Policiais fazem campanha contra entrevistas à imprensa

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Da Ponte

 
Por Luís Adorno 
 

Depois de pedirem que seus colegas de trabalho não façam gravações de policiais em ‘situação constrangedora’, agentes lançam a ‘Operação Silêncio’ e exigem que policiais não falem mais com jornalistas

Depois de policiais terem feito campanha no Facebook e por meio do Whats App para que agentes em “situação constrangedora” não fossem filmados, uma nova campanha começa a ganhar força nos grupos restritos da rede social e do aplicativo. Batizada de “Operação Silêncio”, a campanha pede para que nenhum policial dê entrevistas à imprensa.

O “slogan” criado para a campanha é: “Policiais que se valorizam exigem respeito e não dão entrevista”. Um policial militar que age na zona leste de São Paulo, e que pediu para não ser identificado, afirmou que a ação começou a se espalhar nesta segunda-feira (23/2). “É uma forma da gente se precaver, porque muitas vezes distorcem as ações policiais. Colocam a gente como o bandido”, disse à reportagem da Ponte Jornalismo.

Equipes de “jornalismo policial” de televisões já começaram a ser afetadas pela campanha. Nesta semana, o apresentador Luciano Faccioli, que trabalha na TV Jornal, afiliada do SBT, esperava uma entrevista com um policial sobre um caso de violência. Ao vivo, os policiais se recusaram a falar. O apresentador ainda informou que a assessoria de imprensa explicou que os policiais não falariam por causa da “Operação Silêncio”.

 

Contra filmagem de colegas

Reportagem da Ponte Jornalismo revelou, em janeiro deste ano, que policiais fizeram uma campanha pedindo que seus colegas de trabalho não gravassem agentes em “situação constrangedora”. A ação também foi feita por meio de grupos restritos no Facebook e no Whats App. São dois os principais tipos de “situações constrangedoras” gravadas pelos policiais. O primeiro, e mais constante, é divulgado como um troféu – e ultrapassa os limites da dignidade humana. Trata-se de imagens de agentes torturando psicologicamente suspeitos ou de fotografias de acusados de terem cometido algum crime mortos em suposto confronto. São considerados atos de bravura e heroísmo entre os policiais, mas a veiculação dessas atitudes acabou virando prova para punir os próprios policiais.

O segundo tipo de gravação contestada nos grupos restritos diz respeito à falhas e omissões cometidas por profissionais da polícia. No mês passado, por exemplo, um policial militar que estava dormindo em pé foi gravado por seu colega de trabalho durante a madrugada e, depois, virou motivo de piada. O PM que gravou foi afastado. “Isso se chama cuspir no prato que come. Se estiver vendo uma situação incompatível com decoro da classe, chame a atenção dele. Não jogue no Facebook para todos os PMs se ferrarem”, afirmou um policial em um dos grupos restritos à época em que a campanha foi divulgada. “Somos a única classe que produz prova contra nós mesmos”, disse outro agente. Depois de a campanha ter sido disseminada, mais nenhum vídeo de policial em “situação constrangedora” vazou.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

24 Comentários

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  1. Campanha inócua

    A polícia precisaria muito de melhor estrutura, melhor treinamento e principalmente melhor salário.

    Mas também não dá para passar a mão na cabeça deles num país onde mais de 90% das ocorrências não são resolvidas e o índice de mortes em ocorrências policiais é altíssimo comparado com países mais desenvolvidos.

    1. Boas condições de trabalho

      Esse comentário do Sergio Ribeiro foi o melhor que li. A polícia deveria fazer campanha por melhores condições de trabalho (salários que permitam uma vida sem bicos, melhor preparo, melhores condições materiais de trabalho) e procurar mostrar mais eficiência. Tanto na área civiol como militar, o resultado que apresenta, com frequentes casos de autoritarismo, deixa muito a desejar. 

  2. Nossa, esse corporativismo

    Nossa, esse corporativismo lembra muito as ações da máfia italiana. O Brasil vai ter trabalho para se livrar desse entulho ditatorial se quiser um dia ter uma polícia decente…

    1. Inclusive a Bandeirantes tem

      Inclusive a Bandeirantes tem um famigerado programa chamado Polícia 24 hs.

      O programa exibe ações policiais sempre em favelas ou periferias muito pobres, pessoas são expostas como bandidos sem a menor cerimônia, mais um lixo da nossa programação televisiva onde policiais posam de valentões e gurdiões do sono da classe média.

  3. Inversão das coisas…

    Ao invés de campanha pra não filmar situações constrangedoras, deveriam fazer campanha para evitar as situações constrangedoras. Agressão psicológica e humilhação de preso é o mesmo que esculachar preso.

  4. Bom, em que pese a campanha,

    Bom, em que pese a campanha, acho que o Estado deveria aderir à campanha da câmera nos uniformes e veículos dos PM´s em serviço.

     

  5. O assunto está um pouco fora

    O assunto está um pouco fora do contexto da postagem, porém refere-se ao forte senso corporativista da policais e característico a outras insituições de cunho militar. Trata-se do surgimento do PMB, o Partido Militar Brasileiro. Sustento a hipótese de que este partido, que se declara como o futuro único partido de direita do país além de propiciar um espaço para reunião consevadores de várias estratos, poderá servir como um ponto para a unificação política das diversas forças policiais do país em especial as polciaias mlitares, justamente graças ao espírito corporativo. Hoje as policias, em especial a militar e a federal constituiem um ator politico muito importante usualmente como vilãs por serem o braço armado de um Estado, para muitos, genocida, porém também é importante por que representa para muitos uma oportunidade de ascenção social e prestígio, e também por que são compostas por amplas fiaxas das classes médias, também estão muito presentes na produção cultural popular, vide o sucesso do Capitão Nascimento em Tropa de Elite e no sucesso de programas jornalisticos policialescos. Também não podemos esquecer da popularidade das criativas operações da Policia Federal junto à população (a policia prende e a justiça solta), e como ser polcial federal é uma carreira almejada por muitos grças aos bons salários. Assim será que a ponta de lança para a emergencia de um período fascista no país será a chegada do corporativismo policial na politica institucional do país?

  6. O problema é que infinitas

    O problema é que infinitas filmagens dão conta de que inocentes morrem todos os dias Brasil afora pela truculência de policiais, talvez alguns deles psicopatas, que entram para a corporação para, como costumam dizer, tornarem-se bandidos fardados. 

    Um militar bem formado, cumpridor de suas tarefas, não terá por que se esconder do noticiário. Ao contrário, devem usar a imprensa para apresentar fatos e até para não serem julgados de forma errada.

  7. Mídia!

    Já tem muito tempo, eu não sou mais muito novinho pois tenho a mesma idade do Nassif, que observo na maioria dos fatos acontecidos em que tenho conhecimento, quando vejo o noticiado fico pensando: Como se pode desvirtuar tanto? Tanto que políticos e cientistas mais vividos não aceitam edição de suas enrevistas exigem uma pauta quando da marcação. Portanto tenho que concordar muitas vezes com silêncio perante a “determinados repórteres “. Um bom fim de semana a todos.

  8. Policiais e imprensa: relação de amor e ódio.

    Toda relação tem múltiplos lados, muitos interesses, causas e efeitos variados. É uma sentença óbvia, porém esquecida or muita gente.

    A espetacularização da ação policial é antiga, assim como a exploração de eventos dramáticos e violentos como forma de captar audiência (e lucros, claro).

    Mas no tempo das mídias hipervelozes e ultra capilares este processo alcançou níveis assombrosos, onde a exposição de todos banaliza qualquer fenônemo, e torna-se muito difícil divisar onde começa (e termina) o direito a informação e a liberdade de expressão, os direitos e garantias individuais (de todos, inclusive policiais), princípios de Direito, como a presunção de não-culpabilidade, e a responsabilização dos que publicam aquilo que é indevido, ofensivo ou prejudicial.

    Polícia sempre usou a mídia e vice-versa, ainda mais quando as duas instituições misturam suas funções…

    Policiais, autoridades, etc, parecem agir como astros ou editores de jornais, “pautando” a si mesmos e produzindo material divulgado à farta para inflar carreiras e legitimar a prática socialmente aceita da violência contra pretos, pobres e favelados, tudo sempre sob o manto discursivo midiático do: “fulano morreu porque tinha passagem por tráfico, e estava com dívidas ou em guerra com rivais”. A seu lado, repórteres passaram a atuar como policiais, promotores e juízes frustrados, “investigando, processando e julgando” pessoas…

    Como o que faz a galinha vender ovos é o cacarejo, ao invés do tamanho do ovo (ovo de avestruz vende pouco), policiais e secretários de segurança se acostumaram a hiperbolizar seus feitos, como forma de angariar apoio e orçamentos, algo parecido com a “contagem de cabeças” feitas pelos soldados estadunidenses no Vietnã…

    Se estamos em “guerra” (ao tráfico) a primeira vítima é a verdade.

    Seguem criando “inimigos públicos nº 1”, promovendo borra-botas a gênios do mal, “inventam facções e organizações onde não existem, ou que passam a existir como resultado da “propaganda”, enquanto os barões do tráfico (que não moram em favelas), donos das armas, donos das fábricas de helicópteros, carros blindados, e outros insumos, vendem e lucram horrores, tendo sempre um banco amigo para lavar seu dinheirinho (ver caso HSBC).

    Claro que os policiais são violentos, truculentos…etc. Mas que sociedade é esta que não se indigna com 50 mil mortos por ano (quase todos pretos, pobres e favelados)?

    Neste sentido, policiais não estão errados…Eles querem apenas poder fazer o trabalho sujo sem que a madame da classe mé(r)dia ou o júnior do camarote tenham que sentir culpa…

    O que os “puliça” estão a fazer é diminuir o ruído desta relação incestuosa, o mal estar de sabermos que as masmorras estão destinadas aos de sempre, enquanto juízes “sequestram” bens e usufruem deles…se o juiz fosse “pretinho”, já descia do Porsche algemado, ou tomaria um tirambaço na cabeça, capa de mais um auto de resistência…

    Quem não é visto, não é lembrado.

     

     

    PS: engraçado mesmo é ler algus comentaristas escrevendo como se a violência policial fosse um “ponto fora da curva” de uma sociedade pacífica, inclusiva e agregadora…como se fosse um bando de gente sádica no meio de um povaréu solidário e humanitário…rs.

  9. “Lei do silêncio”, haha!

    Vários Professores meus, já “cascudos”, não dão mais entrevistas pra imprensa há tempos. Não aguentam mais essa mixórdia de serem “interpretados” por chacretes ignorantes.

    Até jogadores de futebol e pariticipantes de BBB já aprenderam isso. Só o pessoal do governo que ainda dá entrevista sem gravar também.

  10. Empregados dos poderosos

    Será que eles não sabem que matam tanto para atender às classes mais ricas, que exigem punição exemplar para os negros e pobres. Como não iriam dar entrevistas aos representantes dos seus patrões.

  11. NÃO ESCULACHA

    Caso não me falhe a memória a frase ‘prende, mas não esculacha” é do afilhado do Marcola quando foi preso. Né, não?

    A Defensoria Pública entrou com ação em órgão internacional contra a matança dos mais pobres, principalmente os de cor negra. Acho que vem daí várias ações do Comando da Polícia Militar e outras ações de Policiais.

    Acompanho a página do face “genocídio do povo preto”,  blog Geledés e há muitas denúncias.

     

  12. Policiais que não prestam

    Policiais que não prestam contas à sociedade, através da imprensa?
    No Fascismo era assim.
    A Informação deve controlar o Poder.
    Do contrário, o Poder controla a Informação.

  13. Policiais que não prestam

    Policiais que não prestam contas à sociedade, através da imprensa?
    No Fascismo era assim.
    A Informação deve controlar o Poder.
    Do contrário, o Poder controla a Informação.

  14. SE…

    não praticassem “situações constrangedoras”, nome ponposo para ARBITRARIEDADES não haveria necessidade de pedir silêncio, fato explícito na observação: SOMOS OS ÚNICOS A PRODUZIR PROVAS CONTRA NÓS MESMOS.

    Para mim isso não é corporativismo é UM ILÍCITO PENAL GRAVISSIMO, qual seja, OCULTAÇÃO DE PROVAS.

  15. A associação anti-cidadania

    O compromisso de um ente público com a imprensa que é essencialmente um ente de caráter privado, torna essa associação espúria de corrompida.

    A negativa da polícia em princípio é positiva, entretanto, o propósito não deve ser tão “republicano” quanto tentam seus promotores propagandear.

    Essa insurgência deve-se a revelação, através da imprensa que a polícia é arbitrária, personalística e letal. Ou seja, a revolta é contra o papel positivo da imprensa. Doutra forma, notamos que a polícia no geral e a imprensa por interesses particulares mantém (quase sempre) uma relação de afinidade comprometedora da função de garantidora e promotora da cidadania, de ambas, respectivamente.

  16. Inversão de valores

    Os policiais não tem que dar entrevista para está imprensa carniceira que colabora para a inversão de valores. Todo bandido que morre na mão da polícia  se torna santo e trabalhador, a imprensa arruma sempre uma profissão para o bandido, que geralmente é pedreiro, mecânico, ajudante geral, etc.

    Todos os dias estamos vendo no noticiário os criminosos agirem com violência contra as suas vítimas, não se contentam em apenas roubar, querem matar por puro prazer, e se não fosse a polícia a coisa estaria pior.

    Vejo que tem muita gente que defende bandido aqui, mas não passam de hipócritas,  na hora que precisam de ajuda, são os primeiros a chamar a polícia.

  17. Chamem o Batman

    Gostaria muito que a Polícia Militar fizesse uma greve durante uma semana, para que os hipócritas de plantão deixassem de falar besteiras. Se aqui temos a polícia que mais mata, temos também a polícia que mais morre, a polícia não tem culpa que a maioria dos ladrões e traficantes vivem em favelas e na periferia, onde o próprio povo quando precida chama a polícia, principalmente para prestar socorro. Vários partos são feitos por policiais nas favelas, porque o serviço de ambulância não chega, mas isto a imprensa não mostra. É muito fácil falar da violência policial, mas falar da violência dos bandidos ninguém quer falar, filmar o policial detendo um criminoso e dizer que é abuso de autoridade é fácil, agora eu quero ver filmar o traficante, filmar o vizinho que é ladrão, filmar o estuprador, onde estão os valentões para filmar estas pessoas.

    A imprensa sensacionalista tem colaborado para a inversão de valores e a demonização da polícia, mostrando somente a minoria que não presta, fazendo com que a população generalize toda uma corporação, notícia boa não vai para a primeira página de jornais e revistas, e também não rendem IBOPE nos programas de televisão.

    Os policiais estão corretos em não darem entrevistas, este é o melhor protesto contra a imprensa safada e sensacionalista. 

    Para aqueles que não gostam da polícia que temos, chamem o Batman.

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