Minha homenagem ao Edson, o menino que carregou o Pelé sobre os ombros, por Eduardo Ramos

Gênio, mágico, perfeito, o rei dos reis… Desde o meninote de 16 anos ao homem jogando seus últimos jogos, lá estava sua majestade única!

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por Eduardo Ramos*

Minha homenagem ao Edson, o menino que carregou o Pelé sobre os ombros

Tínhamos um rei, mas disso não sabíamos. Ou sabíamos, mas sem muita convicção: “Pelé, rei nesses tempos de internet em que Messi, Maradona, Neymar, Cristiano Ronaldo e outros estão presentes dia e noite nas mentes apaixonadas dos torcedores mais jovens…?” – nos perguntávamos muitos de nós, diante de um Pelé que parecia esquecido, “peça de museu”…

Mais uma vez em minha vida, vejo a frase magnífica de Guimarães Rosa se impor, mostrar-se verdadeira: “O que tem que ser tem muita força, tem uma força enorme!” – Pois, no exato segundo em que Pelé partiu e a notícia se espalhou, a dimensão INFINITA de sua majestade como o rei do futebol, o rei de todos os esportes, na verdade, o primeiro e único, a perfeição absoluta no esporte mais popular da Terra, estabeleceu-se, de um modo tão palpável, que, se vivo, Nelson Rodrigues certamente escreveria: “até as pedras estão cientes de que hoje partiu o rei do futebol!”.

Eu mesmo, não tinha noção alguma da importância dessa figura mitológica em minha vida. Foi meio que estarrecido que descobri, pela sensação de perda, pela tristeza imensa, imensa, o quanto Pelé habitava meu imaginário, meu coração e mente, em relação à admiração por sua pessoa – o Edson – e pelo jogador, pelo atleta, fantástico, como esses seres que vemos nas histórias em quadrinho ou filmes dos heróis com super poderes.

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Chorei e ri ao mesmo tempo, vendo por horas seguidas os dribles, os gols, os passes, enquanto se cristalizava em mim o que muitos falaram: “O que Maradona fez, ou Messi, ou Zidane, ou Romário, ou os dois Ronaldos, ele fez primeiro, fez igual ou melhor, fez mais vezes e com mais constância, FEZ DE UM JEITO QUE NENHUM DELES ALCANÇOU…” – e entendi, com uma clareza rara, porque o chamavam “rei”.

Li, comovido, ou assisti falas de amigos e admiradores, as mais lindas o possível. Minha preferida, a mais real e poética, veio do jogador Richarlison, em minha opinião:
“Hoje o futebol se despede do seu capítulo mais bonito.”

Que poder de síntese fantástico, Richarlison! Disse tudo em tão poucas palavras. Sim, o futebol se despede do seu capítulo mais bonito.

E quantos falaram sobre o “Pelé eterno, quem partiu foi o Edson”, e tantos falaram da genialidade mágica, do quanto encantou e enfeitiçou gentes apaixonadas por futebol em todo o planeta, que fui amadurecendo essa ideia de seguir um “caminho paralelo” em minha homenagem ao Pelé. Foi depois de ouvi-lo em uma entrevista antiga, em que ele confessava sua eterna perplexidade por tudo o que a vida lhe concedeu “pelos pés do Pelé”, a ele, o Edson. E ele diz que um dia “iria perguntar a Deus, porque ele, Edson, teve que encarnar o Pelé, carregá-lo em vida, ser o Pelé, o maior de todos…” – porque o Edson sabia-se único, sabia da dimensão do que fazia em campo, do que representava para o futebol, para o esporte, para o Brasil. Foi quando percebi a grandeza da SIMPLICIDADE, que aquele menino ainda franzino e magricela começou “a carregar o rei Pelé sobre os ombros” – e assim fez a vida inteira…

Porque o Edson poderia ter escolhido mil formas diferentes de “ser e viver o Pelé”, e os fatos, os testemunhos dos amigos, dos companheiros de Santos, seleção brasileira e Cosmos, assim como de jornalistas do mundo inteiro e milhões e milhões de fãs a admiradores, TODOS, sem exceção dizem o mesmo: “O Pelé atendia a todos com uma paciência, uma gentileza, que nem parecia que ele era o Pelé…”
Sem falar dos que jogaram com ele, a afirmação unânime de um ser humano sem estrelismos, soberbas, exigências para isso ou aquilo, e o bando de baboseiras narcísicas tão comuns hoje em dia em gente que “não poderia descalçar suas chuteiras”… Algo em Pelé – ou melhor, no Edson – se manteve com a simplicidade das crianças desde seu primeiro treino no Santos em 1956 até o final de sua carreira, até o ponto final de sua vida.

Sobre o atleta, uma observação “boba” que me chamou a atenção ao ver seus lances pela TV no dia se sua morte: mostraram um de seus primeiros gols como profissional, aos 16 anos, no Maracanã, quando o goleiro do América sai para tentar impedi-lo de marcar e ele, com a calma de um veterano toca por cima, “a La Romário” diriam os mais jovens, e os veteranos o corrigiriam: “Não, foi Romário que fez alguns gols a La Pelé”… – como todos os outros gênios do futebol.

E, logo depois desse lance, vejo Pelé, aos 33 anos, fim de carreira no Santos, partir como um bólido do meio de campo, uma velocidade tão espantosa que o zagueiro fica alguns passos para trás, impotente, e marca o gol, como um predecessor de Ronaldo Fenômeno ou um Mbappé – não importa, “Pelé visitou esses lugares todos, antes de qualquer um deles…”

Gênio, mágico, perfeito, o rei dos reis… Desde o meninote de 16 anos ao homem jogando seus últimos jogos, lá estava sua majestade única!

Ao Edson, que representou e levou o nome do Brasil aos quatro cantos, que nos presenteou com seu dom, que nos encantou, ao menino, ao homem Edson, que se mostrou digno dessa coroa, minha homenagem, minha admiração, meu respeito, minha gratidão!

Vá com Deus, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé!

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Redação

1 Comentário

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  1. Sim, é preciso valorizar o Edson. O Pelé é a Alma do Edson, é a Luz e a ardência do Espírito dele. É muito difícil trazer pra terra aquilo que somos no Céu, e o Edson conseguiu.
    Vinícius de Moraes disse: “você, meu grande Pelé, é um gênio completo, porque o seu futebol representa um reflexo imediato de sua cabeça nos seus pés. Eu não sou gênio, não. Eu tenho que pensar um bocado para que a mão transmita direito o que a cabeça lucubrou. Meus gols são mais raros que os seus. Você é com justa razão chamado o Rei.”
    Trazer a inspiração Intuitiva para o papel não é fácil, muito mais difícil é traze-la para o gramado. Só mesmou alguém que consiguiu vestir a coroa do seu Eu superior, seria capaz de transformar o mundo inteiro com a Arte movida pelos seus pés. O Edson demonstrou que todos nós temos um Rei dentro de si, e que temos esse potêncial SuperHumano para desenvolver.
    O Estádio Urbano Caldeira (Vila Belmiro) deveria mudar de nome e homenagear a grandeza e a glória de Edson Arantes do Nascimento.

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