A base naval de Recife na Segunda Guerra

Por Motta Araujo

A BASE NAVAL DE RECIFE NA SEGUNDA GUERRA – Quando o Brasil aderiu ao bloco Aliado na Segunda Guerra em agosto de 1942, já havia iniciado a estruturação da base naval de Recife, QG da 3ª Força Tarefa da 4ª Frota da Marinha americana, sob comando do Almirante Jonas Ingram, que passou a residir em Recife. Recife era o centro de uma rede de bases que começavam em Belém e iam até a Base de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, incluindo aí Aratu, Caravelas, Fernando de Noronha e Vitória, bases criadas pelo Acordo Militar de 23 de maio de 1942.

As bases eram dotadas de rampas para hidro-aviões, colunas de amarração de dirigíveis e principalmente tancagem de combustível de aviação. Os dirigíveis eram excelentes para encontrar submarinos submersos porque voavam baixo e em lenta velocidade. O Brasil perdeu no Atlântico Sul 31 navios mercantes afundados por submarinos alemães e perdas de centenas de vidas entre tripulantes e passageiros.

O Atlântico Sul configurava uma passagem com duas pontas, a saliência do Nordeste brasileiro e Senegal na África francesa, cuja ocupação pela Alemanha era prevista assim que as forças anglo-americanas invadissem a África do Norte francesa, o que se daria em Novembro de 1942. A Operação Torch, invasão da África francesa por Argel, Oran e Casablanca foi planejada para barrar a ocupação alemã decorrente do desmanche do Governo de Vichy.

Os Aliados fizeram a mesma coisa no Libano e Siria, um ataque preventivo para evitar a infiltração alemã que já tinha começado  em 1941 e que tentou inclusive um golpe anti-britânico em Bagdad em conjunto com o primeiro ministro Rashid Ali.

O papel das duas maiores bases americanas, a de Natal e a de Recife foi importantíssimo. Esses dois pontos eram a rota de reabastecimento dos voos que saíam do Sul dos EUA para a África. Não era possível esse longo trajeto sem parada técnica no meio do caminho, os aviões não tinham aquela época autonomia para voos longos.

Em número de militares americanos Recife era bem maior do que Natal, além de ser o QG de todas as operações aero navais no Atlântico Sul. A presença de marinheiros americanos em grande quantidade mudou a vida de Recife, movimentou os restaurantes.

Francisco de Barros Junior conta uma passagem no Restaurante Leite, que até hoje existe e é muito bom, quando entra o Almirante Ingram acompanhado de duas elegantes senhoras, o restaurante totalmente ocupado por marinheiros americanos, ninguém se levanta nem puxa a cadeira para dar passagem ao Almirante e suas acompanhantes,  Barros Junior fica chocado e pergunta a um oficial americano: “mas esses marinheiros não respeitam seu Comandante?” ao que o oficial responde: “ele é comandante na Frota, aqui ele é uma pessoa comum”.

O que bem demonstra o tipo de sociedade que é a americana, como cidadãos todos são iguais, autoridade só na função. Segunda alguns nasceu nessas bases a expressão “forró”, corruptela da placa FOR ALL, bailes onde podia entrar qualquer soldado ou marinheiro, oficial ou praça, para diferenciar de bailes só para marinheiros ou só para oficiais.

Referência: http://www.history.navy.mil/library/online/buildbaseswwii/bbwwii2.htm

Redação

11 Comentários

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  1.   Xará, aprendi a identificar

      Xará, aprendi a identificar quando o post é seu só de ler o título na caixa de conteúdos. Geralmente é sobre História, e saio contente com a leitura. Obrigado e parabéns.

       

  2. Colonismo Linguístico

    Estragou a reportagem “estórica” com um final “babaovista” (talvez o real objetivo implícito).

    FORRÓ é apenas a corruptela de FORROBODÓ, uma palavra bastante usada muito antes (e depois) da segunda guerra.

    Já em 1912, uma opereta musicada por Chiquinha Gonzaga levava este nome. Festa “do barulho”, festa com dança.

    O resto é lenda que alguns pensam fazer erudição.

      1. M A X I M E!
        Praia da Boa

        M A X I M E!

        Praia da Boa Viagem com casas e pista unica intercalada de areia e asfalto ….

        Escrevo-lhe agradecendo pela recordação babando de um peixe ao molho de camarão com pirão que ficou de referência nessas décadas já vividas. 

  3. Indicação de livro

      Caro Motta, um livro bem interessante e abrangente sobre esta epoca das relações Brasil e Estados Unidos, é “A estrutura de defesa do hemisfério ocidental” – de Conn e Fairchild – publicado no Brasil em 2000, pela biblioteca do exército.

       1. Poucos comentam, mas mesmo antes de 12/09/42, data em que todas as unidades navais americanas e brasileiras foram colocadas sob o comando do Alm. Ingram (USNavy – 4a Frota), já existiam unidades aeronavais americanas, sediadas em território nacional.

       2. A primeira unidade ( 4 a 6 PBY-5 Catalina) do VP-52, originalmente baseadas na Zona do Canal do Panamá, chegaram na Base Aerea de Natal (Rampa do rio Potengi), no dia 12/12/41 – portanto antes da entrada do Brasil na IIGM 4 dias após Pearl Habor – e vieram apoiadas por dois navios-tenders de hidroaviões, o USS Greene e o USS Trush.

       3. A TF3, depois 4a Frota, em toda sua trajetória de guerra, sempre em seu componente naval, era (para os moldes americanos) pequena: 04 cruzadores leves, 5 destroieres e dois tenders e depois de 12/09/42, acrescidos de unidades brasileiras: 01 cruzador (ultrapassado) e os navios modernos cedidospelo lend-lease act: 08 destroiers de escolta + 16 caça-submarinos – o mais relevante componente da US Navy no teatro do Atlantico Sul, sempre foi o aereo.

       4. Dirigiveis: Os “blimps” modelo ZNP-K, chegaram ao Recife em 09/43, compunham 02 esquadrões da USNavy ( ZP-41 e ZP-42), e rodiziaram em patrulhas de longa permanência, entre: São Luis, Fortaleza, Noronha, Maceió, Caravelas, Salvador, Vitória – chegando até mesmo a Base de Santa Cruz (RJ) – nunca neste teatro, estes blimps chegaram a fazer algum contato com o inimigo.

       5. O suposto relaxamento disciplinar que tanto espantou, e ainda espanta, alguns de nossos militares, não é referente apenas quanto a “autoridade” ou serem “iguais” – é até simples: oficial “descoberto”, fora de seu posto de comando (navio/base/aeronave), não deve ser saudado – inclusive na USAF, RAF, USArmy, atualmente não se sauda ninguem – aprendeu-se que tal costume, pode fazer do oficial-superior, um “alvo”.

        6. For all/forró/forrobodó: Um amigo historiador ferroviario e nordestino, me contou que é da época dos ingleses, que faziam festas separadas para seus engenheiros e técnicos, e festas “para todos” (for all) os demais trabalhadores; outros amigos e algumas publicações dizem que forró é uma corruptela de forrobodó ( festa aberta e ao ar livre e confusa). Já com o pessoal da USNavy, anos 40, seria dificil, pois a USO realizou varias festas em Recife e Natal, exclusivas para eles, claro que brasileiros eram convidados, mas eram festas tipicamente americanas, claro que o famoso “off limits” – caso dos bordéis, boates, bares etc..- se não eram respeitados pelos militares americanos, nem mesmo na Inglaterra, Itália, França e Alemanha, no Brasil é que não ia ser.

  4. Forrobodó expressão nordestina sim senhor

    Não há dúvidas que forrobodó seja expressão nordestina, é nordestina sim, senhor. 

    Só não é americana.

    Mas a matéria e os comentários são bem interessantes, parabens.

     

    situando o forró:

    No Nordeste não temos só forró. Falamos de forró quando queremos nos referir a Xote, Xaxado, Baião, Rojão, Coco de Roda. Nas nossas músicas de raiz temos, além destas, desafios de violeiros com seus Oito a Quadrão, Galopes Rasantes, Martelo Agalopados, Mourão, sem falar nas musicas tocadas nas regiões litorâneas. Muitas são as espécies musicais.

  5. Blimp K-36

    Estou fazendo uma pesquisa sobre dirigíveis (Blimp) que a Marinha Americana trouxe para patrulhar o Atlântico Sul no final de 1943 e que tiveram sedes no Amapá, Fortaleza, Fernando de Noronha e Santa Cruz no Rio. Estou pesquisando em especial o modelo K-36 que pertenceu ao esquadrão ZP-42 e veio a cair na Ilha de Cabo Frio no estado do Rio de Janeiro em 17 de Janeiro de 1944. . Gostaria de saber se os Srs. tem alguma informação, foto ou dados sobre o assunto que possa ajudar na minha pesquisa.

    Obs: Em 05 de janeiro de 1944 o Blimp K-36 participou de uma operação de resgate de botes salva-vidas de um nalfragio.
    Grato

     

  6. procurando um avô

    Boa noite, minha mãe nasceu neste ano, ela foi criada por pais adotivos…. As poucas informações que tenho sobre seus verdadeiros pais é que era um oficial americano e uma acompanhante de Recife, ao saber que estava grávida, deu minha mãe recém nascida para meus avós adotivos. você teria o nome dos marinheiros que estiveram neste ano 1937, em Recife…? tento confortar minha mãe e tirar essa pendênciado seu coração, para reecontrar ou conhecer algum familiar que provavelmente more nos EUA. obrigado.

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