Uma ode ao futebol: Flamengo vence Santos num jogo espetacular na Vila

Uma ode ao futebol: Flamengo vence Santos num jogo espetacular na Vila

Peixe abre vantagem de 3 a 0, com show de Neymar. Mas Ronaldinho, que volta a ser o gênio dos tempos de Barcelona, comanda a reação carioca

Por Adilson Barros e Julyana Travaglia Santos, SP

Difícil achar um adjetivo para qualificar o que Santos e Flamengo fizeram nesta quarta-feira à noite, na Vila Belmiro, pela 12ª rodada do Brasileirão. Um show, um concerto, um espetáculo? É pouco. Foi, enfim, um jogo histórico, que será lembrado por muito tempo. No fim, o Flamengo, de Ronaldinho Gaúcho, que saiu perdendo por 3 a 0, acabou levando a melhor sobre o Santos, num 5 a 4 de encher os olhos, para apagar da memória dos torcedores brasileiros o burocrático futebol apresentado pela Seleção Brasileira na Copa América. O craque rubro-negro, enfim, mostrou a que veio quando retornou ao Brasil. Foi genial, como há muito tempo não era, marcando três gols, chegando a oito, artilheiro da competição. Neymar também brilhou, com dribles desconcertantes e dois gols, o primeiro antológico.

Muitos gols, uma obra-prima e o vilão

Ninguém tinha dúvidas de que seria um grande jogo, mas acabou saindo melhor, bem melhor mesmo, do que a encomenda. Craques dos dois lados, jogadas de efeito e muitos gols – um deles, de Neymar, uma obra de arte. Foram seis tentos apenas no primeiro tempo. As duas zagas sofreram muito e falharam demais também. Bom para o espetáculo, que começou com o Santos como protagonista.

Tocando fácil, de primeira, Ganso, Elano e Ibson se achavam em campo. E todos encontravam Borges. Elano, principalmente. Num lançamento primoroso, logo nos movimentos iniciais da partida, o meia largou o camisa 9 na cara de Felipe. Com extrema tranquilidade, o parceiro de Neymar deu um leve toque, o suficiente para tirar a bola do alcance do goleiro rubro-negro.

Ronaldinho Gaúcho comemora gol do Flamengo sobre o Santos (Foto: Eliaria Andrade / Ag. O Globo)Ronaldinho Gaúcho faz a festa na Vila Belmiro
(Foto: Eliaria Andrade / Ag. O Globo)

O Fla até tinha a bola e explorava bem o lado esquerdo da defesa alvinegra, com Luiz Antônio aproveitando-se dos espaços às costas de Léo. Mas o Peixe era mais incisivo. Borges ampliou, completando jogada individual de Neymar, que, deitado no chão, conseguiu acertar o passe para o companheiro.

O time rubro-negro parecia entregue. E Neymar, inspirado. A goleada estava desenhada e com um toque de gênio. Aos 26, o craque santista arrancou pelo meio, jogou para Borges, que escorou e devolveu. Num drible improvável, o camisa 11 passou por Welinton, Angelim e ficou na frente de Felipe. O toque final foi leve, por baixo do goleiro. A Vila Belmiro aplaudiu de pé.

A festa alvinegra estava armada. Cabia muito mais. Aliás, houve muito mais. Só que, agora, por parte do Flamengo. O jogo mudou de lado. O Rubro-Negro não se intimidou com a vantagem adversária e continuou indo para cima. Marcou dois gols rápidos, com Ronaldinho e Thiago Neves e pressionou o Santos, que apresentava muitas falhas defensivas. Lembrou o time de 2010, que dava sustos na mesma medida em que marcava gols.

Foi aí que apareceu o vilão da noite. Neymar, endiabrado, invadiu a área pela esquerda e caiu. O árbitro marcou pênalti de Willians. Uma marcação duvidosa. Borges pegou a bola para bater, mas Elano assumiu a bronca. Queria se redimir do vexame da Copa América, quando, na decisão por penalidades nas quartas de final, contra o Paraguai, ele mandou uma bola na estratosfera, muito acima da meta. Em momentos difíceis, abusar não costuma ser prudente. Uma cavadinha displicente. A bola, leve, tranquila, morreu nos braços de Felipe, que ainda teve tempo de ‘descontar’ a ousadia do santista ao fazer embaixadinhas antes de repor a bola em jogo.

A Vila caiu em vaias na cabeça de Elano, que chegou a fazer sinais para os alvinegros descontentes. Para piorar a situação do meia santista, Deivid, escorando cobrança de escanteio, empatou a partida. O Flamengo estava vivo; o Santos, adormecido. Elano, em maus lençóis.

Thiago Neves no jogo do Flamengo contra o Santos (Foto: Alexandre Vidal / FlaImagem)Thiago Neves marca o segundo gol do Fla, de cabeça (Foto: Alexandre Vidal / FlaImagem)

Neymar + Ronaldinho = show

O segundo tempo foi tão eletrizante quanto o primeiro. O Fla foi melhor, teve mais a bola. Chegou, inclusive, a encurrralar o Peixe. O sistema defensivo santista falhava na marcação. Ronaldinho e Thiago Neves tinham muito espaço para trocar passes. Os alvinegros, mal posicionados, corriam atrás. Neymar, porém, fazia a diferença. Puxando contra-ataques, ele tirou o Peixe do sufoco logo após o início do segundo tempo, arrancando pela esquerda e dando um toque inspirado para matar Felipe.

Mas Neymar não era o único protagonista do jogaço. Ronaldinho Gaúcho mostrou que o craque pensa à frente, surpreende, improvisa. Falta na entrada da área, pelo lado direito. Rafael armou a barreira e se posicionou no lado direito. Todos esperavam a batida por cima da barreira. Esperto, o camisa 10 tocou rasteiro. A bola passou por baixo e enganou o goleiro santista. 4 a 4!

A Vila Belmiro não respirava. Privilegiadas, as quase 13 mil testemunhas do jogo do ano no Brasil não desgrudavam os olhos do gramado. Qualquer piscada e se perderia um drible de Neymar, um toque refinado de Ronaldinho.

Neymar driblava, chutava, só sofria mesmo com a marcação de Willians. O jeito era fazer a bola não chegar ao astro santista. Foi isso o que o Flamengo fez quando roubou a bola no meio de campo – num erro de Ganso. Um contra-ataque mortal, com Ronaldinho arrancando pela esquerda, invadindo a área e definindo o placar.

Uma salva de palmas para o futebol.

SANTOS 4 X 5 FLAMENGO
Rafael, Pará, Edu Dracena, Durval e Léo; Arouca, Ibson, Elano (Alan Kardec) e Ganso; Neymar e Borges. Felipe, Léo Moura, Welinton (David), Ronaldo Angelim e Junior Cesar; Willians, Luiz Antonio (Bottinelli), Renato e Thiago Neves; Ronaldinho e Deivid (Jean).
Técnico: Muricy Ramalho Técnico: Vanderlei Luxemburgo
Gols: Borges, 4, 16, Neymar, 26, Ronaldinho Gaúcho, 28, Thiago Neves, 31, Deivid, 43 minutos do primeiro tempo; Neymar, 5, Ronaldinho Gaúcho, 22, 36 minutos do segundo tempo
Cartões amarelos: Welinton, Willians, Thiago Neves, Renato (Flamengo). Léo, Neymar (Santos)
Local: Vila Belmiro, em Santos (SP). Data: 27/07/2011. Árbitro: André Luiz de Freitas Castro (GO). Auxiliares: Márcio Eustáquio Santiago (MG) e Erich Bandeira (PE). Renda e público: R$ 312.040,00/12.968 pagantes.

—————————————————————————————————————————————————————————————————–

do Blog do Arthur Muhlenberg: http://globoesporte.globo.com/platb/arthurmuhlenberg/2011/07/28/parabens-pra-voce-que-e-flamengo/

Parabéns Pra Você Que é Flamengo.

 

– Deivid, Vai Ser De Quanto Esse Jogo, Meu Brother?

Vou começar parafraseando, com todo o respeito, o grande rubro-negro Dr. Roberto. Porque depois do jogo de ontem não dá pra guardar nada em casa. Meninas, anotem isso: – Se um dia eu vier a faltar, podem ter certeza que foi por causa do Flamengo.

Né sacanagem, não. Mas haja coração pra aguentar o Flamengo. O cara que escolhe essa vida de fechar com o certo precisa ter nervos de aço, coração de leão, estomago de avestruz e cabeça de dinossauro.

Adilson Barros e Julyana Travaglia, que assinaram a belíssima reportagem sobre o jogo no Globoesporte.com, melhor dizendo, sobre o King Kong Muito Boladão de Emoções que rolou nesta quarta-feira à noite, na Vila Belmiro, pela 12ª rodada do Brasileirão, disseram que era difícil achar um adjetivo para qualificar o que Santos e Flamengo fizeram.

Porra, se os caras que estão lá na beira do gramado, de crachá e verba pro lanche, respirando a atmosfera pura da partida acharam difícil definir, imagina o mulambo aqui cheio de cerveja na ideia assistindo ao jogo com a TV sem som à mais de 400 quilômetros da parada. Foi muita pressão, amigos. Vou falar na sinceridade pra vocês, depois do 5×4 no fim do segundo tempo eu percebi que tava solto na buraqueira, na garupa do Bozo mesmo. Aí já era tarde demais pra escrever alguma coisa que prestasse. Mas vamo sempre na humildade, me ajuda aí galera.

Esquecendo um pouco a ordem cronológica das paradas vamos começar dando moral pra Ronaldinho Gaúcho. PQP, o maluco jogou muito. Jogou tanto que criou um problema na programação da Globo. Vocês estão ligados que o Ibope é um vício pior que Facebook. O cara meteu 3 gols, fez chover, mandou soltar e mandou prender na melhor partida transmitida pela emissora no ano inteiro. Xiii, Marquinhos, e agora?

Não dá pra esperar até domingo pra Ronaldinho pedir uma música no Fantástico. E aí, como faz? Revogam a aposentadoria do Cid Moreira na Flórida pro cabeça branca fazer uma aparição extraordinária no meio do Jornal Nacional de amanhã pro Gaúcho pedir uma do Exalta? Ou dá um break no meio da novela da Bruna Surfistinha pra geral ouvir Marrom Bombom com Os Morenos? Alguém precisa ver isso rápido.

Ficou uma lição pra cornetolândia: foda-se que Ronaldinho não quis se atrasar pra festcheenha de sábado e preferiu não jogar com os cearistas. Ronaldinho, e Thiago Neves também, se guardaram pros grandes momentos, pros jogos que realmente importam. Foi pra isso que eles vieram pro Flamengo.

O começo do jogo foi teatro dos vampiros, só desgraça desde antes que o ponteiro chegasse nos 5 minutos. Passou na cabeça de todo mundo aquela preocupação: essa invencibilidade não vale de porra nenhuma, os caras tão botando a gente na roda. E antes mesmo que esse raciocínio simplório percorresse nossas sinapses já tava 2 x 0 com o puto do Neymar dando um passe deitado na frente do Wellinton pro Borges fazer gol. Esquisito, né?

E aí, pra completar a tragédia me deixam o maluco livre mais uma vez pra esculachar o Angelim com um drible de PlayStation. Na moral, amo, respeito e dou moral pro Angelim, mas a posição que ele ocupa devia ser que nem a de ministro do STJ, depois de uma certa idade a aposentadoria tem que ser compulsória. Ultimamente o Angelim está sempre duas doses atrás da humanidade. Pede pra sair.

Mas foi depois do terceiro gol da sereias que rolou a faísca que incendiou a partida. Até então era um jogo onde um time acertava tudo que tentava e o outro errava tudo. Tava 3 x 0 pros caras, mas nós já tínhamos tido 4 chances cristalinas. Mas quem ia acreditar nesse mimimi se o jogo acabasse naquele momento?

Mas tal faísca provocou a ignição divina e o Mengão, sempre no perrengue máximo, foi buscar. Incrível, fantástico, extraordinário. Depois da previsível bizarrice do Elano no penal, com direito a esculachamento master em forma de embaixadinhas “recurso técnico”do sinistro Felipe, o Mengão chegou no 3 x 3 com um gol de quina de coco do Deivid. Unbelievable! Mas o até hoje o Flamengo não sabe o que é descer pro vestiário perdendo nesse Brasileirão. Nossa invencibilidade é mais pura, nosso cabaço é de adamantium.

O segundo tempo não vou nem explanar. Porque não precisa. Foi sacanagem o que o Flamengo fez com as sereias espevitadas da Vila. Acabamos com a marra delas categoricamente. Mesmo com saída do espetacular moleque Luís Antônio, O Tranquilão, o Mengão Raspador de Moicano não perdeu a pegada e continuou a espremer o peixe na sua própria frigideira. Léo Moura, depois de muito tempo, resolveu visitar a famosa linha de fundo e o Flamengo começou a mostrar porque é Flamengo.

O 4 x 4 já foi consignado com requinte de crueldade na cobrança de falta canalha de Ronaldinho. Nessa altura do baba quem fecha com o certo e até quem fecha com o errado já pressentia que essa história de tabu é pros fracos e que o Mengão ia zoar com o peixe na casa deles outra vez. O Santos era um time de uma jogada só, bicuda na direção do Neymar pra ver se ele arrumava alguma encrenca. E injustificadamente blindado pelo juiz banana o moleque fanfarrão deu porrada, se jogou e chorou o jogo inteiro. Mas só recebeu seu merecido amarelo aos 47 do segundo tempo.

Mas nessa hora o Flamengão Fuderosão Mega Calador de Bocas já tinha feito barba, cabelo e bigode. Ronaldinho deixou mais um ovo no balaio do Santos, era o artilheiro do Brasileiro, jogando no time com o melhor ataque da competição. 5 x 4 no placar e silêncio sepulcral na arcoirislândia. Era a deixa pra começar o carnaval de junho na Nação Rubro-Negra onde o Sol nunca se põe. Agora vagabundo vai ter que aturar.

Entendam, seus pelasacos. O Santos é coletivo. Mas São Judas Tadeu é particular.

Como é bom ser Flamengo. Só quem é que sabe.

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador