Nações do Sul global se reúnem no Caribe para a Cúpula do G77 

Renato Santana
Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.
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A ordem econômica atual perpetua privilégios dos países ricos e deixa uma parte da humanidade no subdesenvolvimento, aponta grupo

O grupo foi fundado em 15 de junho de 1964 pela “Declaração Conjunta dos Setenta e Sete Países”. Foto: Ascom/Presidência de Cuba

O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, inaugurou na capital Havana, nesta sexta-feira (15), os trabalhos da Cúpula do G77. O país caribenho atualmente preside o grupo de nações do Sul, que buscam se fortalecer para enfrentar questões econômicas, políticas e de relações exteriores.  

Junto com o G77 está a China juntos chegam a 134 nações, que representam dois terços dos países que compõem a Organização das Nações Unidas (ONU) e concentram os 80% da população mundial, além de 50% do PIB global. A cúpula segue até este sábado (16). 

“O Norte acomodou o mundo aos seus interesses em detrimento do resto, cabe agora ao Sul mudar as regras do jogo”, disse o presidente cubano.

A cerimônia de abertura e primeira sessão de trabalho do G77 + China contou com a presença do líder da Revolução Cubana, General do Exército Raúl Castro Ruz, e do secretário-Geral da ONU, António Guterres.

Caráter injusto da atual ordem mundial 

Díaz-Canel apelou às nações do G77 para que em conjunto derrubem as barreiras que impedem o acesso dos países membros ao conhecimento e à tecnologia, o que retarda o seu desenvolvimento e os impede de responder aos desejos de paz e bem-estar dos seus povos.

Para o presidente cubano, há um caráter anacrônico e injusto da atual ordem econômica internacional. Salientou que a humanidade atingiu um potencial técnico-científico inimaginável, que em condições de igualdade, equidade e justiça poderia proporcionar padrões de vida dignos à população do planeta.

O avanço no domínio da ciência, tecnologia e inovação traduzirá como e quando os objetivos de desenvolvimento sustentável poderão ser alcançados em matéria de fome e pobreza zero, serviços de saúde, educação de qualidade, igualdade de género, acesso à energia, trabalho e industrialização.

Enfatizou que a ordem econômica atual perpetua as condições de privilégio dos países ricos e deixa uma parte considerável da humanidade no subdesenvolvimento.

Escada derrubada 

Depois que os países como os Estados Unidos e os integrantes da União Europeia subiram as escadas do domínio da economia mundial, passaram a derrubar qualquer uma usada pelos países do Sul global para melhorar suas próprias condições de desenvolvimento.  

Entre outros impactos negativos causados ​​por essa situação, mencionou as fraturas na produção de bens e serviços, a deficiente atenção à saúde, o desequilíbrio no acesso à internet e a disparidade desproporcional no acesso à eletricidade entre países ricos e nações em desenvolvimento. 

Questionou que apesar do desenvolvimento técnico-científico alcançado, o mundo retrocedeu três décadas em termos de redução da pobreza, há níveis de fome não vistos desde 2005, mais de 84 milhões de crianças continuam fora da escola, mais de 600 milhões de pessoas não estão têm eletricidade e apenas 36% da população mundial utiliza a Internet.

Assegurou que os povos do Sul são os que mais sofrem as consequências do subdesenvolvimento e questionou que sejam chamados de pobres quando deveriam ser considerados empobrecidos depois de séculos de colonialismo e neocolonialismo.

Pandemia: retrato da desigualdade global 

Ele lembrou que a pandemia da covid-19 demonstrou claramente o custo da exclusão do Sul. Ele citou que apenas dez fabricantes concentravam 70% da produção de vacinas contra a covid-19. Os países em desenvolvimento só podiam ter 24 doses de vacinas por 100 habitantes, enquanto os países mais ricos tinham quase 150 doses.

Referiu-se também à importância da vontade política para se investir na ciência no Sul global. Mesmo com o bloqueio de mais de 60 anos dos EUA a Cuba, o país caribenho conseguiu conceber várias das suas próprias vacinas contra a covid-19 com eficácia elevada e comprovada.

Histórico

O Grupo dos 77 é uma coalizão de nações em desenvolvimento, que visa promover os interesses econômicos coletivos de seus membros e criar uma maior capacidade de negociação conjunta na Organização das Nações Unidas (ONU). O Brasil faz parte do G77.

O grupo foi fundado em 15 de junho de 1964 por 77 países na “Declaração Conjunta dos Setenta e Sete Países”, emitida na Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). 

A primeira reunião importante foi em Argel, em 1967, quando a Carta de Argel foi adotada e a base para as estruturas institucionais permanentes foi iniciada. Há seções do Grupo dos 77 em Roma (FAO), Viena (ONUDI), Paris (UNESCO), Nairobi (UNEP) e o Grupo dos 24, um capítulo do G77, em Washington, DC (FMI e Banco Mundial).

Os países sul-americanos que já presidiram o Grupo dos 77 são o Peru (1971-1972), República Bolivariana da Venezuela (1980-1981 e 2002), Estado Plurinacional da Bolívia (1990 e 2014), Colômbia (1993), República Cooperativa da Guiana (1999), Argentina (2011) e Equador (2018).

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Renato Santana

Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.

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