Observatorio de Geopolitica
O Observatório de Geopolítica do GGN tem como propósito analisar, de uma perspectiva crítica, a conjuntura internacional e os principais movimentos do Sistemas Mundial Moderno. Partimos do entendimento que o Sistema Internacional passa por profundas transformações estruturais, de caráter secular. E à partir desta compreensão se direcionam nossas contribuições no campo das Relações Internacionais, da Economia Política Internacional e da Geopolítica.
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As bolas de gude, por Felipe Bueno

E as “sólidas instituições democráticas” das nações, até que ponto serão páreo para aberrações produzidas pelo próprio processo democrático?

As bolas de gude

por Felipe Bueno

A prova mais recente de que o mundo civilizado segue sob ataque da barbárie extremista é o fato de que, ao menos em parte, a vitória da Aliança Democrática nas eleições legislativas de Portugal deve ser encarada com um certo alívio.

Com todos os poréns ideológicos e programáticos permitidos, silenciosamente percorre nossa alma uma dose de conforto pelo fato de que ainda existe uma direita “moderada”, com quem supostamente pode haver diálogo – é difícil, mas somos obrigados a admitir.

Trata-se de uma fugaz sensação de que ainda estamos no século XX, reconhecidamente muito mais seguro do ponto de vista de nossa torre de observação aqui em 2024.

Mas essa brisa refrescante dura pouco. Nossa visão privilegiada volta-se agora ao futuro e ao ameaçador crescimento do Chega e seus mais de um milhão de votos num país que tem pouco acima de 10 milhões de habitantes.

Do viés prático da governabilidade – palavra tão vilipendiada! – especularemos por alguns dias sobre o que acontecerá em termos de alianças entre centro-direita e os extremistas, a que ponto aqueles se tornarão radicais ou estes ficarão moderados, mas isso é apenas o amanhã mais próximo.

Outros amanhãs virão, assim como outras importantes eleições na Europa e em demais cantos do mundo. Seja no Velho Continente ou além, a onda extremista aparece com maior ou menor destaque no noticiário, mas a cada dia vai se alimentando de ressentimentos e perguntas não respondidas.

E as “sólidas instituições democráticas” das nações, até que ponto serão páreo para as aberrações produzidas pelo próprio processo democrático?

Escrevo estas modestas linhas inspirado pela oportunidade de ter assistido a um esclarecedor seminário sobre os 50 anos da Revolução dos Cravos, no Instituto de Relações Internacionais da USP, no qual o movimento de 1974 foi analisado e seus legados investigados, celebrados e/ou lamentados.

Tal encontro com tanta riqueza de vozes e pensamentos me fez lembrar d’A Noite, peça escrita pelo autor português José Saramago focalizando justamente a passagem de 24 para 25 de abril numa redação de jornal em Lisboa.

Me vem daí uma angustiada percepção de que, em apenas cinquenta anos, a sociedade tornou-se nada mais que um punhado de bolas de gude que, antes juntas, uma vez jogadas no chão se espalham e nunca mais se encontram.

Felipe Bueno é jornalista desde 1995 com experiência em rádio, TV, jornal, agência de notícias, digital e podcast. Tem graduação em Jornalismo e História, com especializações em Política Contemporânea, Ética na Administração Pública, Introdução ao Orçamento Público, LAI, Marketing Digital, Relações Internacionais e História da Arte.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

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