Uma proposta para o uso do lixo

Dificilmente nos damos conta da quantidade de lixo que produzimos. Pior do que isso: não nos damos conta da qualidade, do tipo de lixo de produzimos.

II
Há poucos dias publiquei aqui um atalho para um vídeo sobre a história das águas minerais vendidas em garrafinhas plásticas. São absolutamente poluentes, embora as campanhas sejam feitas mostrando paisagens maravilhosas da natureza, associando a água à pureza. Além disso, há os copinhos plásticos de água e cafezinho. E isso só para começar a conversa.

III
Esse tema não vem merecendo a atenção necessária do Congresso. Pior do que isso, as companhias terceirizadas de lixo nos municípios são frequentemente citadas em escândalos. Há várias maneiras de abordar o tema. Já publiquei, aqui, uma proposta de simplesmente proibir a terceirização da coleta de lixo em cidades com mais de 50.000 habitantes, obrigando à constituição de companhias municipais de lixo. Mas essa questão diz respeito à corrupção e propinagem. A questão, hoje, não é essa.

IV
Quanto ao lixo propriamente dito, há uma possibilidade de abordagem tributária. É muito barato produzir e vender aquilo que é absolutamente poluente, particularmente as garrafas chamadas “pet”, além de tudo que é quinquilharia descartável feita de plástico. Significa dizer que o prejuízo relativo à coleta e ao “sumiço” desse lixo serão passados adiante, serão passados ao Estado. Ou seja, o poder público é que dará fim ao que foi produzido a baixo custo pelas indústrias. E baixo custo, também, porque não foi computado o custo de descarte dos restos, do lixo.

V
Veja mais: veja o caso das baterias de celulares, até mesmo das pilhas. Também não se tem como dar sumiço. E acabam indo para o lixo.

VI
É preciso que fique claro: boa parte do que compramos é barato – uma garrafa pet de refrigerante, por exemplo – porque o custo de descarte foi simplesmente repassado para o Poder Público. Não é problema das empresas. E também acaba não sendo problema dos consumidores. Seria possível criar taxas especificas sobre produtos de embalagens absolutamente poluentes. Não sei de proposta nesse sentido caminhando no congresso. Mas o ponto ainda é outro.

VII
A proposta que lanço a debate é a seguinte: a obrigação do município, do Poder Público, da companhia de lixo, passaria a ser exclusivamente a de coletar o lixo ORGÂNICO. O lixo seco não mais seria coletado.

VIII
Surgirão serviços novos, até mesmo cooperativas de catadores. E eles cobrarão por isso. Terão, no entanto, a obrigação de RECICLAR, e não de ESCONDER O LIXO. Regras serão estabelecidas para isso, para que seja feita a reciclagem ao máximo possível. Tudo terá que ser amplamente fiscalizado.

IX
Ou seja, teríamos que pagar por isso. Isso mesmo. Ou teríamos que selecionar o que levaríamos para casa. Entre uma garrafa pet e um filtro para a parede, você provavelmente escolherá o filtro. Entre garrafinha de refrigerante e embalagens maiores, você provavelmente venha a optar pela embalagem maior. As indústrias passarão a contar com isso: para que seu produto seja vendido, terão que propor alternativas diferentes, menos poluidoras. Ou terão que propor recolher os restos do que ela mesma fabricou. E serão obrigadas a reciclar.

X
Claro que isso não é indolor, que isso envolve gastos. Mas não é mais possível fazer de conta que nada está acontecendo. Todos os dias milhões de garrafinhas são vendidas, de baterias, de pilhas, tudo isso sem destino. O que acontece é simplesmente esconder o lixo, e isso é feito pelas companhias de lixo atuais.

XI
No caso dos celulares e outros equipamentos, simplesmente são jogados fora metais que estão acabando na natureza. Há metais que em 3 anos não mais existirão. E simplesmente retiramos da natureza e, depois, jogamos fora. Não é apenas o lixo propriamente dito, mas riquezas que estão acabando, que sequer serão conhecidas pelas novas gerações.

XII
A proposta, portanto, é a de que a coleta de lixo que existe seja modificada, em todo o Brasil. E seja autorizada a coleta exclusivamente do lixo orgânico. Quanto ao chamado lixo seco, passaria a ser problema nosso. De um lado, surgirão cooperativas de catadores e reciclagem, ou mesmo empresas especializadas nisso. De outro, as próprias companhias que fabricam os produtos altamente poluidores passariam a pesar o quanto isso influenciaria o consumidor de seus produtos. Teríamos, portanto, que nos dar conta da quantidade de lixo que produzimos e que simplesmente pedimos para o Estado dar sumiço.

XIII
O lixo seco passaria a ser problema nosso. É essa proposta. Aumentaria os custos para cada um de nós. Criaria um problema imenso para cada um de nós. Só que esse problema já existe, e vem sendo tão somente escondido. Mas acho que talvez seja mais fácil propor a criação de um fã-clube do Felipe Melo.  (www.castagnamaia.com.br/blog2)

Luis Nassif

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