Em matéria veiculada pela Globo News nesta quinta-feira (16), a repórter Délis Ortiz utilizou a família de Hassan Rabee para ilustrar o grupo de 31 brasileiros repatriados da Faixa de Gaza, na Palestina, resgatados no Oriente Médio nesta segunda-feira (12) pelo governo federal.
Para surpresa de Hassan, que atendeu a equipe da Globo News sem ressalvas, na reportagem ele é tratado por Délis Ortiz como um radical extremista por supostamente apoiar o grupo Hamas, responsável pelo ataque terrorista a Israel no último dia 7 de outubro.
A jornalista baseou a sua informação falsa em postagens antigas de Hassan, publicadas em rede social muito antes do atual conflito, no ano de 2015, em que, devido ao que o povo palestino sofre na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, conforme explicação, ele escreveu que estava na hora do Hamas “explodir ônibus em Israel”.
Hassan apagou a postagem e justificou que escreveu em um momento de raiva e angústia pelo o que estava vendo acontecer com os palestinos no conflito com o Estado de Israel, o avanço das ocupações militares nos territórios da Palestina e abusos locais de autoridades militares. Da mesma forma, não informação de que Hassan tenha vínculo com o Hamas.
Hassan e sua família passaram a sofrer ameaças de morte, agressões, xingamentos racistas e xenófobos desde que chegaram ao Brasil. Já são mais de 200 mensagens de ódio.
Os ataques contra o repatriado se intensificaram após a reportagem da Globo News, que, por sua vez, teve uma origem não questionada por Délis Ortiz, autora da matéria: a extrema direita no Congresso Nacional e a máquina de produção de ataques de ódio que alimenta na internet.
Pedido de proteção ao governo
Os ataques foram iniciados após a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) acusar o repatriado de compartilhar conteúdo “pró-terrorismo”. A parlamentar resgatou a postagem de 2015 feita por Hassan. Ato contínuo, os seguidores da deputada, que se vinculam ao bolsonarismo, passaram a disseminar que Hassan é terrorista.
Na entrevista também veiculada pelo Jornal Nacional, Hassan afirmou que não se lembra da postagem e que é contrário a atos de violência. “Não sou a favor de violência nenhuma, sou a favor de conversa, sempre. Pode ser que eu tenha postado com raiva, mas não me lembro de nada”, disse o repatriado.
A defesa de Hassan formalizou um pedido para que o brasileiro e os familiares sejam incluídos no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH). As informações da defesa de Hassan foram divulgadas primeiramente pelo jornal Folha de S.Paulo, na coluna de Mônica Bergamo.
A defesa de Hassan destacou ainda para a colunista que pretende processar todos os autores dos ataques sofridos pelo brasileiro, incluindo a deputada Carla Zambelli.
“Nós vamos processar. É inadmissível que exista impunidade. Cada vez que há impunidade, essas pessoas se sentem mais empoderadas [em promover ataques]. Hoje é a família do Hassan, mas deve sair uma segunda lista [de futuros repatriados]. E essas pessoas que estão vindo, também vão passar por isso?”, indagou a advogada Talitha Camargo da Fonseca à Folha de S.Paulo.
Outras questões permeiam a falta de cuidado em reproduzir a informação sem checagem e em um contexto inverídico: como um “terrorista” do Hamas pode estar desde o início das hostilidades (dia 7 de outubro) se expondo nas redes sociais sem ir ao combate e ainda pedindo ajuda para deixar a Faixa de Gaza? Se Hassan é “terrorista”, não deveria estar na lista do Mossad, serviço secreto israelense, entregue à Policia Federal brasileira – ainda mais depois de se expor tanto nas redes sociais?
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