Trivial de Aldir Blanc e João Bosco

Para quem tem menos de 30 anos: era uma vez a “época de ouro” da música popular brasileira

Houve um tempo em que gigantes da música popular brasileira —atualmente desconhecidos fora dos círculos de especialistas— reuniram-se para gravar as crônicas poéticas de um músico-escritor-psiquiatra chamado Aldir Blanc, que se transformavam em belíssimas canções nas mãos geniais de um violonista mineiro, compositor e cantor, que era também engenheiro civil por formação: João Bosco.

Foi entre 1975 e 1979. João Bosco, embora exibisse um talento sem precedentes em vários quesitos, gostava de ser acompanhado pelos imortais Meira, Dino 7 Cordas e Raphael Rabello. Não satisfeito, frequentemente exigia ainda a presença do guitarrista Toninho Horta, para enriquecer a melodia. Na “cozinha”, figuravam dezenas de heróis ignorados pelo grande público, artistas brilhantes que a história esqueceu. Nenhum tributo tardio a eles será suficiente para lhes fazer justiça.

Entre as obras-primas dessa época destacam-se —minha opinião, claro— “Plataforma”, de 1977, e “Parati”, de 1979.

Em “Plataforma”, Dino 7 Cordas, Meira e João Bosco registram um dos mais belos diálogos da arte do violão brasileiro.

No clássico “Parati”, a crônica poética de Aldir Blanc transforma-se numa obra-prima ainda hoje sem rival, ou melhor, com várias rivais (todas porém de sua própria autoria).

Naquela época, referindo-se a João Bosco, Sérgio Ricardo disse:

“Sua melodia, seu ritmo, sua harmonia, seu senso de arranjo, ultrapassam os níveis aceitáveis pelos mestres. Seu violão é eletrizante, e suas levadas antológicas, por descreverem o ritmo brasileiro ‘nunca dantes navegado’, comprovando a diversidade de nossa rítmica de maneira rica e surpreendente. Sua voz alinha todo esse universo sonoro com modesta intervenção, dando chance para que os versos ecoem com a mensagem pretendida.”

No início dos anos 1980, desfeita a parceria com Aldir Blanc, alguma coisa aconteceu com João Bosco: sua voz perdeu aquele tom até então impessoal e discreto, acabou-se a “modesta intervenção”, como dizia Sérgio Ricardo. Surgiu um estilo frenético de improvisações vocais exageradas… E então nunca mais as coisas voltaram a ser como eram antes. Era o fim da idade de ouro da música popular brasileira.

Ouça as duas canções nos ícones abaixo e confira a ficha técnica dos LP’s nos links:

http://www.discosdobrasil.com.br/discosdobrasil/consulta/detalhe.php?Id_

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Luis Nassif

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