Ministro da Defesa da Ucrânia renuncia sob escândalo de corrupção

Renato Santana
Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.
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Presidente ucraniano Volodimir Zelensky tem enfrentado denúncias de corrupção contra seu governo e vê ingresso a Otan ameaçado

Reznikov, agora fora do Ministério da Defesa, ocupava o cargo desde novembro de 2021 tornando-se o principal negociador de ajuda militar a Kiev. Foto: Getty Images

O ministro da Defesa da Ucrânia, Alexei Reznikov, declarou nesta segunda-feira (40) pela manhã, horário de Brasília, que apresentou a sua demissão ao Verkhovna Rada, o parlamento ucraniano.

“Em virtude da decisão do presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, apresentei a minha demissão à Verkhovna Rada da Ucrânia”, escreveu Reznikov na rede social Facebook.

Zelenski justificou a mudança para promover “uma nova abordagem e outras formas de interação tanto com os militares como com a sociedade em geral” em meio à guerra com a Rússia.

O presidente ucraniano, que pleiteia a entrada do país na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), e, portanto, precisa atender aos pré-requisitos, como a Ucrânia não ter corrupção endêmica, vê seu governo cada vez mais marcado pela corrupção.   

Padrinho político preso 

A prisão do bilionário Ihor Kolomoisky, padrinho político de Zelensky, acusado de fraude e lavagem de dinheiro pelas autoridades ucranianas, tem sido lida como uma forma de Kiev mostrar ao Ocidente que o combate à corrupção tem sido levado a sério por lá – mas ao mesmo tempo revela o quanto ela está imbricada no próprio Zelensky.  

O oligarca enfrenta um período de custódia de dois meses com uma fiança equivalente a mais de US$ 13 milhões. Segundo as autoridades, Kolomoisky é acusado de retirar cerca de US$ 14 milhões do país entre 2013 e 2020 por meio de bancos que ele controlava. 

Kolomoisky teve participações em importantes empresas dos setores de energia, bancário e de telecomunicações. Sua influência política se estendeu ao popular canal de TV 1+1, do qual é dono, e cujo programa “Servo do Povo” catapultou Zelensky para a Presidência.

Novo ministro

Rustem Umerov, chefe da principal agência de privatização da Ucrânia, foi indicado por Zelensky para o cargo de ministro da Defesa. A candidatura de Umerov deve ser aprovada pelo parlamento antes da sua nomeação.

Ocorre que Umerov, que dirige o Fundo de Propriedade do Estado, também está envolto por diversas denúncias de corrupção associadas ao processo de privatização que acontece de maneira acelerada no país em guerra.  

Escândalos de corrupção

Reznikov, agora fora do Ministério da Defesa, ocupava o cargo desde novembro de 2021 tornando-se o principal negociador de ajuda militar a Kiev junto aos aliados ocidentais, realizando viagens por toda a Europa e pelos Estados Unidos.  

A demissão de Reznikov era esperada devido aos escândalos de corrupção em seu ministério. Embora o próprio ministro não tenha estado pessoalmente envolvido, políticos e a mídia ucraniana o responsabilizaram.

Casacos de verão para o inverno 

O último escândalo no Ministério da Defesa ucraniano tem a ver com uniformes: foram comprados 180 mil casacos de verão para lutar no inverno. Reznikov prometeu renunciar caso a fraude fosse comprovada.

Conforme perfil escrito por Salomé Fernandes, repórter do jornal Expresso, de Portugal, Reznikov é licenciado em Direito e serviu como soldado nas tropas paraquedistas aerotransportadas da Força Aérea da União Soviética entre 1984 e 1986. 

Após a dissolução da URSS, trabalhou no centro para o desenvolvimento da legislação ucraniana em Kiev, entre 1999 e 2002.

Nos seus tempos como advogado, criou a firma “Pravis”, que mais tarde se fundiu com uma firma fundada por Oleg Riabokon, um advogado que veio a candidatar-se à presidência da Ucrânia. Segundo o “Kyiv Post”, o pai de Riabokon foi uma figura influente na época soviética.

Como advogado, Reznikov teve em mãos um caso de destaque. De acordo com a CNN, foi um dos representantes de Viktor Yushchenko perante o Supremo Tribunal da Ucrânia, levando à anulação da terceira volta das eleições. Yushchenko, que sofreu uma tentativa de envenenamento durante a campanha, tornou-se presidente numa nova votação.

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Renato Santana

Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.

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