A destruição dos documentos da Guerrilha do Araguaia

Da Folha

Exército diz não ter papéis sobre Guerrilha do Araguaia

Os documentos do Exército sobre a Guerrilha do Araguaia –uma das principais promessas para a elucidação do conflito– foram todos destruídos, informou o Ministério da Defesa à Folha.

A admissão foi encaminhada à reportagem como resposta a um pedido de consulta feito baseado na Lei de Acesso à Informação, que entrou em vigor mês passado.

Foram solicitados materiais produzidos entre 1970 e 1985 sobre ações do Exército contra a guerrilha, o maior foco armado contra a ditadura (1964-85), no sul do Pará e hoje norte de Tocantins. O conflito, organizado pelo PC do B, ocorreu entre 1972 e 1974.

Na resposta do Serviço de Informação ao Cidadão do Exército, criado para atender as demandas da nova lei, a instituição diz que um decreto de 1977 “permitia a destruição de documentos sigilosos, bem como dos eventuais termos de destruição”.

De acordo com a resposta, a destruição dos documentos foi feita de tal forma que é impossível identificar os responsáveis pela eliminação, como desejam alguns dos membros da Comissão da Verdade.

Historiadores e familiares das vítimas do conflito especulam que os documentos tenham sido destruídos para apagar vestígios de eventuais crimes de oficiais.

O ex-ministro da Defesa Nelson Jobim já havia dito, em 2011, que documentos relacionados à repressão haviam “desaparecido”. Mas é a primeira vez que o Exército admite a destruição após entrar em vigor a Lei de Acesso –que impede o bloqueio de qualquer informação relacionada aos direitos humanos.

Ainda assim, pesquisadores afirmam ser possível que existam documentos em poder de ex-militares guardados em arquivos privados.

Cerca de 70 militantes foram executados na Guerrilha do Araguaia, alguns sumariamente e após se entregarem. Até hoje, só foi possível identificar os restos de duas vítimas. O paradeiro dos demais nunca foi comprovado.

O combate provocou uma movimentação de militares comparável à da participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial (1939-45). A atuação deu expertise para o Exército agir em regiões de floresta. A guerrilha, ainda hoje, é citada como exemplo nos cursos de formação militar.


Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador