Observatorio de Geopolitica
O Observatório de Geopolítica do GGN tem como propósito analisar, de uma perspectiva crítica, a conjuntura internacional e os principais movimentos do Sistemas Mundial Moderno. Partimos do entendimento que o Sistema Internacional passa por profundas transformações estruturais, de caráter secular. E à partir desta compreensão se direcionam nossas contribuições no campo das Relações Internacionais, da Economia Política Internacional e da Geopolítica.
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A Júlio, o César, por Felipe Bueno

Zelenski anunciou que o Natal mudou de data. Noel e as renas passarão pelos lares ucranianos no dia 25 de dezembro, não mais em 7 de janeiro

do Observatório de Geopolítica

A Júlio, o César

por Felipe Bueno

A complexidade das relações entre os povos está muitas vezes em coisas que consideramos meros detalhes, mas que podem mudar expectativas e rumos de maneira mais profunda que uma declaração formal de guerra.

A ofensiva da Rússia contra a Ucrânia vai chegando a um ano e meio de duração sem sinais de que um fim esteja próximo. Vidas perdidas, famílias desfeitas, pessoas desterradas. As ações institucionais e anônimas de acolhimento, frequentes nas manchetes e nos discursos dos políticos nos primeiros tempos, perdem as cores fortes e permanecem apenas nos corações mais engajados. Putin e asseclas seguem em suas posições, assim como seu homólogo ucraniano e aliados. E milhares de almas sem voz continuam se movendo em silêncio.

Eis que entre uma semana e outra de bombardeios, avanços e recuos, o presidente Zelenski anunciou que o Natal local mudou de data. O bom velhinho e as renas passarão pelos lares ucranianos no dia 25 de dezembro, não mais em 7 de janeiro, como tem sido há tempos por decorrência do calendário juliano, cujo nome honra Gaius Iulius Cesar, um dos artífices do estabelecimento do Império Romano.

Tal regra é vigente em terras que fazem parte da área de influência da Igreja Ortodoxa, incluindo a Mãe Rússia, desde os tempos em que Gregório XIII, pai do “nosso” calendário, fez os ajustes que considerou devidos, no século XVI.

À margem do noticiário superficial de massa, a não ser quando soa exótico ou viraliza, um fenômeno dessas proporções pode até não significar nada na vida prática das pessoas que em geral estão mais preocupadas em sobreviver num território em guerra. Mas representa muito quando tentamos entender que um país é um espaço físico e legal determinado, mas um povo – e são tantos os povos – é uma ideia que não respeita e não admite fronteiras. Seus valores têm origens ancestrais e não desaparecem por uma ação decidida num gabinete e perpetrada à caneta. Isso vale para a sua relação com uma divindade e também vale para o modo como sua família assa e come o pão.

Pão que é feito de trigo. Trigo que é um cereal. Cereal que vem da terra. E a terra ucraniana é fértil, já o sabiam o império russo, a União Soviética e a Alemanha nazista. Começo este texto falando sobre dias de Natal, termino falando sobre commodities, ambos assuntos flutuando à deriva nas águas agitadas do Mar Negro.

Felipe Bueno é jornalista desde 1995 com experiência em rádio, TV, jornal, agência de notícias, digital e podcast. Tem graduação em Jornalismo e História, com especializações em Política Contemporânea, Ética na Administração Pública, Introdução ao Orçamento Público, LAI, Marketing Digital, Relações Internacionais e História da Arte.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

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