIO TER SIDO DIA 10  DE OUTUBRO.

     

    Iuhúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúúú!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

  8. Dilma tem que mudar para Minas…

    E fazer força para que Pimentel execute o melhor governo jamais visto dos últimos tempos.

    O estado de Minas Gerais faz muita pressão política no Brasil.

    Está aí o desafio para o PT.

    Ou então será a sua extinção.

    Simples assim.

  9. Eu, e centenas de…

    petistas, fizemos campanha para o Pimentel, para alavancar a campanha da Dilma, no estado. As ligações de Pimentel com Aécio são tão fortes, que não me surpreenderia saber, que o Aécio bancou o nome do “Turista da Veiga”, como candidato, para facilitar a eleição do amigo Pimentel.

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