Aquiles Rique Reis
Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.
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Celebração à vida; por Aquiles Reis

O violonista Fernando Melo nasceu em Arapiraca, no agreste alagoano. Ouvindo o som da sanfona, zabumba e triângulo, o moço fez dele a referência musical que o acompanharia vida afora. Carregando-o na alma, anos depois desembarcou em São Paulo, onde, com o paulistano Luiz Bueno, criou o Duofel em1978.

A força da dupla vem da mescla das águas das Alagoas misturadas às gotas da garoa paulistana, do resfolego da sanfona e dos riffs da guitarra elétrica, do chão de terra batida de Arapiraca e dos arranha-céus da Avenida Paulista.

A criatividade com que inventam e misturam sons lhes dá o ar libertário que os faz inconfundíveis: onde quer que se escute alguns acordes de violões, pelo vigor da pegada com que as cordas são tangidas, logo se tem certeza de que ali estão tocando Fernando e Luiz. A música que fazem é a expressão máxima de instrumentistas e compositores sem amarras nem fronteiras.

Tudo posto no liquidificador musical, que é a cachola de Fernando Melo, gerou a gravação de um álbum triplo, “Alagoas em Trilogia”, lançado há doze anos com o apoio do SESC e do Governo de Alagoas.

Passado o tempo, “Forró de Violão”, um dos três discos da trilogia (os outros são “Tocador” e “Da Lagoa Pro Mar”), é relançado pela Fine Music (gravadora do Duofel). O encarte traz um rico detalhe: ao lado do título das músicas e dos nomes dos instrumentistas, está estampada uma obra de arte, a maioria naif, selecionada no acervo do SESC/AL. Juntas, formam uma bela exposição da arte alagoana. Invólucro especial para um disco especial.

São doze forrós, todos compostos por Fernando. Neles, ele alterna o uso do violão de seis cordas de aço com o violão de doze cordas e o zig-zum (pequena vareta de jacarandá meio abaulada, que, passada por entre as cordas do violão, tira um som similar ao da rabeca, cujo arco é usado também no violão e na viola).

Fernando Melo não teme o novo, busca-o e toca-o ousadamente. Ao experimentar o gosto saboroso de remexer em seu baú de sensações sonoras, faz com que tenhamos vontade de remexer… o esqueleto, entusiasmados que ficamos pelos contagiantes forrós movidos pelas cordas dos violões.

O exemplo mais marcante está em “De Mundaú à Manguaba”. Fernando toca violão de doze cordas, enquanto Xameguinho está na sanfona, Pardal na Zabumba e Ronalso no triângulo e no pandeiro. Meu amigo, o coro come! Só falta a poeira subir ao rodopiar dos casais no bate-chinela.

Na sequência, “Festa de Santo Amaro” começa lentamente com o violão de doze de Fernando soando bonito. O ritmo chega com a zabumba de Pardal e o pandeiro e triângulo de Ronalso. Não tem sanfona, mas o violão resfolega e não deixa que dela sintamos falta.

Fechando a tampa, “Maxixe em Piaçabuçu”. O pífano de Xau se soma ao zig-zum de Fernando. O ritmo revigora a alegria… O forrobodó já deixa saudade.

Em suma, “Forró de Violão” reforça a certeza de que Fernando Melo é um grande músico que criou uma tremenda festança para celebrar uma vida inteira.

Aquiles Rique Reis

Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.

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