A islamofobia do ocidente versus o oriente

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Enviado por Paulo F.

Fato: a população islamica européia cresce mais que a média geral. Em alguns anos estará a idéia de uma Europa judaico-cristã (sic) sepultada pelo avanço de uma população mulçumana nativa? Conseguiu o Ocidente finalmente forjar o Oriente intimidador de que nos falava Said?

Da Deutsche Welle

Livro de Houellebecq inflama debate sobre o islã na França

Sexto romance do escritor suscita tanto elogios quanto acusações de islamofobia ao retratar uma França governada por um partido muçulmano. Atentado ao “Charlie Hebdo” no dia do lançamento eleva ainda mais a polêmica.

Houellebecq se defendeu das acusações de islamofobia e disse que ninguém muda voto por causa de um livro

O recém-lançado romance de ficção política de Michel Houellebecq já desencadeia debates furiosos na França. Em suas 300 páginas, o autor nacional vivo mais vendido no estrangeiro esboça o retrato de seu país sob o governo do fictício líder de um partido islâmico.

Tiragem inicial é de 150 mil exemplares

Em 2022, ao fim de um segundo mandato de François Hollande, a alternativa política dos franceses se restringe à Frente Nacional (FN), de extrema direita, ou ao poder religioso. No segundo turno do pleito presidencial, Mohammed Ben Abbes, candidato da “Fraternidade Muçulmana”, derrota Marine Le Pen, da FN, graças a uma aliança tanto com os socialistas como com a centro-direita.

A França do romance se encontra profundamente conturbada – assim como o narrador, o professor universitário François, um nihilista que se converteu à fé maometana. Por oportunismo, a fim de conservar seu posto na “Universidade Islâmica de Paris-Sorbonne”; mas também atraído pelas perspectivas eróticas da poligamia.

Conexão com atentado?

Soumission (Submissão) chegou às livrarias francesas nesta quarta-feira (07/01), com uma tiragem inicial de 150 mil exemplares, significativa para o mercado nacional. A publicação das traduções alemã e italiana está programada para meados de janeiro, mas ainda não há data prevista para uma versão em língua inglesa nem em português.

O título se refere a uma das acepções da palavra “islã”: submissão ou obediência a Alá. Pirateado antes mesmo do lançamento, o sexto romance de Houellebecq gerou uma avalanche de comentários sem precedentes, na imprensa e nas redes sociais, sendo classificado desde “sublime” a “irresponsável”.

Embora ainda não haja qualquer indício de uma conexão direta entre o lançamento literário e o atentado à redação do semanário Charlie Hebdo, em Paris, que matou pelo menos 12 pessoas, a capa da edição atual da publicação é, justamente, Soumission. Uma caricatura mostra o autor. Ao lado está escrito: “As previsões do mago Houellebecq: Em 2015, eu perco os meus dentes… Em 2022, eu faço ramadã!”

Capa do “Charlie Hebdo”: “Previsões do mago Houellebecq”

Provocação, apatia, profecia

Nos últimos anos, a França vem enfrentando o desafio da integração de sua população muçulmana, a maior da Europa, estimada em 10% dos 65 milhões de habitantes do país. Hollande assegurou que será um dos leitores de Soumission “porque está em debate”. Ao mesmo tempo, apelou aos franceses para que não se deixem “devorar pelo medo”.

Em editorial, o jornal de esquerda Libération acusa o escritor de justamente brincar com os temores anti-islâmicos e de “adubar as ideias da Frente Nacional”. Na mesma linha, o conservadorLe Figaro enfatiza o fato de o protagonista da ficção se arranjar com uma “visão de futuro que faz pensar num pesadelo”. “Houellebecq não sente simpatia por ninguém, antes indiferença. Essa apatia é o reflexo do esgotamento de nossa própria sociedade.”

Por sua vez, o Observatório Nacional contra a Islamofobia, integrante do Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM), deplorou incondicionalmente a abordagem do romance: “Suscitar pseudodebates nas mídias sobre a chegada hipotética ao poder, num futuro próximo, de um partido muçulmano […] só pode favorecer a expansão dos sentimentos islamofóbicos no seio da sociedade francesa.”

Para o também autor Emmanuel Carrère, em contrapartida, Soumission é “um livro sublime, de uma extraordinária consistência romanesca”, e as “antecipações” de Houellebecq integrariam a “família dos romances proféticos do século 20: 1984, de George Orwell, e Admirável mundo novo, de Aldous Huxley”.

“O que dá medo é o que vem antes “

Houellebecq se apresenta na Feira do Livro de Leipzig, em 2003

O tão polêmico quanto fleumático autor de 58 anos define seu processo de criação como uma “aceleração da história”. “Eu condenso uma evolução, na minha opinião, verossímil”, o que não seria uma provocação, “na medida em que não digo coisas que considere fundamentalmente falsas só para irritar”.

Após o lançamento, Houellebecq se defendeu das acusações de islamofobia: “Não acho que isso seja flagrante. A parte do romance que dá medo é sobretudo aquela antes da chegada dos muçulmanos ao poder.”

Afirmando-se “neutro”, ele rechaçou que tenha “dado um presente” a Marine Le Pen: “Não conheço ninguém que tenha mudado suas intenções de voto depois de ter lido um romance.” Na segunda-feira, a presidente da populista FN declarara que Soumission é “uma ficção que um dia poderá virar realidade”.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

7 Comentários

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  1. Enquanto o Islã nao renegar a

    Enquanto o Islã nao renegar a Sharia ele representa uma ameaça a liberdade individual e aos valores mais basicos de um estado de direito.

    Afirmar isso não é ser islamofobico e apenas destacar um fato…

  2. Eu não sou ‘Charlie Hebdo’

    “Os jornalistas do Charlie Hebdo estão sendo celebrados como mártires, com todo o direito, em nome da liberdade de expressão. No entanto, encaremos os fatos: se eles tivessem tentado publicar seu semanário satírico em qualquer um dos câmpus universitários americanos nos últimos 20 anos, sua iniciativa não teria durado 30 segundos….”

    http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,eu-nao-sou-charlie-hebdo-imp-,1617858

    1. E daí? Significaria apenas que a censura é mais forte nos EUA

      Até acredito nisso, mas isso nao diz nada nem a favor nem contra Charlie Hebdo. 

  3. Não se trata apenas de

    Não se trata apenas de islâmicos ou de oriente versus ocidente. Há uma invasão progressiva e irreversível tanto da Europa quanto dos Estados Unidos. Uma invasão dos povos mais pobres ao território dos mais ricos. São negros, centro-americanos, asiáticos, entrando por todos os poros do chamado mundo desenvolvido. Nenhum muro os deterá, nenhuma lei, nenhuma repreessão, nenhuma humilhação os abaterá. As extremas direitas não conseguirão senão exacerbar a invasão. A globalização parece que está acelerando um processo cíclico que é recorrente na história. Do mesmo modo os favelados do mundo rural grudam nas ricas cidades dos países em desenvolvimento. Não há como detê-los, o melhor que podem fazer é recebê-los de bom grado e o quanto antes dar-lhes a cidania. A única forma de minimizar esta onda seria contribuir para a paz e o desenvolvimento em seus lugares de origem. Eles vão entrar e transformar completamente a civilização chamada ocidental. Uma das razões mais fortes para esta invasão é a fraqueza de princípios dos desenvolvidos, que cheira a degeneração da espécie. Quando até mesmo a religião se curva à cupidez do lucro e às leis impiedosas do mercado, a humanidade retrocede ao neandertalismo. O historiador Ibn Kaldun pode ajudar a compreender esse movimento cíclico das civilizações, porque nações ricas sempre se ergueram em meio a nações pobres e até delas sugaram suas riquezas, mas depois se perderam em exageros individualistas luxuosos, sendo exatamente esta a porta por onde entra o bárbaro pobre que conserva intactos seus valores humanos. Talvez o caso do Charlire Hebdo seja apenas os islâmicos a dizerem para a França: “Nós vamos morar aqui e não vamos tolerar isto.”

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