O alto endividamento das empresas de gás de xisto nos Estados Unidos

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Enviado por Almeida

 

O gás de xisto vai de mal a pior.

 

“The Fracking Shakeout”

[*] Nick Cunningham − Testosterone PIT, publicado originalmente no site oilprice.com

Traduzido por mberublue, publicado no site http://redecastorphoto.blogspot.com.br

 

“Fraccking” – fraturação da rocha xistosa. Processo de extração

 

O setor de extração de gás/petróleo do xisto dos Estados Unidos pode ser bem menos forte do que muita gente pensa. Em análise mais recente, Bloomberg News descobriu um elevado nível de endividamento das indústrias do setor, com muitas companhias se endividando mais e mais, desapontadas com suas receitas.

Nos últimos quatro anos, relata a pesquisa, quase dobrou a dívida contraída pelas empresas de petróleo e gás de xisto. Enquanto as companhias perfuradoras necessitaram dobrar os empréstimos para se expandir, suas receitas nesses quatro anos não seguiram o mesmo ritmo, crescendo meros 5,6%.

O caso é que embora muitos poços de petróleo e gás de xisto ofereçam uma produção inicial espetacular, esta cai verticalmente após o primeiro ou segundo ano. Se as empresas não conseguirem pagar suas dívidas nesse pico inicial, acabam com muito mais dificuldades nos anos seguintes do que anteciparam. Elas caem em uma espiral descendente em que uma grande parte de suas receitas tem que ir para o pagamento de dívidas.

Das 61 companhias pesquisadas, a Bloomberg concluiu que mais ou menos uma dúzia está gastando 10 % de suas receitas apenas para pagar os juros das dívidas contraídas.

Diagrama de prospecção de gás de xisto

 

O que significa haver tantas companhias de perfuração de gás/petróleo de xisto lutando para obter algum lucro? Quer dizer que o entusiasmo com o qual tantos investidores colocaram dinheiro nas companhias do xisto pode ter chegado ao fim. A indústria está abalada.

As empresas em pior situação – aquelas que estão muito endividadas – sem um portfólio de produção em crescimento, podem estar a caminho da falência. Conforme vão caindo os elos mais fracos, consolidam-se e permanecem em campo apenas os produtores mais fortes e organizados.

É normal que qualquer indústria sofra um abalo, quando diminui o ímpeto inicial de crescimento. Ocorre que, ao contrário da indústria de tecnologia, por exemplo, na indústria do gás/petróleo de xisto, a sorte econômica das companhias ramifica-se para além delas, atingindo seus empregados e investidores.

Se as companhias perfuradoras começam a fracassar, o crescimento da produção de óleo e gás natural pode diminuir drasticamente ou mesmo parar. A administração de informações energéticas projeta em seu mais recente Panorama Anual de Energia que a produção de gás natural nos Estados Unidos crescerá a um percentual de 1,6% ao ano até meados de 2040, o que quer dizer que a produção deverá se expandir para admiráveis 55%.

Os dados podem estar sendo oferecidos de forma muito otimista, levando-se em consideração que as empresas neste mesmo instante estão lutando para ter rentabilidade na venda do xisto. Dito de outra forma, nos preços atuais, a produção pode não ser sustentável. Para que o crescimento continue no mesmo nível, o preço tem que subir.

Movimentação do solo superficial causada por “fracking”

 

Seja o crescimento mais lento, sejam os preços mais elevados, de qualquer maneira, ambos os cenários alterariam de forma dura as expectativas sobre a imagem vendida pelos Estados Unidos quanto à sua matriz energética. Como exemplo, se para manter o crescimento, o preço do gás necessitar de uma majoração, isso diminuiria muito a oportunidade da exportação de grandes volumes de gás natural liquefeito (GNL), porque as companhias americanas enfrentariam difícil competição para a venda do gás americano que teria que ser liquefeito para ser depois vendido a preço mais elevado para os consumidores ávidos no leste asiático.

Como resultado, as companhias que investem dinheiro na construção de terminais de exportação de gás natural liquefeito, que custam bilhões de dólares, poderia começar a achar esse gasto um tanto exagerado.

Um abalo na indústria do xisto teria consequências também no setor de energia elétrica, dado que o estancamento da produção de gás de xisto seria como uma espécie de bênção para a energia renovável. Esperava-se que o gás natural seria usado em grande escala para a geração de energia elétrica, mantendo os preços da eletricidade estáveis, mesmo porque a produção de gás estaria sempre em ascensão. Como essas expectativas parecem erradas, abre-se espaço para outras formas de geração de energia elétrica. Já que carvão e a energia nuclear são cada vez menos competitivos no século 21, criou-se uma janela de oportunidades enorme para a energia renovável.

Poluição dos aquíferos causada pela extração de gá de xisto por “fracking”

 

Em relação ao petróleo, uma produção fraca do xisto quer dizer que os Estados Unidos continuarão a contar com a importação de petróleo no lugar da produção nacional. Mesmo que isso não queira dizer grande coisa, o fato é que a indústria americana de petróleo não pode mais vir com a conversa fiada de “independência energética” o que quer dizer que o Congresso terá que se confrontar com o fato de que os EUA precisam encontrar alternativas ao petróleo no longo prazo.

Caso a indústria de gás/petróleo do xisto começar a vacilar, começará também a mudar esse ópio para muitos problemas energéticos dos Estados Unidos que se chama “revolução do xisto”.

Em tempo: Aqui está o porquê de ser uma ilusão, conversa fiada, vento quente, o papo de que a exportação de gás natural liquefeito dos EUA “vai tirar a Europa das Garras da Rússia” e ganhar muito dinheiro abastecendo o Japão sedento de energia. Não passa de uma isca suculenta no jogo das grandes negociatas.

 

 [*] Nick Cunningham é um escritor que vive em Washington DC – escreve sobre assuntos que envolvem desde energia até questões ambientais.  

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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  1. Fracking: já fracassou na Califórnia, qual o próximo lugar ?

    Mike Ludwig, do Truthout ( na Carta Maior )

    gaslandthemovie

    Representantes da Administração de Informação de Energia (EIA), orgão ligado ao governo federal norte-americano, informaram na quarta-feira que estão diminuindo – em 96% – a proporção estimada de petróleo que seria retirada das formações de xisto de Monterey, Califórnia.

    Ambientalistas comemoram o esforço legislativo como uma tentativa de colocar ofracking californiano em moratória.
     
    Em 2012, os oficiais federais estimaram que poderiam ser retirados 13.7 bilhões de barris de petróleo do campo de xisto em Monterey. Agora, a EIA diz que somente 600 milhões de barris de petróleo podem ser retirados usando as tecnologias existentes como tratamento com ácido e fracking, a técnica controversa que envolve forçar milhões de litros de água contendo silício e químicos para quebrar formações rochosas.
     
    A estimativa mais nova foi baseada num estudo de 2011 feito pela EIA e assumiu que as técnicas mais recentes de extração fariam com que as reservas de Monterey fossem as mais fáceis de extrair o xisto. Mais fáceis até do que as formações do Texas e da Dakota do Norte, onde a tecnologia do fracking alimentou o boom do gás e do petróleo. Mas parece que as formações geológicas no xisto de Monterey não são tão fáceis assim de ‘furar’ por terem sido impactadas pelas atividades sísmicas.
     
    “Com as informações que conseguimos juntar, não tivemos evidências comprovando que o uso do fracking nesse local é produtivo,” John Staub, analista da EIA, disse ao Los Angeles Times.
     
    A estimativa de 2012 tornou as companhias petrolíferas operantes na Califórnia ainda mais apressadas em usar o fracking, entre outros métodos para explorar a área de xisto de Monterey que contém dois terços das reservas de petróleo da nação. Uma investigação da Truthout em 2013 revelou que companhias petrolíferas experimentavam o fracking em mar aberto, no canal de Santa Bárbara, e que os fiscais federais permitiam o fracking sem revisão dos possíveis impactos ambientais. 

    Mesmo com a oposição inabalável dos grupos ambientalistas, o governador da Califórnia, Jerry Brown, abraçou o ‘boom’, o qual era originalmente projetado para criar 2.8 milhões de novos empregos para o Estado e $24.6 bilhões em receita anual de impostos, de acordo com um estudo em 2013 que foi parcialmente financiado pela Associação de Petróleo dos Estados do Oeste (WSPA).
     
    “Agora sabemos que a bonança econômica do gás de xisto prometida pelo governador Brown não virá,” disse Jennifer Krill, diretora do grupo ambiental Earthworks. “O risco ambiental do fracking perdura, mas sem nenhuma possibilidade de ganho econômico pelo Estado da Califórnia.”
     
    Sabrina Lockhart, porta-voz dos ‘Californianos por um Futuro com Energia Segura’ que falou com a Truthout, disse que a estimativa da EIA não significa que a Califórnia deva se afastar da produção domestica de petróleo.
     
    “Esses números refletem o fato de que há a necessidade de avanços na tecnologia para uma extração segura de petróleo. Quando essa tecnologia estiver disponível as estimativas podem aumentar,” disse Lockhart, representante um grupo pró-indústria que mobiliza a oposição por uma moratória sobre o fracking na Califórnia.
     
    Ambientalistas, no entanto, dizem que a nova estimativa deveria soar como uma sentença de morte para o fracking
     
    “A poluição do fracking ameaça os ares, a água e o progresso na questão climática do nosso Estado,” disse Patrick Sullivan, porta-voz do Centro de Diversidade Biológica. “Companhias petrolíferas ainda utilizam o fracking e o tratamento com ácido perto das casas das pessoas em muitas comunidades. O governador Brown precisa fazer com que as industrias de óleo parem de experimentar, no nosso solo, diferentes técnicas de exploração do solo.”
     
    Dois senadores do estado da Califórnia recentemente introduziram o SB 1132 (projeto de lei no senado), o qual iria determinar, em âmbito nacional, uma moratória sobre o fracking e outros métodos de extração. O projeto enfrenta uma batalha, tendo em vista que esforços legislativos similares falharam no passado, mas os simpatizantes da causa esperam que as novas estimativas do governo mudem isso.
     
    “O governador Brown deveria encarar os fatos, ordenar moratória no fracking, e assim o legislativo irá passar o SB 1132,” disse Krill.
     
    Moratórias similares mantiveram o fracking sob controle em New York e Maryland. Em Vermont o fracking foi banido recentemente.

    _________

     

    Tradução de Isabela Palhares.
     

    Créditos da foto: gaslandthemovie                                                      http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Meio-Ambiente/Fracking-ja-fracassou-na-California-qual-o-proximo-lugar-/3/31044

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