Com tecido social esgarçado, Grécia avisa: a ruptura está próxima

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Sugerido por Paulo F.

Jovem preso em greve de fome por Estado grego lhe negar licença para estudar

Do Publico.pt


Nikos Romanos na altura em que foi preso, em Fevereiro de 2013 Eurokinissi/Reuters

Nikos Romanos está em greve de fome desde 10 de Novembro. O jovem de 21 anos, condenado a 16 anos de prisão por assalto à mão armada a um banco no início do ano passado, protesta contra uma decisão da Justiça de não lhe permitir sair da prisão durante o dia para frequentar um curso universitário.

A situação de Nikos Romanos provocou indignação geral num país já num clima social complicado, com uma taxa de desemprego de 26%, cortes em salários e pensões, salários em atraso em empresas públicas e privadas, e um milhão de pessoas sem acesso ao sistema de saúde, após seis anos de recessão. Há ainda uma potencial crise política a avizinhar-se com a eleição do Presidente, que tem de ser feita pelo Parlamento, e para a qual não se vislumbra maioria necessária. Caso não seja possível eleger um chefe de Estado, o Parlamento é dissolvido e são convocadas novas eleições. Neste momento, as sondagens dão a vitória ao Syriza (Coligação de Esquerda Radical), partido que se opõe ao pagamento da dívida e aos programas de austeridade.

O estado de saúde de Nikos está a deteriorar-se, avisam médicos e os seus pais, depois de tanto tempo a beber água com açúcar. Esta semana houve já um protesto em Atenas contra a decisão da Justiça de não lhe possibilitar estudar, e espera-se para este sábado uma grande acção que junte este caso e o aniversário da morte de Alexis Grigoropoulos, de 15 anos, numa manifestação em Exarcheia, que provocou protestos violentos.

O Ministério da Justiça tentou suavizar a decisão oferecendo a Nikos Romanos um curso por correspondência. Este recusou. “Lutar até à vitória ou lutar até à morte”, disse Romanos.

Os três outros condenados pelo mesmo assalto ao banco (na altura, em Fevereiro de 2013, a detenção foi comentada porque a polícia mostrou fotografias grosseiramente alteradas dos detidos, escondendo marcas de agressões) começaram entretanto também uma greve de fome.

O Ministério da Justiça está a propor entretanto uma lei, a ser discutida já na próxima semana no Parlamento, que permita cursos à distância para condenados que queiram estudar. A acção ainda provocou mais indignação junto dos apoiantes de Romanos, que dizem pedir apenas a aplicação de leis já existentes. Existe ainda pelo menos um precedente: um assassino condenado por ter morto a mulher (e de seguida desmembrado o corpo) teve licença para sair da prisão algumas horas por dia e assistir a aulas que lhe permitissem continuar o curso, em 1997. 

O ministro da Justiça, Charalambos Athanasiou, disse que o caso de Romanos deveria ser decidido por uma instância judicial, lavando daí as suas mãos, comentou a jornalista Justine Frangouli-Argyris no Huffington Post.

Athanasiou tinha elogiado Romanos quando este foi aprovado no exigente exame de entrada na Escola de Administração Empresarial de Atenas. O elogio do Governo foi acompanhado até por um cheque de 500 euros e um convite para um encontro com o Presidente da República. Romanos recusou os dois, mas pediu para ter licença para sair da prisão para assistir às aulas e completar o curso, voltando à prisão à noite, como previsto na lei. O pedido foi recusado, com o argumento de que há ainda um processo contra Nikos Romanos – não é claro se um recurso à decisão original, se uma acusação entretanto falhada por “pertença a grupo terrorista”.

“Uma greve de fome de alguém como Nikos Romanos na sociedade grega de hoje é algo explosivo”, comentou Dimitris Christopoulos, professor de Direito e presidente da Liga Helénica dos Direitos Humanos à agência francesa AFP.

“O Governo está em vias de criar um herói de esquerda e vê-se que o círculo de apoio ultrapassa muito os meios radicais”, disse Theodore Papatheodorou, professor de Direito Criminal e antigo vice-ministro da Educação, criticando a gestão de uma situação que poderia ser fácil e se está agora a tornar ingerível.

“O tempo passa inexoravelmente. Só há uma resposta”, disseram os pais de Nikos, Pavlina Nasioytzik e Giorgios Romano. “De outro modo, a Grécia estará, dentro de poucos dias, a lamentar o primeiro prisioneiro político morto vítima de greve de fome.”

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

3 Comentários

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  1. Na Grecia não tem PSDB…

    É tucano? Não? Então vai apodrecer na cadeia…

    Em tempo: Abençoadas politicas neoliberais. Saudades do FHC, Fujimori, Menem…

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