Mídia & Governo: A guerra da comunicação, por Luciano Martins Costa

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

do Observatório da Imprensa

MÍDIA & GOVERNO

A guerra da comunicação

Por Luciano Martins Costa

Os jornais destacam nas edições de quarta-feira (28/1), mas não esclarecem, a frase da presidente da República na qual ela conclama seus ministros à “batalha da comunicação”. Nos textos sobre a reunião ministerial, no entanto, esse tema fica em plano secundário, e as reportagens se concentram em outras pautas. O Estado de S.Paulo e a Folha de S. Paulo escolheram o foco na questão econômica e o Globo preferiu destacar o escândalo da Petrobras entre os assuntos tratados.

No trecho em que a presidente se refere às relações do governo com a mídia, foi dito o seguinte:

“Nós devemos enfrentar o desconhecimento e a desinformação, sempre e permanentemente. Vou repetir: sempre e permanentemente. Nós não devemos permitir que a falsa versão se crie e se alastre. Reajam ao boato, travem a batalha da comunicação, levem a posição do governo à opinião pública (…). Sejam claros, precisos, se façam entender. Nós não podemos deixar dúvidas”.

Em seguida, ela deu alguns exemplos de temas que reclamam mais clareza nas manifestações do Poder Executivo: a tese de que algumas das medidas anunciadas eliminam direitos dos trabalhadores, queixas sobre mobilidade urbana e a crise de abastecimento de água. Segundo a presidente, os integrantes do governo devem “falar mais”, comunicar sobre desafios, iniciativas e acertos.

Ao analisar o discurso presidencial, o observador deve levar em conta que as estruturas de comunicação de instituições públicas costumam ser muito lentas ao reagir a circunstâncias negativas no ambiente midiático. Mesmo quando o gabinete de crise está em operação permanente, como nos períodos de campanha eleitoral, demora muito para chegar a um ponto comum na análise de cada evento, criar uma proposta e só então levá-la para aprovação da autoridade principal.

Então, deve-se considerar que a fala da presidente Dilma Rousseff ainda se refere a questões que foram levantadas na primeira semana de seu novo mandato, quando a imprensa explorou aparentes contradições entre seu discurso de posse e manifestações de três de seus ministros. No entanto, o que não está dito nos jornais é que a chefe do governo anda preocupada com o efeito de frases imprecisas num contexto comunicacional que lhe é claramente desfavorável.

Falta transparência

O discurso da presidente, proferido quase um mês depois de sua última manifestação oficial, precisa ser lido em sua circunstância original. Ela ainda tratava da declaração do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, sobre redução de direitos previdenciários e trabalhistas, da manifestação do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, sobre mudança no cálculo do reajuste do salário mínimo, e da referência do ministro das Minas e Energia, Eduardo Braga, à providência divina no caso da falta de chuvas.

Esses episódios foram exaustivamente explorados pela imprensa, deixando o governo sob intenso bombardeio durante três semanas, justamente no período imediatamente posterior à sua posse, quando a sociedade esperava um esclarecimento sobre os rumos do seu segundo mandato.

Faltou iniciativa e transparência a Dilma Rousseff, e ainda que seus estrategistas tenham recomendado cautela no enfrentamento de uma mídia visceralmente hostil, essa postura só agrava a situação.

A política de comunicação do governo federal revela um temor excessivo ao poder da mídia tradicional. O cuidado que a presidente e seus principais auxiliares demonstram ao evitar, por exemplo, o debate sobre a democratização da mídia, denota o medo de ver suas palavras distorcidas e de enfrentar a acusação de que o governo tem o propósito de controlar a imprensa. Por outro lado, um governo do Partido dos Trabalhadores não pode fugir dessa questão.

As relações entre os governos petistas e a mídia tradicional sempre foram pautadas pelo cinismo: os dois lados fingem que estão participando de um diálogo, mas ambos sabem que o pano de fundo é um conflito inconciliável.

A presidente Dilma Rousseff está equivocada: o que está em andamento não é uma “batalha da comunicação”, como se referiu em seu discurso. O que há é uma guerra aberta, na qual o objetivo da imprensa é tirar seu grupo do Palácio do Planalto. Esse objetivo quase foi alcançado na eleição presidencial do ano passado.

Se quiser contrabalançar esse jogo, ela precisa ser mais assertiva, falar constantemente e diretamente à sociedade e mudar os termos desse embate, tratando a mídia hegemônica com o respeito que merece um partido de oposição.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

6 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. No jornal nacional emendaram

    No jornal nacional emendaram o comentário dela na reportagem sobre a falta de água em SP. Ou seja tiraram do contexto e ainda deixaram a impressão que a Dilma seria a responsável pela falta de água

  2. é isso aí presidenta.

    Gostei da fala; Num país onde  a população aprendeu e não deixa por porra nenhuma de ser vira-lata e puxa- saco, o único jeito para rever a situação é entrar no campo do inimigo numero um, que é a grande Imprensa e seus capachos, vira-latas e puxa-sacos jornalistas; sinceramente! tenho nojo da TV Brasileira faz tempo, desde as eleições LULA x COLLOR.

  3.  mídia é sim muito

     mídia é sim muito importante, desde que leve a informação sem vicios e inteções de prejudicar, qualquer cidadão. Afinal, nem a mídia pode estar acima da lei. A interferencia, no campo político, em eleições, está muito acima, do permitido ou aceito. Queremos sim, uma imprença livre. Mas, uma impreça que veja os brasileiros como seres umanos capazes. Percebí, no período Lula, que políoticos brasileiros, metidos, à intelectuais, criticando o petista, de forma preconceituosa. Foi preciso, primeiro, que ouvesse um reconhecimento internacional, para alguns políticos pelo menos diminuisse os ataques, injustos. Eu já ví, muita gente, com o complexo de vira latas, mas, igual essa mídia, e a oposição, que está aí,  acho, que nunca tinha visto antes. O exemplo mais claro do que estou dizendo, foi, as manifestações, contra a copa do mundo, aqui no Brasil. A mídia quiz nos impor a idéia, de que nós, não seríamos capazes de realiza-la. Realizamos e foi um sucesso. Mas, foi preciso a fifa dize-lo. A revista veja, quiz mudar o rumo das eleições, presidenciais, com uma notícia bombatica, mas, sem nenhuma comprovação. Fica muito claro que esse setor precisa de regulação. Porque que temos, orgãos reguladores, em todos os setores sérios, da nossa sociedade, com conselho de medicina, farmacia, engenharia, enfermagem, arquiterura, sem contar, que até a propria justissa tem orgão regulador? Quem é a midia, é Deus? todos nós, estamos sujeitos às leis nacionais, ou não estamos? O artigo 220, da constituição federal, dá à midia um poder que ela não está apta, à receber. Toda vez, que se fala, em diciplinalos, a conversa é a mesma: ESTÃO QUERENDO NOS SENSURAR . Não fomos nós, brasileiros, que preferimos, ficar do lado dos ditadores.

  4. A guerra da comunicação… e soberania popular

    Lúcida análise; favorece as reflexões e ações sobre a regulamentação tão esperada da Constituição Federal – ver artigo 220 e ss., sobre a não-propriedade cruzada, não monopólio-oligopólio, responsabilização de anunciantes, informação regionalizada etc. em sintonia com a necessária reforma política: com debates e consultas populares que respeitem a soberania popular, o plebiscito, o referendo e apoio às iniciativas populares de lei. E um desafio particularmente sensível parece ser garantir meios para furar o bloqueio anti-democrático da grande mídia e ter espaço para promover o debate equilibrado e a circulação das informações pré-consultas populares.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador