“Bolsonaro está no meio de um furacão. Pela primeira vez, estamos num momento em que é imprevisível. Fratura no Judiciário, no Legislativo e no Executivo. Todas essas estruturas estão trincadas. Nós estamos em um momento no Brasil em que não temos nada. Até a oposição não existe.”
ex-presidente José Sarney – 19/05/2019
do colapso institucional brasileiro nenhuma das matizes do espectro político está a salvo.
sem maioria parlamentar entre os mais de 300 picaretas do Congresso, e apesar de sua própria trajetória política no seio do baixo-clero, o Capitão-Presidente tenta descobrir a rota para contornar o Centrão e escapar do Presidencialismo de Coalizão.
mas aquela mesma horda fisiológica eleita pelo promíscuo acordo do quociente partidário com o financiamento empresarial, que encenou a farsa trágica naquele teatro de vampiros na votação da admissibilidade do impeachment, agora ironicamente faz de “Bolsonaro a prova que o Brasil, fora desses conchavos, é ingovernável”.
ao ser consumido pelo dilema incontornável de ter sido eleito como candidato anti-sistema, mas autenticamente representando o que há de pior no sistema, nada mais resta a Bolsonaro além de noites em claro e muitas lágrimas.
mesmo para “o eleito por Deus para comandar o Brasil”, a cadeira de Presidente “é como se fosse criptonita para o Super-Homem”.
além do mais, como aderir ao dá-lá-toma-cá do “é dando que recebe”, após as FFAA terem aparelhado o governo?
os Generais se curvarão a bater continência a um “sistema corrupto”, um condomínio de quadrilhas, um consórcio de organizações criminosas, uma confederação de sindicatos de ladrões?
nem as bancadas temáticas, tampouco as maiorias pontuais, muito menos a “pressão das ruas”, ou qualquer que seja a tática, nada dentro de um modelo falido será capaz de restaurar um mínimo de governabilidade a este país.
pois quanto mais se aprofundar o austericído, também mais se acirra esta ingovernabilidade, dado o fosso escavado entre os interesses de uma cleptocracia rentista e parasitária e as condições miseráveis de sobrevivência da imensa maioria da população.
o último baile da Ilha Fiscal da Nova República já se encerrou.
com todas as máscaras no chão e as fantasias rasgadas, a patologia do modelo de representação política chegou a seu estágio terminal, deixando um cadáver putrefato diante de todos.
a música acabou, mas os mortos se recusam a enterrar os seus mortos.
muito embora aos mortos não lhes falte a viva consciência de estarmos “caminhando de forma muito rápida para um colapso social”.
em meio a uma acentuada crise econômica, tudo sob o céu está mergulhado no caos. os de cima já não podem governar como antes. enquanto os de baixo já não suportam sê-lo, sendo empurrados para uma ação histórica independente.
todas as razões para uma revolução estão aí.
e não é por outro motivo estarmos sob intenso ataque contra-revolucionário. justamente para neutralizar e capturar a energia da revolta, antes dela se organizar numa vanguarda revolucionária.
enquanto a contra-revolução avança, a Ex-querda persiste em se hipnotizar com um fraudulento calendário eleitoral e se pautar por uma lógica institucional com data de validade vencida, travando batalhas perdidas em busca de alianças impossíveis.
“A esquerda perdeu ‘a batalha política da classe média’. E sem ela nós não revertemos a defensiva estratégica em que estamos desde 2013.”
Flávio Dino (PCdoB) – Governador do Maranhão – 27/05/2019
em meio a este mórbido bailado de cadáveres, e nosotros?
vídeo: TUTAMÉIA entrevista Vladimir Safatle
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