Álibis, acusações montadas e fake news: o celular de Marcos do Val e o influencer Monark

Renato Santana
Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.
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O senador adota estratégias para atrapalhar investigações, criar álibis e montar acusações como na tentativa frustrada contra ministro do STF

Reprodução

O ministro Alexandre Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), demonstrou, durante esta semana, que seguirá adotando medidas judiciais contrárias à propagação de fake news e a mostrar sinais de que não irá recuar quanto aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro. 

Nesta quinta-feira (15), Moraes autorizou a Polícia Federal (PF) a realizar operação de busca e apreensão em endereços ligados ao senador Marcos do Val (Podemos-ES) em Brasília e no Espírito Santo.

Em outra decisão de Moraes, além de ter as redes sociais bloqueadas, o influenciador digital Bruno Monteiro Aiub, conhecido como Monark, foi intimado a prestar depoimento à PF no prazo de cinco dias por propagação de fake news sobre a legitimidade do processo eleitoral. 

As duas decisões se relacionam quanto à articulação de notícias falsas sobre o processo eleitoral que serviram de mobilização ao ato golpista, resultado do que parece ser um plano articulado, com estratégias de dissimulação, envolvendo até mesmo a incriminação do ministro do STF. 

O que conta o celular de do Val

O celular de Marcos do Val apreendido pela PF possui prints de supostas conversas do senador com Moraes, revelou Paulo Cappelli do Metrópoles. 

As mensagens expõem o plano do senador de se aproximar do ministro do STF para, depois, tentar afastá-lo do inquérito dos atos antidemocráticos com as informações coletadas. O plano fracassou. 

Conforme os prints, as mensagens são trocadas entre 13 de dezembro, quando Bolsonaro ainda era presidente, e 9 de janeiro, um dia após as depredações. No entanto, outras histórias podem ser contadas pelo celular do senador. 

Quando o plano de do Val veio à tona, em fevereiro, Moraes confirmou que se encontrou com o parlamentar e mesmo nos prints não é possível constatar que o ministro do STF tenha tido conduta inadequada.  

O Metrópoles revelou ainda que os policiais constataram no celular de do Val que ele tinha o costume de enviar mensagens “não solicitadas e sem sentido” a seus contatos. Segundo fontes do caso, era uma forma de criar álibis ou montar acusações forçadas, já considerando que o aparelho poderia ser apreendido.

Conforme apurou o jornal Metrópoles, em conversa com outra fonte ligada ao caso, um interlocutor exemplificou a prática do senador contando ter recebido dele uma mensagem agradecendo por uma suposta reunião ocorrida no dia anterior. Só que o encontro nunca existiu.

“As pessoas já sabiam da prática e nem respondiam”, disse a fonte. Nessa mesma lógica, do Val prestou depoimentos sobre os atos golpistas mudando as informações dadas por ele anteriormente. Os policiais perceberam que se tratava de uma estratégia para atrapalhar as investigações.

Nos últimos meses, a PF reuniu indícios que poderiam levar à prisão do senador, que vem tentando criar obstáculos para a apuração do suposto plano golpista e que tinha Moraes como alvo.

Sem redes sociais

Moraes determinou ainda na decisão que o senador se abstenha de publicar e promover notícias falsas e ataques às instituições. O magistrado, porém, negou um pedido para que o parlamentar fosse preso, conforme mostrou a TV Globo.

No caso de do Val, Moraes comunicou ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que haveria uma ação da PF nos gabinetes. Um chaveiro precisou ser chamado para abrir a sala de Do Val. 

Marcos do Val: atos golpistas 

Marcos do Val é investigado por obstruir investigações sobre os atos golpistas do 8 de janeiro, onde fez declarações substanciais ao esclarecimento dos fatos, mas passou a mudar a versão constantemente. 

Além da tentativa de golpe de Estado, Do Val é investigado por abolição violenta de governo legalmente constituído, associação criminosa e divulgação irregular de informações confidenciais.

O foco da PF está relacionado aos relatos do senador sobre um suposto plano golpista que envolveria o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ).

Do Val chegou a dizer que forjou a história para tentar afastar Alexandre de Moraes da investigação contra Bolsonaro. 

“Não tinha golpe de Estado, nem nada. Tinha falado: ‘Bolsonaro, vou usar aquela reunião para fazer uma ação para te blindar porque ele [Moraes] quer te prender'”, disse o senador a apoiadores em vídeo gravado pelo Metrópoles.

As principais redes sociais oficiais do senador saíram do ar. O Twitter foi a primeira rede social a cair. Depois foram bloqueados o Instagram e o Facebook, onde o senador contabilizava mais de 940 mil e 3,6 milhões de curtidas.

Exatamente pelas redes sociais, o senador, que se associa a práticas militares e à polícia especial americana Swat, por conta do histórico profissional, propaga fake news sobre o processo eleitoral e os atos golpistas  de 8 de janeiro. 

Monark: detalhes da decisão 

Um relatório produzido pela assessoria de enfrentamento à desinformação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) motivou a decisão do ministro. A assessoria tem operado desde antes das eleições do ano passado.

Na petição encaminhada pelo TSE à Corte Suprema, o tribunal eleitoral informou sobre a publicação de um vídeo de Monark na rede social Rumble, no dia 5 de junho. 

“(…) um monte de coisas acontecendo e, ao mesmo tempo, eles impedindo a transparência das urnas? Você fica desconfiado. Que maracutaia está acontecendo nas urnas ali? Qual é o interesse? Manipular as urnas? Manipular as eleições?”, afirmou Monark.

Monark, que já chegou a defender que deve haver liberdade para a criação de um partido nazista, desrespeitou a ordem de bloqueio imposta pelo ministro e promoveu uma live na quarta-feira (14) para criticar a decisão. 

Moraes fixou multa de R$ 10 mil em caso de descumprimento da decisão, o que parece não ter servido para recuar Monark do desrespeito à decisão. 

“O cara quer me destruir, porque você não pode mais falar o que pensa, tem que ser um robozinho que aceita os dogmas da política vigente, que tem o seu jesus cristo ‘Xandão’, que é um anticristo do caralh*”, declarou em seu canal no Rumble o influencer.

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Renato Santana

Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.

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