Autor de relatório que inocenta delegada em caso Ouvidos Moucos é seu assessor

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Reprodução
 
Jornal GGN – Iniciada em novembro do último ano, as investigações internas sobre irregularidades na Operação Ouvidos Moucos, no caso que virou destaque após suicídio de reitor, concluíram pela inocência da delegada Erika Mialik Marena. Quem assinou a conclusão foi o delegado Luiz Carlos Korff, que é assessor de Mialik junto à imprensa. As informações são da Folha de S.Paulo.
 
Assessor produziu parecer para eximir delegada da PF em sindicância
 
Por Wálter Nunes
 

O delegado Luiz Carlos Korff, responsável por um parecer que recomendou o arquivamento de uma sindicância contra a delegada Erika Mialik Marena, que se notabilizou na Operação Lava Jato, é também o responsável por assessorá-la e os outros delegados de Santa Catarina no contato com a imprensa.

Korff acumula os cargos de chefe do núcleo de correição da PF catarinense, que investiga a conduta dos policiais federais, e também o de diretor de comunicação da entidade, que faz a divulgação das operações, organiza entrevistas dos delegados e fornece informações a jornalistas.

A sindicância contra Erika Marena apurou se houve irregularidades na condução da Operação Ouvidos Moucos, que investiga supostos desvios de verbas do programa de Educação à Distância (EaD) na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).

O parecer de Luiz Carlos Korff foi o primeiro do processo, corroborado depois por outro de um corregedor e teve a concordância do superintendente regional da PF Germando Di Ciero Miranda, que decidiu arquivar o caso.

A investigação contra Erika Marena teve início em novembro passado, um mês após o suicídio do então reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, que se jogou do sétimo andar de um shopping center de Florianópolis. Ele havia sido preso, em 14 de setembro, a pedido da delegada, que o acusou de obstruir uma investigação da corregedoria da universidade.

Cancellier ficou um dia numa penitenciária estadual e saiu graças a uma decisão liminar. O reitor, porém, permaneceu proibido de frequentar a universidade. Cancellier não é suspeito de corrupção na Ouvidos Moucos.

Quando o corpo de Cancellier foi encontrado sem vida no pátio do shopping center, no dia 2 de outubro, havia no seu bolso um bilhete escrito à mão que culpava a investigação pelo ato extremo. “A minha morte foi decretada quando fui banido da universidade!!!”, dizia o recado.

A sindicância contra Erika Marena foi instaurada a partir de dois ofícios enviados pela família de Cancellier e por advogados catarinenses ao Ministério da Justiça denunciando supostas irregularidades e abusos na operação, sobretudo em ações que expuseram o ex-reitor.

Os advogados e parentes acusaram a delegada de pedir a prisão do acadêmico sem ter provas de obstrução à investigação, fiando-se em depoimentos de desafetos dele, como o corregedor da UFSC, Rodolfo Hickel do Prado. Os policiais federais rebateram o argumento dizendo que havia mais três depoimentos “indicando a pressão que vinha sendo exercida” sobre uma professora e também um documento do próprio reitor avocando para si a investigação da corregedoria. Quando foi preso, Cancellier disse que pretendiatrazer para si a investigação para dar mais celeridade ao caso.

Os documentos enviados ao Ministério da Justiça também diziam que o ex-reitor foi “humilhado publicamente” em um ação classificada como “espetáculo hollywoodiano”. “O justiçamento midiático é instrumento do aparato de repressão penal para minar a garantia da presunção de inocência, facilitando a condenação do investigado pelo Judiciário sem qualquer prova cabal de sua culpa.”

Os corregedores da PF negaram que tenha havido vazamento ilegal de informações, disseram que a divulgação da operação seguiu os padrões e era necessária, já que as viaturas nas ruas de chamariam a atenção da população.

OUTRO LADO

O delegado Luiz Carlos Korff disse à Folha que não há conflito de interesses no fato de ele assinar um parecer como corregedor e ao mesmo tempo exercer o ofício de diretor de comunicação da Polícia Federal em Santa Catarina. “É normal que delegados acumulem mais de uma função”, justificou. “As regras para impedimentos de atuação ou suspeições em processos administrativos estão previstas nos artigos 18 e 20 da Lei Federal nº 9.784/1999, onde você verá que nenhum caso se aplica a mim”, disse.

O delegado disse que estava ausente quando a Ouvidos Moucos foi deflagrada. “Na minha ausência, em razão de férias colegas da divisão de comunicação social da sede da PF em Brasília, sobre os quais não tenho qualquer comando, vieram atuar na divulgação da operação em setembro de 2017, ou seja, não tem como eu ser impedido de dar parecer sobre um caso em que não atuei”, diz. “Não existe uma equipe de comunicação social, sou apenas eu o responsável pela comunicação da PF em Santa Catarina, que exerço em acúmulo com minha função principal, de chefe do núcleo de correições da corregedoria regional.”

Sobre seu parecer discorrer sobre uma área que comanda, ele disse: “Eu falo de como a Polícia Federal faz a divulgação dos seus trabalhos nas operações em tese, como regra, e apenas esclareço que esse modelo foi utilizado na divulgação da Operação Ouvidos Moucos.”

A Folha tentou ouvir a delegada Erika Marena e a direção da PF, em Brasília, mas não obteve resposta.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

8 Comentários

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  1. Ouvidos surdos, olhar cego e bocas caladas

    Que tipo de averiguação é esta feita pelos próprios suspeitos?

    Com tamanha crença nos poderes que usurparam, não se intimidam, de cometer mais um ato contra a própria instituição. A desfaçatez desta medida só é feita por pessoas que acreditam que não devem explicações ao cidadão e ao contribuinte. Uma instituição pública tem a obrigação de em casos como este  de tanta repercussão pública e de tantas consequências trágicas, criar comissões de apuração que deveriam ser isentas, mas resolveram ir pelo caminho da provocação. Resolveram gritar em alto e bom som, que nós fazemos o que quisermos e não temos que dar satisfações a sociedade.  Isto não foi uma comissão de sindicância, mas sim uma demonstração de poder por parte de alguns que desmoralizam toda uma instituição . ( Onde estão os bons homens desta corporação????)

  2. O modo como foi feito este

    O modo como foi feito este relatório demosnstra de forma cabal como são rigorosos com os seus as instituições judiciárias deste país acima de qualquer suspeita. Com certeza foram usados todos os métodos utilizados com os investigados pela lava jato, especialmente aquele cuja condenaçao em primeira em em seguda instância foi o marco maior da justiça desta operação de combate a corrupçao exemplar destes homens que revolucionaram o direito, sem.é claro, desrespeitar a constituição.

    Depois desta não sei se choro, dou risada ou vomito. Ah!!!!!

  3. Meu DEUS!!!

    (desespero)

     

    aonde este DESCALABRO capitaneado por esta banda podre do sistema judicante/persecutório/policial irá levar o páis?

     

    DEUS ME LIVRE E GUARDE!!!

    1. que….

      Somos isto. cada grupelho organizado, cada quadrilha defendendo o quinhão no seu feudo dentro do Poder Público Brasileiro. E queremos falar em Democracia? 

  4. É apenas mais uma das facetas de nossa tragédia institucional

    Isso acontece em todo processo administrativo interno nas instituições públicas , e foi confirmado pela ministra do CNJ Eliana Calmon : o juiz que vai apurar o desvio de outro juiz é , muitas vezes , seu velho amigo de carreira , entraram juntos no serviço público , as familias costumam sair juntas , um é padrinho do outro , e por aí vai …… Isso vale para todos os demais órgãos : procuradores , fiscais , policiais , etc. 

    É apenas mais um dos aspectos da mazela institucional brasileira. 

    No caso de juizes e procuradores acrescente-se , além da blindagem contra a correição interna : 

    1. o fato de poderem instituir , manter  e proteger seus altos proventos (alguém viu se faltou dinheiro no RJ para pagar os desembargadores , apesar de os professores ficarem sem receber por varios meses) ; 

    2. instituirem uma rede de influência interna nos tribunais : seus filhos e parentes , na maioria dos casos ,  tem escritórios de advocacia , e um decide sobre o caso que esta sendo cuidado pelo filho ou parente do outro juiz – seu colega de tribunal ; são os casos que vimos da esposa de Gilmar , a esposa de Moro , a filha de Fux , de Zveiter , etc . Gente umbilicalmente ligada aos juizes , cuidando de causas que os amigos de seus pais estão julgando . 

    Tudo isso tem que ser derrubado . 

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