#VazaJato: Deltan sugeriu que Moro protegeria Flávio Bolsonaro

Para procuradores da força-tarefa da Lava Jato não havia dúvidas de que filho do presidente estava envolvido em um esquema de corrupção

Flávio Bolsonaro ao lado do ex-assessor Fabrício Queiroz. Foto: Reprodução/Redes sociais

Jornal GGN – Em conversas trocadas pouco antes de o presidente Jair Bolsonaro assumir o poder, procuradores da força-tarefa da Lava Jato concordaram que não havia dúvidas de que o filho do presidente e recém eleito senador, Flábio Bolsonaro (PSL-RJ), estava envolvido em um caso de corrupção. O coordenador do grupo em Curitiba, Deltan Dallagnol, chegou ainda a sugerir que Sérgio Moro, agora chamado para assumir o Ministério da Justiça, protegeria Flávio para não desagradar o presidente e correr o risco de perder a indicação ao Supremo Tribunal Federal.

As informações são da 11ª parte da série de reportagens do site The Intercept Brasil, publicada neste domingo (21). Em chats trocados pelo aplicativo Telegram, Dallagnol concordou com os colegas do Ministério Público, de que Flávio mantinha um esquema de corrupção, quando deputado federal no Rio de Janeiro. O coordenador da força-tarefa da Lava Jato ainda levantou a preocupação de que Moro, agora como ministro de uma pasta que chefia a Polícia Federal, não iria seguir com as investigações desse caso.

O MP do Rio de Janeiro investiga possíveis crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa envolvendo Flávio Bolsonaro e ex-assessores que trabalharam para ele no gabinete da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alert), quando deputado estadual.

A investigação começou há mais de um ano e foi levantada pela movimentação atípica de R$ 1,2 milhão, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, na conta bancária de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio. O volume da movimentação chamou atenção do Coaf, órgão de inteligência que atua contra a lavagem de dinheiro que recebe informações de instituições financeiras de todo o país quando elas encontram operações consideradas atípicas.

A primeira troca de conversas exposta pelo Intercept, na matéria mais recente, aconteceu no dia 8 de dezembro de 2018. Dallagnol iniciou o assunto postando no grupo chamado “Filhos do Januário 3” o link de uma reportagem do UOL sobre o depósito de R$ 24 mil feito por Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Para Dallagnol, Flávio seria “certamente” implicado no esquema que vinha dominando as manchetes naquele momento. “É óbvio o q aconteceu… E agora, José? Moro deve aguardar a apuração e ver quem será implicado. Filho certamente. O problema é: o pai vai deixar? Ou pior, e se o pai estiver implicado, o que pode indicar o rolo dos empréstimos? Seja como for, presidente não vai afastar o filho. E se isso tudo acontecer antes de aparecer vaga no supremo?”, escreveu Dallagnol.

“Agora, Bolso terá algum interesse em aparelhar a PGR, embora o Flávio tenha foro no TJRJ. Última saída seria dar um ministério e blindar ele na PGR. Pra isso, teria que achar um colega bem trampa”, completou o procurador.

O colega, Roberson Pozzobon, respondeu no mesmo grupo que “Moro já devia contar com a possibilidade de que algo do gênero acontecesse”. “A questão é quanto ele estará disposto a ficar no cargo com isso ou se mais disso vir”, arrematou.

Na troca de mensagens, Dallagnol apontou preocupação caso fosse questionado pela imprensa sobre o assunto: “Em entrevistas, certamente vão me perguntar sobre isso. Não vejo como desviar da pergunta, mas posso ir até diferentes graus de profundidade. 1) é algo que precisa ser investigado; 2) tem toda a cara de esquema de devolução de parte dos salários como o da Aline Correa que denunciamos ou, pior até, de fantasmas”.

Cerca de um mês depis, em 21 de janeiro de 2019, de fato Dallagnol foi procurado pela rede Globo para falar sobre foro privilegiado em uma matéria do Fantástico. A pauta teria como mote uma denúncia envolvendo o deputado federal Paulo Pimenta, do PT, mas o caso do filho de Bolsonaro, que tinha entrado com um pedido de foro no Supremo, também seria discutido na matéria.

Dallagnol admitiu aos colegas que se fosse apenas para tratar das acusações contra o petista, daria a entrevista, mas preocupado com o desgaste de acabar atingindo Flávio Bolsonaro, decidiu não falar com a emissora.

Pouco antes dessa troca de mensagens, no dia 11 de dezembro de 2018, no grupo chamado “Winter is coming”, o procurador-regional da República, Danilo Dias escreveu sobre o caso Flávio Bolsonaro: “Não tenho dúvida de que isso é mensalinho. No mesmo esquema de Mato Grosso com Silval Barbosa”.

A colega, subprocuradora-regional da República, Luiza Frischeisen respondeu: “Pessoas da mesma família empregá-la , depósito de parte dos salários de servidores em dias de pagamento , outros depósitos , resta saber quem recebia os saques. Agora vem a quebra do sigilo. Vamos aguardar a investigação geral do MPRJ quanto aos assessores”.

O caso envolvendo filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro, apesar de ter o tamanho de um escândalo de grandes proporções, não teve mais grandes repercussões na imprensa nos últimos meses.

Uma decisão recente do presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, a pedido da defesa do senador, impede o MP do Rio de prosseguir com as investigações, até que o Supremo decida sobre uma ação de repercussão geral a respeito do compartilhamento de dados sigilosos entre órgãos de controle e órgãos de investigação. A sessão que julgará este tema está marcada para o dia 21 de novembro.

Redação

9 Comentários

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  1. As partes podres do MPF, judiciário e da imprensa foram tão enganosamente seletivos, que acabou sobrando para ter de lidar com o lixo todo. O absurdo é que a matéria prima destes órgãos, é a credibilidade e esta ficou fragmentada e é de demorada recuperação. Viraram negociantes, só que sem as aptidões e as “manhas” dos negócios. A ambição desmedida, os tornou autofágicos.

  2. A grande surpresa dentro do golpe é o intercept!
    Ele está desequilibrando o jogo que pode se tornar incerto…
    A globo e os donos do golpe ainda têm o controle, eles é quem tem a direção do golpe…
    A globo está permitindo o Bolsonaro e ele sabe disso…
    A globo prepara o golpe 3.0!
    Ela está dando corda para o Bolsonaro, pois ela sabe que se soltar um louco, o que ele vai fazer é loucura!
    Então ela ganha tempo e o grupo dos donos do golpe têm o Guedes como aliado e as reformas caminham…
    O tempo que ele precisa é até quando a saida do Bolsonaro não representar uma nova eleição!
    Ele terá mais controle sobre qualquer um que vier a substituir o Bolsonaro, que de bobo não tem nada pois quer emplacar seu filho como embaixador nos EUA e assim ter veto a qualquer golpe que ele possa vir a sofrer!
    Em qual embaixador ele poderia confiar nos EUA?
    Só seu filho!
    Os donos do golpe estão preparados para governar por décadas!
    E o intercept?
    Ele está minando um dos tripés do golpe que foi a lava jato!
    É uma derrota e tanto!

  3. Por enquanto é tudo perfumaria. Só atingem esses dois micuins. Quando é que vão divulgar mensagens comprometendo a Globo, os bancos, Temer, Bolsonaro et quejando?

  4. Fico pensando… será que alguma vez a turma dos golpistas, especialmente a que se coloca como se não fizesse parte do nosso país, “República de Curitiba”, foi diferente disso? Não tinha chat na época mas como terá sido o arranjo para melar a Satigraha, por exemplo?

    E dá até para pensar que mesmo outros MPFs fazem a mesma coisa: manipulam o sistema de justiça para alcançar objetivos privados, particulares. Bem que procuradores e juízes honestos podiam manifestar-se, no mínimo para defenderem suas instituições.

    “Lava Jato”, blé… e ainda vem com essa história de que o PT é corrupto, é mole?

    Esses golpistas são tudo leninistas: “Acuse-os do que você faz”, rs…

    (Tô brincando mas que é uma merda ter gente desse tipo em cargo público, isso com certeza…)

  5. Muitos ainda não se recuperam das feridas daquela patifaria na aplicação do tal domínio do fato…
    mas acredito que fatos não faltarão para os patifes serem desmascarados com o tal domínio, só que dessa vez de verdade, com total conhecimento e até com permissão anterior para a prática de vários crimes, como o tal, por exemplo…”tem que manter isso aí, viu”

    quem é da patifaria covarde que se cuide, porque não haverá como ser contra tudo o que se sabe de praticamente todos eles(as)

  6. Assistimos, semana passada, a muitos gestos de apoio ao esquadrão político-midiático vindos da estrutura da justiça. Me parece um claro imediatismo carreirista em detrimento das instituições. Fico imaginando o que vai acontecer quando isto ficar insustentável. A justiça brasileira construindo sua própria barragem da vale.

  7. “#VazaJato: Deltan sugeriu que Moro protegeria Flávio Bolsonaro”

    E? E o que?

    Moro protege Flávio que protege Deltan que protege Dodge que protege Toffoli que protege Bolsonaro que protege Bispo que protege Queiroz que protege FHC que protege Moro que protege Trump que protege… os capitalistas.

    Às vezes penso que pior que a perda dessa batalha é ter que ficar ouvindo a zoação dos que a ganharam, ainda que alternando o tom, ora de alarmismo ora de tentativa de compra de consciências…

    “Ora, junte-se a nós, a gente ganha sempre. Você é esperto, sabe que nunca será um de nós mas pelo menos te concedemos suficiente para algum conforto, alguns privilégios. Privilégio é o que é para poucos. A gente te protege. Diga um ‘dane-se’ para a geral, salve sua bunda, vem com a gente! Você é esperto.”

    E você, inconsequente, imaturo, egoísta, imediatista, não percebe mas outras batalhas virão. “Amanhã vai ser outro dia”…

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