A decadência do jornalismo, pelo colunista do Telegraph

Opera Mundi

Porque eu me demiti do Telegraph

De Peter Oborne | Londres – 20/02/2015 – 19h26

A cobertura do HSBC no Telegraph britânico é fraudulenta com seus leitores. Se grandes jornais permitem que corporações influenciem seu conteúdo por medo de perder renda de propaganda, a própria democracia está em perigo 

Cinco anos atrás eu fui convidado a me tornar o comentarista-chefe de política do Telegraph. Era um cargo que eu tive orgulho em aceitar. O Telegraph é há muito o jornal de tendência conservadora mais importante na Grã-Betanha, admirado por sua integridade e por sua excelente cobertura de notícias. Quando entrei, o Telegraph tinha acabado de revelar o escândalo dos gastos dos parlamentares [série de denúncias do jornal, em 2009, que questionou gastos dos parlamentares britânicos feitos com dinheiro público e se tornaram um escândalo político], o mais importante furo político do século 21.

Eu tinha bastante consciência de estar me tornando parte de uma formidável tradição de comentários políticos. Eu passei minhas férias de verão, antes de assumir minhas tarefas como colunista, lendo os artigos do grande Peter Utley, editado por Charles Moore e Simon Heffer, dois outros mestres dessa arte.

Ninguém expressou tão bem como Utley a decência silenciosa e o pragmatismo do conservadorismo britânico. O Mail é rouco e populista, enquanto o Times se gaba de dançar conforme a música, como a voz da classe oficial. O Telegraph vinha de uma tradição diferente. É lido pela nação como um todo, não apenas pela City de Londres [centro financeiro e histórico da capital britânica] e Westminster [onde está o Parlamento] É confiante em seus próprios valores. Tem uma fama antiga sobre a precisão de suas notícias. Eu imagino seus leitores sendo trabalhadores. Pequenos empresários na luta, secretárias assediadas em embaixadas estrangeiras, professores de escola, militares, fazendeiros – pessoas decentes com participação no país.

Meu avô, tenente-coronel Tom Oborne, [condecorado com a] Ordem de Serviços Distintos [concedida a oficiais britânicos que tiveram méritos durante guerras], foi um leitor do Telegraph. Ele também era representante de sua paróquia e tinha um papel na Associação Conservadora de Petersfield. Ele tinha um aparador especial na mesa de café da manhã e lia o jornal cuidadosamente sobre seu ovo com bacon, dando atenção especial às manchetes. Eu sempre pensava no meu avô quando escrevia minhas colunas no Telegraph.

Agência Efe

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“Você não sabe do que está falando”

A circulação estava caindo quando eu entrei no jornal em setembro de 2010 e eu suspeito que isso deixou os donos em pânico. Ondas de demissões começaram e a administração deixou bem claro que acreditava que o futuro da imprensa britânica seria digital. Murdoch MacLennan, o presidente, me chamou para um almoço do Goring Hotel, perto do palácio de Buckingham, onde os executivos do Telegraph gostam de fazer negócios. Eu pedi que ele não diminuísse a importância do Telegraph, dizendo que ele ainda tinha uma circulação muito saudável de mais de meio milhão de cópias. Acrescentei que nossos leitores eram leais, que o jornal ainda era muito lucrativo e que os donos não tinham direito de destruí-lo.

As demissões continuaram. Pouco tempo depois eu encontrei o Sr. MacLennan por acaso no funeral de Margaret Thatcher e uma vez mais pedi que ele não subestimasse os leitores do Telegraph. Ele respondeu: “Você não sabe do que está falando”.

Os acontecimentos no Telegraph se tornaram cada vez mais desanimadores. Em janeiro de 2014, o editor, Tony Gallagher, foi demitido. Ele tinha sido um excelente editor, muito respeitado pelos funcionários. O Sr. Gallagher foi substituído por um americano chamado Jason Seiken, que assumiu uma posição chamada “Chefe de Conteúdo”. Nos 81 anos entre 1923 e 2004, o Telegraph tinha seis editores, todos eles figuras imponentes: Arthur Watson, Colin Coote, Maurice Green, Bill Deedes, Max Hastings and Charles Moore. Desde que os irmãos Barclay [Sir David Rowat Barclay e Sir Frederick Hugh Barclay, empresários bilionários conhecidos como os “Irmãos Barclay” (Barclay Brothers)] compraram o jornal, 11 anos atrás, houve cerca de mais seis, mas é difícil ter certeza já que com a chegada do Sr. Seiken o título de editor foi abolido, depois substituído por Chefe de Conteúdo (de segunda a sexta). Havia três editores (ou Chefes de Conteúdo) em 2014.

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Nos últimos 12 meses, as coisas pioraram muito. A mesa internacional – magnífica sob a liderança de David Munk e David Wastell – foi dizimada. Como todos os repórteres sabem, nenhum jornal consegue operar sem subeditores hábeis. Metade deles foi demitida e o subeditor-chefe, Richard Oliver, foi embora.

Incongruências, impensáveis até muito recentemente, agora são comuns. Recentemente, os leitores foram introduzidos a alguém chamado Duque de Wessex. O príncipe Edward é o Conde de Wessex. Houve uma matéria de capa sobre a caça de veados. Era na verdade sobre perseguição de veados [“deer stalking” como é conhecida a atividade na Inglaterra], uma atividade completamente diferente. Obviamente, administração não se importa com distinções finas como essas. Mas os leitores sim, e o Telegraph costumava tomar bastante cuidado com essas coisas até muito recentemente.

A chegada do Sr. Seiken coincidiu com a chegada da cultura dos cliques. As histórias pareciam não ser mais julgadas por sua importância, exatidão ou interesse daqueles que compram o jornal. A medida mais importante parecia ser o número de visitas online. No dia 22 de setembro, o Telegraphonline publicou uma história sobre uma mulher com três seios. Um executivo desesperado me disse que se sabia que essa história era falsa antes de ela ser publicada. Eu não tenho dúvidas de que foi publicada para gerar visitas online, no que deve ter sido bem-sucedida. Eu não estou dizendo que o tráfego na internet não é importante, mas no longo prazo, entretanto, tais episódios causam danos incalculáveis à reputação do jornal.

Aberto a negócios?

Com o colapso dos padrões veio uma consequência bastante terrível. Sempre foi axiomático na qualidade do jornalismo britânico que o departamento de publicidade e o editorial deveriam ser mantidos rigorosamente distantes. Há grande evidência de que, no Telegraph, essa distinção ruiu.

No final do ano passado, eu comecei a trabalhar em uma história sobre o gigante banco internacional HSBC. Muçulmanos conhecidos tinham recebido cartas do nada do HSBC informando que as suas contas tinham sido fechadas. Não se deu nenhuma razão, e ficou claro que não havia possibilidade de apelação. “É como cortarem sua água”, me disse uma vítima.

Quando enviei o texto para publicação no site do Telegraph, me disseram que não havia problema. Quando não foi publicado, eu fiz perguntas. Fui dispensado sem explicações, e depois me disseram que havia um problema legal. Quando eu perguntei no departamento legal, os advogados não estavam a par de nenhum problema. Quando eu insisti, um executivo me chamou de lado e me disse que “havia um probleminha” com o HSBC. Finalmente desisti, desesperado, e ofereci o artigo ao openDemocracy. Pode ser lido aqui.

Eu procurei a cobertura do jornal sobre o HSBC. Descobri que Harry Wilson, o correspondente admirável de bancos do Telegraph, tinha publicado uma história online sobre o HSBC baseada em um relatório feito por um analista de Hong Kong que dizia haver um “buraco negro” nas contas do HSBC. A história foi rapidamente removida do site do Telegraph, mesmo apesar de não haver problemas legais. Quando eu perguntei ao HSBC se o banco tinha reclamado do artigo de Wilson, ou tinha tido um papel na decisão de a matéria sair do ar, o banco não quis comentar. Os tweets do Sr. Wilson sobre a história podem ser encontrados aqui. A história em si, entretanto, não está mais disponível no site, como qualquer um que tentar seguir o link vai descobrir. O Sr. Wilson bravamente levantou essa questão publicamente na reunião de cúpula, quando Jason Seiken se apresentou aos funcionários. Ele saiu do jornal depois disso.

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Então, no dia 4 de novembro de 2014, alguns jornais relataram um duro golpe nos lucros do HSBC, já que o banco teve de separar 1 bilhão de euros para compensar clientes e [sofreu]uma investigação sobre o aparelhamento do mercado de divisas. Essa história foi a capa de cidades do Times, Guardian e do Mail e foi a mais importante da página do Independent. Eu inspecionei a cobertura do Telegraph. Gerou, no total, cinco parágrafos na página 5 da seção de negócios.

A reportagem sobre o HSBC é parte de um problema maior. No dia 10 de maio do ano passado, o Telegraph publicou uma grande reportagem sobre o navio Queen Mary da [empresa] Cunard na página de notícias. Esse episódio pareceu para muitos como uma peça promocional para um anunciante em uma página normalmente dedicada a análises sérias de notícias. Eu novamente chequei e certamente os competidores do Telegraph não viram o navião da Cunard como uma grande notícia. A Cunard é um anunciante importante do Telegraph.

O comentário do jornal sobre os protestos do ano passado em Hong Kong foram bizarros. Esperaria-se que o Telegraph, dentre todos os jornais, tivesse um grande interesse e adotasse um posição forte. Mas (em forte contraste com o Times) não conseguiu encontrar nenhum destaque para o assunto.

No começo de dezembro, o Financial Times, Times e o Guardian escreveram manchetes poderosas sobre a recusa do governo chinês em permitir que um comitê de parlamentares britânicos entrasse em Hong Kong. O Telegraph se manteve calado. Poucos assuntos enfureceriam ou preocupariam os leitores do Telegraph mais que esse.

No dia 15 de setembro, o Telegraph publicou um comentário do embaixador chinês, logo antes  do suplemento lucrativo China Watch. A manchete do embaixador era, sem brincadeira, “Não vamos deixar que Hong Kong nos separe”. No dia 17 de setembro, havia 4 páginas de moda destacáveis no meio das notícias, que ganharam mais cobertura que o referendo escocês. A história de contabilidade falsa da [multinacional varejista britância] Tesco, no dia 23 de setembro, foi notícia somente na seção de negócios. Em comparação, foi a manchete, destaque das páginas de dentro e um editorial no Mail. Não que o Telegraph tenha feito pouca cobertura da Tesco. [Matérias como a] Tesco doando “10 milhões de libras pra luta contra o câncer”, “O jato de 35 milhões de libras da Tesco visto de dentro” e “Conheça o gato que morou na Tesco por 4 anos” foram todas consideradas de interesse jornalístico.

Há outros casos muito desconcertantes, muitos deles publicados [na revista crítica e satírica] Private Eye [que tem entre seus temas frequentes o jornalismo britânico], que tem sido uma grande fonte de informação para os jornalistas do Telegraph querendo entender o que está acontecendo em seu próprio jornal. Não houve como evitar a impressão de algo estava mal com o julgamento das notícias do Telegraph. Nesse ponto, eu escrevi uma longa carta pra Murdock MacLennan falando sobre as minhas preocupações em relação ao jornal e entregando minha demissão. Eu copiei essa carta para o presidente do Telegraph, Aidan Barclay.

Eu recebi uma resposta superficial do Sr. Barclay. Ele escreveu que esperava que eu pudesse resolver minhas diferenças com Murdoch MacLennan. Fui devidamente ver o CEO na metade de dezembro. Ele foi civil, me serviu chá e pediu que eu tirasse meu casaco.  Ele disse que eu era um escritor valorizado e disse que queria que eu ficasse.

Eu expressei todas as minhas preocupações sobre a direção do jornal. Disse que não estava saindo para entrar em outro jornal. Estava pedindo demissão por uma questão de consciência. O Sr. MacLennan concordou que a publicidade tinha permissão de afetar o editorial, mas sem remorso, dizendo que “não é tão mal assim” e acrescentando que havia um grande histórico desse tipo de coisa no Telegraph.

Desde então eu consultei Charles Moore, o último editor do Telegraph antes de os Barclays comprarem o jornal em 2004. O Sr. Moore confessou que as contas da Hollinger Inc., a holding que então comandava o Telegraph, não recebia o escrutínio que merecia. Mas nenhum jornal na história jamais deu um destaque desfavorável às contas de seus proprietários. Além disso, o Sr. Moore me disse que não houve influência da publicidade na cobertura de notícias do jornal.

Wikimedia Commons
Depois da minha reunião com o Sr. MacLennan, eu recebi uma carta do Telegraph dizendo que o jornal tinha aceitado minha demissão, mas aceitava minha oferta de trabalhar meus seis meses de aviso prévio. Entretanto, na metade de janeiro, me pediram para encontrar um executivo do Telegraph, dessa vez tomando chá no Goring Hotel. Ele me disse que a minha coluna semanal tinha sido descontinuada e que tinha acontecido uma “divisão de caminhos”.

[Capa do Daily Telegraph no dia 12 de maio de 2010, quando Cameron foi escolhido como primeiro-ministro]

Ele salientou, no entanto, que o Telegraph continuaria a honrar meu contrato até que ele terminasse, em maio. De minha parte eu disse que sairia quieto. Eu não tinha intenção de prejudicar o jornal. Com todos os seus problemas, ele continua a empregar um grande número de bons jornalistas. Eles têm hipotecas e famílias. Eles estão fazendo seu trabalho bem em todo tipo de circunstância. Eu me preparei mentalmente para a atraente perspectiva de vários meses de licença remunerada.

História, que história?

Assim ficamos quando, na segunda-feira passada, [o programa de TV] Panorama da BBC veiculou a história do HSBC e seu braço suíço, falando de um esquema de evasão de impostos em larga escala, enquanto o Guardian e o Consócio Internacional de Jornalistas Investigativos publicaram seus “arquivos do HSBC”. Todos os jornais perceberam rapidamente que esse era um acontecimento grande. O FT deu capa do assunto dois dias seguidos, enquanto o  Times e o Mail deram uma cobertura sólida para o caso de várias páginas.

Você precisaria de um microscópio para encontrar a cobertura do Telegraph: nada na segunda, seis pequenos parágrafos na parte baixa da página dois na terça, sete parágrafos lá no meio de seção de negócios na quarta. A reportagem do Telegraph só melhorou quando a história se transformou em alegações de que poderia haver questões relacionadas aos impostos de pessoas ligadas ao Partido Trabalhista.

Depois de muita agonia eu cheguei à conclusão que tenho o dever de tornar tudo isso público. Há duas razões poderosas. A primeira tem a ver com o futuro do Telegraph sob [o mando] dos Barclay Brothers.  Pode soar como uma coisa pomposa a se dizer, mas eu acredito que o jornal é uma parte significativa da arquitetura cívica britânica. É a voz pública mais importante do conservadorismo civilizado e incrédulo.

Os leitores do Telegraph são pessoas inteligentes, sensatas e bem-informadas. Eles compram o jornal porque eles sentem que podem confiar nele. Se prioridades do marketing são permitidas para determinar julgamentos editoriais, como os leitores podem continuar a sentir essa confiança? A recente cobertura do Telegraph chega a ser uma forma de fraude com seus leitores. Está colocando o que são os interesses de um grande banco internacional acima de seu dever de levar as notícias aos leitores do Telegraph. Só existe uma palavra para descrever essa situação: terrível. Imagine se a BBC – costumeiramente objeto de ataques do Telegraph – tivesse sido conduzida dessa forma. O Telegraph seria desprezível. Teria insistido que cabeças deveriam rolar, e com razão.

Leia também: Swissleaks – Conheça cinco casos revelados pelo vazamento de contas do banco HSBC na Suíça Isso me leva a um segundo e ainda mais importante ponto que carrega em si não apenas o futuro de um jornal, mas a vida pública como um todo. Uma imprensa livre é essencial para uma democracia saudável. Há um propósito no jornalismo, é não é só entreter.  Não deve ceder ao poder político, grandes corporações e homens ricos. Os jornais têm o que no final das contas é um dever constitucional de dizer a seus leitores a verdade.

Não é apenas o Telegraph que tem culpa aqui. Os últimos anos viram a ascensão de executivos sombrios que determinam quais verdades podem e quais verdades não podem ser repassadas por meio na mídia de massa. A criminalidade dos jornais de notícias internacionais durante os anos de grampos telefônicos [caso famoso que em que tabloides britânicos foram acusados de realizar escutas telefônicas ilegais] foi um exemplo particularmente grotesco desse fenômeno maligno por completo. Todos os grupos de jornais, com a magnífica exceção do Guardian, manteve a cultura de omertà sobre os grampos telefônicos, mesmo se (como o Telegraph) eles não tinham se envolvido no caso. Uma das consequências desse pacto de silêncio foi o indiciamento de Andy Coulson, que desde então está preso e agora enfrenta novas acusações de perjúrio, como diretor de comunicações na 10 Downing Street [endereço da sede do governo britânico].

Questões urgentes a serem respondidas

Semana passada, fiz outra descoberta. Três anos atrás, o time de investigações do Telegraph – o mesmo que fez a investigação incrível dos parlamentares – recebeu uma denúncia sobre contas do HSBC em Jersey. Essencialmente, essa investigação era semelhante à do Panorama sobre o braço suíço do HSBC. Depois de uma pesquisa de três meses, o Telegraph resolveu publicar. Seis artigos sobre esse tema podem ser encontrados online, [publicados] entre 8 e 15 de novembro de 2012, apesar de três não estarem disponíveis para serem vistos.

Depois disso, nenhuma nova reportagem surgiu. Os repórteres receberam ordens de destruir e-Mails, relatórios e documentos relacionados à investigação do HSBC. Eu agora soube que, em uma prática muito distante da normal, nesse ponto os advogados dos Barclay Brothers se envolveram de perto. Quando eu perguntei ao Telegraph por que os Barclay estavam envolvidos, [o jornal] se negou a responder.

Aquele foi o momento crucial. Desde o começo de 2013 em diante, históricas críticas ao HSBC seriam desencorajadas. O HSBC suspendeu seus anúncios no Telegraph. Sua conta, eu soube por uma pessoa de dentro extremamente bem-informada, era extremamente valiosa. O HSBC, como um ex-executivo do Telegraph me disse, é “o anunciante que você literalmente não pode bancar ofender”. O HSBC hoje se recusou a comentar quando eu perguntei se a decisão de parar de anunciar no Telegraph estava ligada de qualquer maneira à investigação do jornal sobre as contas de Jersey.

Ganhar de volta a conta de anúncios do HSBC se tornou uma prioridade urgente. Foi finalmente o que aconteceu, depois de aproximadamente 12 meses. Os executivos dizem que Murdoch McLennan estava determinado a não permitir nenhuma crítica contra o banco internacional. “Ele expressava preocupação sobre manchetes ou mesmo histórias menores”, diz um antigo jornalista do Telegraph; tudo o que mencionasse lavagem de dinheiro estava banido, mesmo quando o banco estava recebendo um aviso final das autoridades dos EUA. Essa interferência estava acontecendo em uma escala industrial.

“Uma operação editorial que é claramente influenciada por anúncios é um apaziguamento clássico. Quando uma empresa muito poderosa sabe que pode exercer influência, sabe que pode voltar e ameaçar você. Muda totalmente o relacionamento. Você sabe que mesmo se for forte, não será apoiado e será prejudicado”.

Quando enviei questões detalhadas para o Telegraph essa tarde sobre suas conexões com os anunciantes, o jornal deu a seguinte resposta: “Suas questões estão cheias de imprecisões e nós, portanto, não pretendemos respondê-las. Falando genericamente, como qualquer outro negócio, nós nunca comentados nossas relações comerciais individualmente, mas nossa política é absolutamente clara. Nosso objetivo é dar uma gama de soluções de anúncio aos nossos parceiros anunciantes, mas a distinção entre anúncio e nossa operação editorial premiada foi sempre fundamental para nosso negócio. Refutamos totalmente qualquer alegação contrária.”

As evidências sugerem o oposto, e as consequências da recente cobertura branda sobre o HSBC feita pelo Telegraph podem ter sido profundas. Se o setor de Impostos e Alfândega da sua Majestade tivesse sido mais enérgico em suas próprias investigações recentes sobre a sonegação de impostos, teria o Telegraph continuado a ter o HSBC em sua conta depois da investigação de 2012? Há grandes questões aqui. Elas vão até o coração da democracia e não podem mais ser ignoradas.

Redação

5 Comentários

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  1. Imprensa

    Imprensa + capital = manipulação e desinformação.

    Infelizmente até o momento não tivemos um profissional da mídia tradicional expondo a podridão que existe nos meios de comunicação tupiniquins.

  2. Além de não patarem imposto

    Além de não patarem imposto sobre gtandes fortunas, os cara n]ao pagam nem o básico e escondem seu dinheiro na Suiça com a proteção de banco pra não pagar nem o mínimo.

            Esse cara consegue dormir, depois de assistir a miséria brasileira e do mundo?

            O que se compra com 5 bilhões que não se compra com 4?

                 Será que esse cara sabe que essa diferença salva, literalmente, milhões de pessoas no Brasil e no mundo?

                  Não existe pena de morte no Brasil.Mas eu sonho me tornar um ser invisível e mata-los aos pouquinhos, com torturas indescritíveis pra que sofram um pedacinho apenas do que sofre o povo.

                 Tinha um gibi que se chamava Sombra. Saudades dele.Mas com ideias cruéis e não as do gibi.

  3. bendita blogosfera!

    bendita blogosfera!

    li esta elucidativa e crítica matéria, do affair moral & cultura da vergonha sobre o conluio midiático/empresarial Telegraph – HCBC, ouvindo Peter Paul & Mary [ https://www.youtube.com/watch?v=qdcapT2Tdag#t=2767 ] que “vazou” pela janela  youtubescamente do post musical sazonal Entre Caruaru e o Reino Unido…

    tudo na faixa na moral sem disponibilizar um centavo furado pra Folha & Consortes….

    até quando?

  4. As mandíbulas que mastigam a Nação

    Especial: As mandíbulas que mastigam a Nação

     Bancos pagam menos impostos que os assalariados. Alguns brasileiros detêm US$520bi em paraísos fiscais. A estrutura tributária devora o futuro da nação.
    Joaquim Palhares – Diretor da Carta Maior

    Em tese, a política fiscal seria o espaço da solidariedade no capitalismo. Caberia a ela transferir recursos dos mais ricos para os fundos públicos, destinados a contemplar os mais pobres e o bem comum. Sem carga tributária adequada não se constrói uma Nação, mas um ajuntamento desprovido de laços e valores compartilhados em direitos e deveres comuns. A carga tributária adequada depende do estágio de desenvolvimento da sociedade. Mas não só isso. Sua composição é decisiva na incidência regressiva ou redistributiva que provoca. Um país como o Brasil, com 200 milhões de habitantes e enormes carências estruturais, não pode avançar com uma carga inferior a de uma Europa, por exemplo, cuja infraestrutura está consolidada (nos dois casos, a carga média gira em torno de 36%; mas há vários países com infraestrutura madura onde a carga passa de 40%). O sistema brasileiro avulta, ademais, como um caso pedagógico de regressividade. Impostos indiretos, embutidos nos preços dos bens de consumo, representam mais de 60% do que se recolhe. Não importa a renda do consumidor: ganhe um ou 100 salários mínimos por mês, o imposto que paga por litro de leite é o mesmo. Regressividade é isso: uma engrenagem fiscal feita para taxar igual os desiguais. Pagam mais os pobres do que os ricos. O imposto sobre o patrimônio, em contrapartida, que incide diretamente sobre os endinheirados, não chega a 3,5% da arrecadação total no Brasil. Nem é preciso ir à Suécia para um contraponto.Na festejada Coréia do Sul, meca da eficiência capitalista, ele é da ordem de 11%; nos EUA passa de 12%. A taxação direta no Brasil recai muito fortemente sobre os assalariados da classe média (amplo sentido). Isso explica, em parte, a revolta com a baixa qualidade dos serviços públicos obtidos em troca da elevada contribuição. Cerca de 25% da receita fiscal incide diretamente sobre a renda, assim: a) a metade sobre o holerite da classe média; b) a outra metade sobre os ganhos de capitais, que é onde se concentra cada vez mais a riqueza no capitalismo financeiro dos nossos dias. Bancos, por exemplo, pagam menos impostos no Brasil que o conjunto dos assalariados. Um exemplo sugestivo e muito recente: Bradesco e Itau, foram flagrados em operações em paraísos fiscais, que lhes propiciaram, apenas em 2009, abater US$ 200 milhões em tributos. As distorções não param aí. Artimanhas contábeis, por exemplo, permitem que um banco lance o pagamento de dividendos como gasto com juros, abatendo o montante do imposto. Assim por diante. A receita obtida tampouco se destina automaticamente a reduzir abismos sociais. Há filtros de classe pelo caminho A dívida pública é o principal deles. Ela funciona como uma espécie de reforço na regressividade do sistema fiscal brasileiro. Assemelha-se a um enforcador que subordina o princípio da solidariedade à primazia rentista. O mecanismo ‘autossustentável’ ganhou seu upgrade com a ascensão da agenda neoliberal que privilegiou o Estado mínimo em todo o mundo. A ideia era deixar à proficiência do mercado a tarefa de alocar a riqueza, ao menor custo e com a máxima eficiência. Em vez de arrecadar, isentar os ricos passou a ser a lógica. Sem espaço político para taxar endinheirados e o seu patrimônio, governos então passaram a ser cada vez mais compelidos a compensar a anemia tributária com endividamento público. Emprestam e pagam juros por aquilo que deveriam arrecadar taxando os ricos, as heranças, as operações financeiras, o capital especulativo, o ganho da república dos acionistas (isento). Do ponto de vista do dinheiro grosso, apesar de toda a lengalenga do ‘impostômetro’ o Brasil é um belo exemplar dessa lógica. Simples assim: a dívida cresce, engessa o futuro do desenvolvimento, eleva a dependência em relação ao mercado financeiro e abre novos piquetes de engorda do capital rentista. Piketty resumiu: se o capital financeiro rende mais que o crescimento da economia – como tem sido sistematicamente o caso do Brasil — consolida-se uma casta de riqueza inoxidável que se descola da sociedade e perpetua a cicatriz da desigualdade. O segredo do negócio é a vigilância diuturna da matilha midiática sobre a boa gestão da engrenagem, leia-se da dívida pública. O dinheiro grosso investe nisso. Uma legião de consultores dá plantão permanente no telefone para esclarecer e municiar seus ventríloquos e ventríloquas lotados em obsequiosas colunas diárias. Os economistas de banco estão sempre disponíveis. Faz parte de seu trabalho municiar a guerra rentista. Prover a ração bilionária destinada anualmente aos juros é o objetivo. No linguajar técnico, trata-se de fazer cumprir a ‘meta cheia do superávit primário’. Reconquistar a ‘confiança’ rentista na política fiscal, teoricamente ensombrecida por artifícios contábeis cometidos em 2013 no país – tolos, mas lícitos — é o cerne do ajuste pilotado nesse momento pelo centurião das boas causas do ramo, Joaquim Levy, sugestivamente conhecido como ‘Joaquim Mãos de Tesoura’. Mídia, consultores, professores banqueiros e assemelhados adiantam que o que se assiste é só o começo. O Brasil precisa de arrocho efetivo, dizem eles; corte real nas despesas, sem aumento de impostos, para recuperar a credibilidade. E mais juros. A agenda fiscal brasileira foi sequestrada pelo rentismo há muito tempo. Discute-se de tudo — carga excessiva, gestão deficiente dos gastos, superávit insuficiente, maquiagens, etc. Menos o custo do próprio rentismo para o país. Em média, o preço da supremacia financeira sobre a agenda fiscal custa R$ 200 bilhões por ano. Cerca de 5% do PIB em juros pagos aos detentores de títulos da dívida pública. Equivale a quase dez vezes o custo do Bolsa Família. É quatro vezes mais o que supostamente custaria a implantação da tarifa zero no transporte coletivo das grandes cidades brasileiras. Treze vezes o que o programa ‘Mais Médicos’ prevê investir em obras em 16 mil Unidades Básicas de Saúde; na aquisição de equipamentos para 5 mil unidades já existentes; com as reformas em 818 hospitais; para equipar 2,5 mil outros e providenciar melhorias nas instalações de 877 Unidades de Pronto Atendimento. Repita-se: o dinheiro destinado ao rentismo em um ano daria para multiplicar por 13 a escala e a intensidade do programa ‘Mais Médicos’, atacando mais depressa carências sabidas na infraestrutura da saúde pública. Não serve de consolo, mas já foi pior. No final do governo FHC, gastava-se quase 10% do PIB com juros. No momento em que o país está sendo coagido a adotar o arrocho para resgatar sua credibilidade macroeconômica, nunca é demais recordar que a injustiça fiscal é só a primeira película da riqueza rentista. A sonegação é outra camada espessa dessa cebola ardida. Sendo a oitava economia do mundo, o Brasil tem a quarta maior fortuna abrigada nos paraísos fiscais do planeta: US$ 520 bilhões . Como esse dinheiro chegou lá? Não chegaria sem a inestimável colaboração de bancos e instituições do mercado cujos chefes de departamento de ‘análise econômica’ inundam os jornais com alertas sobre o ‘desequilíbrio fiscal’ e oferecem o antídoto: ‘as reformas’, cujo cerne é o escalpo de direitos, de serviços públicos e de folhas de servidores  No escândalo mais atual dessa cepa, o do HSBC, a lista de sonegadores inclui mais de sete mil contas de brasileiros que mantinham valor superior a US$ 7 bi depositado junto a recursos de traficantes e terroristas internacionais na subsidiária suíça do banco britânico. Sugestivamente, o valor equivale aos R$ 18 bilhões que o ministro ‘Joaquim Mãos de Tesoura’ pretende obter com economias extraídas da redução de direitos dos trabalhadores, alongando o prazo de acesso ao seguro desemprego etc. Naturalmente, não se trata de um capricho contábil do ministro. A equação fiscal condensa uma correlação de forças. Aqueles que, a exemplo de Carta Maior, evocam espírito público da parte dos profissionais da medicina, diante da dimensão emergencial do ‘Mais Médicos’, não podem exigir menos da pátria rentista que assim se locupleta. Sabe-se de antemão que seu quociente de solidariedade é baixo. Por certo, inferior a 0,38% dos cheques robustos que emite. Essa era a alíquota da CPMF, derrubada no apagar das luzes de 2006, por um mutirão que reuniu la creme de la creme do espírito cidadão entre nós: a coalizão demotucana, os endinheirados, o jogral midiático conservador e alguns estranhos próceres da esquerda que se avoca consequente. Não por acaso a foto comemorativa desse golpe contra as filas do SUS é muito, muito, incomodamente muito semelhante ao flagrante da alegria conservadora na comemoração da vitória recente de Eduardo Cunha à presidência da Câmara. Não é só uma coincidência estética: a junção das imagens ilustra a interação entre a injustiça fiscal e hegemonia conservadora no país. Essa espinha dorsal só se quebra nas ruas: será nelas, não nas mãos dos centuriões do mercado que a questão fiscal deixará de ser uma extensão do poder dos endinheirados, para se tornar uma ferramenta do desenvolvimento convergente da sociedade. Discutir essa travessia é o objetivo deste novo Especial de Carta Maior. Não é propriamente um enrêdo de folia para esses dias de carnaval. Mas o fato é que por aí tem samba: o samba de um futuro em que as mandíbulas da injustiça social sejam apenas uma alegoria de escola de samba, sobre um Brasil que passou.
    Boa leitura.

     

  5. Fugindo do assunto

    Entenda vc é só um esquerdopata em qualquer Blog Que vc for, nenhum jornalista vai ser bonzinho e ser seu amigo, ele sabe que sua intenção é boa mas humilhar alguém da esquerda é um passatempo.

    Vc não está sendo informado, muito pelo contrário , vc está sendo usado a maioria das notícia é fabricada pela mente criativa de quem vos escreve, toda tática é punitiva e justificada como de esquerda.

    Todo comentarista de política tem um parafuso a menos, mesmo que ele se conheça ,conheça sua avô ele só não envolve com o que faz no momento em que alcança seu nirvana, ou seja batendo AS BOTAS.Enquanto isso se a mãe servir de inpiração até a coitada vai ser exposta, geralmente a família dele é criada em seu imaginário, o que torna tudo mais assustador até para uma enfermeira como eu.ass; Ana Paula .

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