Justiça atende dois de cada três pedidos para retirar informações de jornais

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

Da Abraji

Juízes mandam retirar informação do ar em 66% das ações, segundo novo relatório do CTRL+X

De cada 3 processos que tentam retirar informações do ar, dois são atendidos pelo Judiciário brasileiro. A informação é do relatório “Quem usa a Justiça para esconder informações no Brasil?”, lançado nesta segunda-feira (25.dez.2017) pelo CTRL+X, projeto da Abraji que mapeia as tentativas de retirada de informações e censura a veículos de mídia no Brasil.

“Tentamos reunir nesse relatório a maior base de dados sobre liberdade de expressão no Brasil”, diz o jornalista e coordenador do CTRL+X, Tiago Mali. O relatório é o resultado de uma revisão inédita nos 3.005 processos coletados pelo CTRL+X até 15 de dezembro deste ano.

Além dos dados já disponibilizados na plataforma do projeto, o documento apresenta duas novas classificações (que passarão a ser incorporadas em 2018): o campo “Deferido?”, que indica se o juiz da causa decidiu retirar conteúdo do ar em algum momento do processo, e o campo “Quem é o autor?”, que classifica as pessoas e entidades que entram com as ações em categorias como “políticos”, “empresas” e “pessoas notórias”.

Segundo o levantamento, os políticos são os que mais entram na justiça tentando remover informações, sendo os autores de mais de 60% dos processos mapeados. Em seguida, empresas e empresários se destacam entre as ações restantes. São 400 processos que, na maioria das vezes, tentam excluir críticas de consumidores contra suas marcas em redes sociais (a coluna “Não reclame aqui”, que Mali escreveu para o Dissenso.org, apresenta mais dados sobre esse tipo de ação). 

Os maiores alvos dos processos são Facebook e Google. Em 71% e 84% dos casos, respectivamente, as empresas foram obrigadas a remover informação do ar.

Dos pedidos de retirada de conteúdo, 16% (472 ações) também incluíam a requisição de censura prévia – ou seja, pediam que alguém fosse impedido de publicar algum tipo de informação. Destes, em 139 processos os juízes decidiram aplicar esse tipo de censura.

“Embora haja uma jurisprudência cada vez mais consolidada no STF em defesa da liberdade de expressão, o que a gente vê é que as cortes inferiores decidem retirar informações do ar com frequência muito alta”, diz Mali. “Elas aceitam um leque amplo de argumentos para cercear a divulgação de informações e acabam gerando opacidade e censura. Isso afeta a liberdade de informação de toda a sociedade e, no limite, a democracia.”

O levantamento também constatou que os cinco partidos cujos políticos tiveram mais sucesso em ocultar informações são PSDB (com 194 deferimentos), PMDB (172), PT (134), PSB (77) e PSD (72). 

Já os estados com maior número absoluto de decisões para retirada de conteúdo são São Paulo (525), Paraná (187), Rio de Janeiro (139), Minas Gerais (113) e Rio Grande do Sul (81). No total, foram somadas mais de mil decisões favoráveis à ocultação de informações.

“Há muitas pautas dentro das tabelas para os jornalistas interessados no assunto”, acrescenta Mali. “Saber quais informações cada setor da sociedade tenta ocultar, quais são os políticos, partidos e empresas que mais fazem isso, quais são os estados onde isso é mais frequente, entres outros pontos, nos ajuda a entender melhor o fenômeno e a fiscalizar melhor o poder público.”

As tabulações que compõem o relatório podem ser baixadas neste link.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

2 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1.  Maduro calou 69 veículos de
     Maduro calou 69 veículos de imprensa em 2017

    69 veículos de imprensa encerraram suas atividades na Venezuela em 2017, segundo o Sindicato Nacional de Trabalhadores da Imprensa local — são 20 jornais, 46 rádios e 3 TVs, informa a Folha.

    Foram registradas ainda quase 500 agressões a jornalistas, além de 66 detenções.

    Para calar a imprensa, Nicolás Maduro, que se diz vítima de “campanha de desprestígio”, usa recursos como a não renovação de concessões de rádio e TV e o monopólio da distribuição de papel para jornais e revistas.

      

     

  2. justiça….

    Bipolaridade Esquerdopata não tem cura mesmo !!!! Onde estão tantos discursos contra a Liberdade de Expressão? Onde estão aqules que querem o controle das opiniões dos outros? Aqueles que tanto criticaram o Charlie Hebdo ou a quebra da censura nas provas do Enem, podendo os candidatos escreverem o que bem entendessem? Censura só incomoda quando é contra nós? E justiça e punitivismo carcerário, só servem quando é contra Maluf? Nada como um dia após o outro. A Verdade Vos Libertará. Revelador. 

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador