'Pretas & Pretos' lança 'Resistência', seu EP de estreia

Não vão nos calar / Não vamos parar / Não adianta nos intimidar / O gueto cansou / Favela gritou. Esses são versos de Resistência (Mayke), canção dá nome ao EP de estreia de Pretas & Pretos, e que será lançado no dia 17 de novembro, nas plataformas digitais. Em tom de protesto, o álbum conta com as participações especiais de Wilson Simoninha e Walmir Borges.

No repertório, estão quatro canções autorais do grupo e uma versão de Tributo a Martin Luther King, composição de Wilson Simonal (1938-2000) feita em 1967 em parceria com Ronaldo Bôscoli (1928-1994), lançada em um compacto que ficou retido por quatro meses pela censura do governo federal. E mesmo sob censura, Simonal apresentou a canção na festa de entrega do Troféu Roquete Pinto, e em seu discurso, antes do número musical, ele disse: “Essa música, eu peço permissão a vocês, porque eu dediquei ao meu filho, esperando que no futuro ele não encontre nunca aqueles problemas que eu encontrei, e tenho às vezes encontrado, apesar de me chamar Wilson Simonal de Castro.” E tudo continuou da mesma forma, 56 anos depois.

Pretas & Pretos é um dos grupos de representatividade pertencente ao Instituto Anelo, uma associação civil sem fins lucrativos que oferece ensino gratuito de música na periferia da cidade de Campinas (SP). Formado em 2021 por professores e colaboradores da Instituição, o grupo surgiu da necessidade de valorizar e destacar a presença do negro no Instituto Anelo, cujo quadro de professores é de maioria preta, portanto, um reflexo da sociedade brasileira – atualmente, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 54% dos brasileiros são negros.

O Instituto Anelo foi fundado por Luccas Soares em 10 de maio de 2000 e já atendeu mais de 10 mil alunos em seus projetos. Alguns deles tornaram-se músicos profissionais e professores, no Brasil e fora. Para Luccas, “Mesmo sendo uma banda constituída por grandes músicos, são poucos os convites para os palcos ou para os eventos. Nem sempre as pessoas querem ver um grupo só de pretos que canta e coloca o dedo na ferida, falando sobre o racismo estrutural. As músicas desse grupo sempre serão sobre a luta de direitos.” E finaliza “o disco não é uma comemoração, pois comemoração seria se não tivéssemos que usar a música para falar sobre o que sofremos, sobre as desigualdades, mas é uma conquista, pois reunimos um grupo artístico de excelência, com pouquíssimos recursos financeiros ou apoios, ou seja, fruto de muita resistência”.