Para entender as disputas em torno do IBGE, por Luís Nassif

Como especialista em indicadores sociais, Pochmann tem muito mais afinidade com o corpo técnico do IBGE do que qualquer quadro mercadista

Tânia Rêgo – Agência Brasil

A maioria das críticas a Márcio Pochmann se refere ao seu período de presidente do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas). Lá, investiu contra dois baluartes do ultraliberalismo brasileiro: Regis Bonelli e Fábio Giambiagi.

Aposentado do órgão, Bonelli mantinha sala e secretária para consultoria profissional. Funcionário do BNDES, Fábio Giambiagi foi alocado no IPEA para produzir trabalhos de interesse do mercado.

Pochmann determinou que aposentados não poderiam mais continuar ocupando as dependências e o nome do instituto. Abriu a possibilidade para aposentados voltarem a integrar os quadros do IPEA, mas como funcionários efetivos. E devolveu Giambiagi ao BNDES.

Foram medidas disciplinadoras corretas. Por outro lado, quis que as manifestações dos técnicos do IPEA, antes de serem divulgadas, passassem pela presidência. No que estava errado.

Essa investida contra a apropriação de órgãos públicos pelo mercadismo custou-lhe a inimizade eterna das mercadistas mais radicais, como Elena Landau e Miriam Leitão.

Como especialista em indicadores sociais, Pochmann tem muito mais afinidade com o corpo técnico do IBGE do que qualquer quadro mercadista. E, desde o Bolsa Família, percebeu-se o poder dos indicadores na discussão política.

Quando o salário mínimo sofreu fortes aumentos, nos primeiros governos Lula, foi um trabalho do IPEA que permitiu saber – com base na Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílio – que mais da metade das famílias com aposentados e pensionistas, eles eram arrimos. Significava ganhos com saúde, já que os familiares poderiam comprar remédios; com educação, permitindo às crianças entrar mais cedo no mercado de trabalho; com segurança, tornando-as menos expostas ao crime organizado.

O receio dos ultraliberais foi tamanho que incumbiram um quadro, João Batista Camargo, de preparar um trabalho mostrando que o aumento do salário mínimo aumentava a propensão de jovens à vagabundagem. Trouxe um técnico do IPEA como parceiro, visando das credibilidade do trabalho. O técnico não quis endossar as loucuras de Camargo. Ele se limitou a colocar, no capítulo final, a “suspeita” de que aumento do SM incentiva a vagabundagem, mas não conseguiu comprovar com dados.

No fundo, o receio desse ultraliberalismo é o IBGE avançar nos indicadores sociais, tornando-se uma âncora relevante para a consolidação de políticas sociais e de sistemas tributários progressivos.

Luis Nassif

7 Comentários

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  1. “Estou ofendido como ex-presidente do IBGE”, disse Edmar Bacha sobre a indicação de Marcio Pochmann. Isso está na capa do Estadão de hoje. Vai ser bem tempestuoso o mandato dele no instituto. Cada número divulgado vai provocar uma batalha campal.

  2. “PORQUE, ENQUANTO FOR EU QUE GANHE, QUEM MANDA É EU.”

    Em 1986, campanha renhida em meu estado, o candidato a deputado e chefe de fato de quase tudo de fato da minha cidade, líder político inconteste na microrregião com 16 municípios estava com sérios problemas locais, com o avanço da oposição que, montada no prestígio da então única emissora de rádio da cidade, e com o apoio maciço da máquina do Estado, avançava a olhos vistos sobre seu rebanho, penetrando perigosamente cada vez mais, o que acabaria por tomar-lhe o poder, dois anos depois.
    O forte apoio da máquina do Estado, com que contava a oposição, incluía a recém-criada Cohidro (irrigação) – que num estado nordestino tem um poder fantástico – e o DER, geralmente àquela consorciado, desde as experiências federais, forçadas pelo tenentismo da década de 1920.
    Um jovem ex-candidato a prefeito (e que ganharia, em 1988) pilotando as obras da máquina do Estado resolveu meter o bico em área da Administração Municipal, e consertar as estradas vicinais. O chefe político, padrinho do prefeito soube e foi-lhe ao encontro.
    Ao chegar, avistou a máquina patrol em operação na estrada; e o carro do oponente estacionado, à margem. Aproximou-se do carro e notou o jovem oponente dentro, no banco do passageiro, logo à frente. Apoio o bração esquerdo sobre o capota do carro que o mesmo sentiu o peso.
    O motorista, também pré-candidato a vereador (não eleito em 1988) – que me contou o acontecido – ficou temeroso enquanto o velho e temido chefe político ditava suas ordens:
    “Se quiser mandar no ‘meu’ município se candidate e ganhe as eleições. Porque, enquanto for eu que ganhe, quem manda é eu.”
    Situação vexatória maior foi do carona, sentado no banco de trás, e confundido pelo chefe como se um pistoleiro:
    “E você, seu pistoleirinho, eu arranco esse seu bigode de faca, certo”.
    O pobre professor secundarista, que sempre usou vasto bigode, só não se mijou porque foi travado pelo excesso de medo.
    Após a saída do chefe político, o jovem candidato deu partida no carro, ordenou ao maquinista que recolhesse a patrol ao pátio de máquinas e, a seguir, caiu fora.
    QUEM MANDA…? É Lula com quase 51% dos votos, ou seus despeitados jornalistas sem sequer um? QUE DEMOCRACIA É ESTA?

  3. Se a indicação está fazendo tanto reboliço no meio econômico e jornalístico, Lula está com plena razão. Escolha correta.

  4. Verdade! Afinal ela como a Dilma foram torturadas pela Ditadura! Infelizmente A Miriam esqueceu de tudo que sofreu.Ou deve ganhar uma nota pra fazer de conta que perdeu a memória. O pessoal da direita faz qualquer coisa por dinheiro 💰💶!

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